“Colcha de Retalhos”

Jornalista critica o programa “SBT Realidade” sobre Portugal

Luis Cláudio Pinto de Almeida
Especial para o Mundo Lusíada

O programa SBT – Realidade em Portugal, apresentado por Ana Paula Padrão, tinha tudo para dar certo. Uma pena!

 

A moça inicia o programa retratando a vinda da família real para o Brasil em 1808, partindo de Lisboa e chegando diretamente à cidade do Rio de Janeiro, erro, o príncipe chegou em Salvador depois foi para o Rio de Janeiro. Análises, até certo ponto medíocres, se Dona Carlota Joaquina era uma mulher feia ou se D. João VI foi um glutão que não tomava banho, pouco importa, a magnitude histórica da vinda do Príncipe Regente e de toda a corte para o Brasil, foram deixadas de lado.

 

Divulgação

Ana Paula Padrão durante gravações na cidade do Porto.

Porque não inserir neste contexto histórico que da união, entre D.João e Dona Carlota Joaquina, nasceram nove filhos, um deles Pedro que seria imperador do Brasil? Nem mesmo para situar que Dom João foi coroado em 6 de fevereiro de 1818 dois anos após a morte da sua mãe. A partir da coroação, seu título ficou sendo Dom João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A cerimônia aconteceu no Rio de Janeiro. É bom lembrar que Dom João VI foi o único rei coroado nas Américas.

Ao chegar ao Brasil, Dom João declarou livres as indústrias brasileiras e abriu os portos do Brasil ao comércio estrangeiro. Ainda na Bahia, antes da família real vir para o Rio de Janeiro foi criada em 18 de fevereiro de 1808 a primeira Escola de Medicina (Escola de Cirurgia e Obstetrícia). Criou facilidades para a fundação de uma fábrica de vidros. Autorizou a criação da primeira companhia de seguros do Brasil.

Passou depois a residir no Rio de Janeiro. A Dom João VI deve-se a fundação da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, registrando-se também importantes movimentos militares que proporcionaram a ampliação de nossas fronteiras.

O programa SBT-Realidade, para minha surpresa, entrou naquela de comparar identidade entre brasileiros e portugueses, usando o ultrapassado comparativo de piadinhas entre os povos, afirmando ainda, ser o último elo que nos une. Esqueceram até que falamos a mesma língua. Fazer citações que os portugueses gostam tanto de comer que ficam pensando em que fazer entre as refeições, foi desastroso!

Os comparativos teriam que ser culturais e na atual relação econômica entre os dois países. No campo cultural, por exemplo, a quantas anda o acordo assinado entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, em outubro de 2005, na cidade do Porto, declaração conjunta que contempla diversos itens de interesse educacional. Os dois principais são a criação do Instituto Machado de Assis, no Brasil, e a promoção da língua portuguesa na era digital, com apoio do Instituto Camões.

No econômico, as parcerias entre a brasileira Petrobras e a portuguesa Petrogal, que recentemente descobriram petróleo na bacia de Santos, litoral paulista, ainda mais recente, o acordo assinado entre as portuguesas Galp, Partex e a brasileira Petrobras com o objetivo de encontrar petróleo na costa de Peniche ao norte de Lisboa. Em contrapartida, Portugal é um dos maiores investidores na economia brasileira. No turismo, nas telecomunicações, energia, instituições financeiras, comércio e indústria, contando-se ainda com os emigrantes que adotaram o Brasil como pátria. Surge assim, uma lusobrasilidade que os produtores do programa SBT-Realidade desconhecem ou omitiram. Portugueses e luso-descendentes geram milhões de empregos aos brasileiros.

Este é o tipo de identidade que nos interessaria, fazer chacotas dos portugueses, deveria estar no esquecimento de séculos que já se passaram, inaceitáveis nos dias de hoje. Porque não tratar o assunto com mais seriedade, isso tudo acompanhado por um alto funcionário do Instituto do Turismo de Portugal, Paulo Machado, que ao final do programa em seus créditos, intitula-se produtor do programa. Após projetarem D. João VI como uma figura caricata, abortam o tema dos duzentos anos, partindo para matérias fragmentadas, sem pés nem cabeça, já exploradas por tantos outros, uma colcha de retalhos, agora “Inês é Morta” e, o SBT – Realidade, perde a grande oportunidade de realizar um trabalho diferenciado. Foi um desrespeito a todos os portugueses e luso-descendentes sabedores que Dom João VI amava o Brasil e sonhava com a unificação das duas nações. Foi acima de tudo um sábio, que antes de partir para Portugal em 1821 deixou o Brasil entregue a seu filho, o príncipe D. Pedro.

Na hora da partida, disse a seu filho: “Pedro, se o Brasil se separar, antes que seja para ti, que me hás de respeitar, do que para alguns desses aventureiros”. Acho que já passou da hora das autoridades portuguesas reverem quais as reais funções do IPT/Icep e Instituto Camões no Brasil, assim como, em outras partes do mundo, afinal é dinheiro do povo português que ao meu ver está sendo mal fiscalizado, existem casos destas instituições, contratarem serviços no estrangeiro, não honrando-os e pior, sonegando impostos. A História de Portugal merece respeito!

 

Luis Cláudio Pinto de Almeida Jornalista – MTb32501

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