D. Pedro II incentivou as artes no Brasil independente

Por Crisley Santana
Do Jornal da USP

Em 1825, apenas três anos após a proclamação da Independência no Brasil, nasceu Pedro de Alcântara, o segundo imperador do País. Durante o reinado que durou 58 anos, o governante apoiou as áreas artísticas de diferentes formas, conforme aponta a dissertação de mestrado desenvolvida na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP por Bruno Iury Fracchia.

Diferentemente de reis absolutistas, como Luís XIV de França, em que até nos hábitos mais cotidianos, como ao acordar, eram seguidos rituais ligados à monarquia, o imperador brasileiro tinha duas “faces”, uma imperial e uma física, tornando possível analisar a pessoa por trás da posição monárquica, defende o pesquisador. Especialmente na face física, Fracchia analisou elementos que demonstram o apreço artístico de D. Pedro II.

As evidências estão em um diário que o imperador conservou — outros ele teria queimado, segundo o pesquisador —, em poemas escritos produzidos pelo próprio Pedro II e em uma peça grega traduzida por ele. Todos documentos divulgados somente depois de sua morte, demonstrando se tratar de exercícios de alguém que admirava a área das Letras.

Um tipo de arte em que D. Pedro mais demonstrou incentivo, entretanto, foi o teatro, tanto em âmbito privado como enquanto governante.

“Quando criança, ele fez teatro com as irmãs, como um passatempo, e também incentivou as filhas a fazerem porque o teatro era visto como uma ferramenta educativa no século 19”, comenta Fracchia.

Em seu diário também escrevia anotações com críticas às peças que assistia, além de sugerir a montagem de obras que gostava. “São exemplos desse Dom Pedro II como um agente ativo da cena teatral.”

Já o incentivo imperial se mostrou na frequência com que D. Pedro ia aos teatros e outros espaços artísticos. Em uma ocasião específica, assistiu a uma peça produzida pela escritora e dramaturga argentina Juana Paula Manso, o que, para o pesquisador, é uma forma do governante demonstrar um incentivo que vai além do investimento financeiro na área.

“Se machismo existe ainda hoje, imagine no século 19. Então o imperador ir assistir a peça de uma mulher é uma posição política. E também uma busca de exercitar a criatividade, de pensar artisticamente. Para mim, tudo isso é uma forma de demonstrar apoio”, disse Fracchia.

D. Pedro não concluiu políticas culturais diferentes das que existiam na época, embora tenha permanecido com medidas criadas pelo avô. “O que ele fez foi continuar o que o Dom João VI tinha feito, que eram as loterias [de aposta]. O dinheiro arrecadado ia para o teatro, a igreja ou para a educação. Dom João trouxe isso para o Brasil baseado em um modelo francês”, comentou o pesquisador.

O pesquisador e a pesquisa
Bruno Iury Fracchia é ator, com bacharelado em Artes Cênicas, habilitação em Teoria Teatral (Dramaturgia e Crítica) pela USP; pós-graduado em Educação Inclusiva com ênfase em deficiência intelectual pela Universidade Católica Dom Bosco; e mestrando em Artes Cênicas pela USP.

O desenvolvimento de sua dissertação contou com muitas leituras realizadas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e da ECA, além de consulta a arquivos de museus, como o Museu Imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

“Acho a abordagem interessante e bastante original, principalmente quando se sabe de todo o esforço feito naquele século para a criação de uma identidade nacional, que tinha em seu centro a figura do imperador. Fracchia parte dessa questão para investigar aspectos mais sutis, como a dicotomia entre o indivíduo e o homem público, os interesses pessoais e os deveres de chefe de governo”, comentou sobre a dissertação a professora Elizabeth Azevedo, da ECA, orientadora de Fracchia.

A dissertação será defendida, isto é, apresentada a uma banca avaliadora, no primeiro semestre de 2022.

Mais sobre Pesquisas em Andamento, desenvolvida pelo Ciclo22, no site ciclo22.usp.br.

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