Clube Português homenageia João Alves das Neves e recebe acervo cultural de 10 mil livros

Por Vanessa Sene
Mundo Lusíada

O presidente do Clube Português Rui Mota presta homenagem a João Alves das Neves, na presença de familiares, esposa Idalina e filho João Ricardo.

 

O Clube Português de São Paulo aproveitou sua festa de aniversário para prestar uma homenagem ao ex-diretor cultural João Alves das Neves (1927-2012). O presidente da entidade Rui Mota e Costa renomeou a biblioteca do clube, Biblioteca João Alves das Neves.

Faleceu aos 85 anos, João Alves das Neves foi jornalista, professor universitário e escritor, tendo estudado no Porto, Lisboa, Paris e São Paulo. Também fundou e presidiu o Centro de Estudos Fernando Pessoa, dentre outras instituições, quando organizou três encontros culturais sobre os países de língua portuguesa. Dos cerca de 30 livros que publicou, seis são sobre Fernando Pessoa, além de outros sobre Camões, Padre António Vieira, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Mário de Sá Carneiro e também autores brasileiros.

O filho João Ricardo agradeceu a homenagem em nome da família, e anunciou durante a homenagem a doação de todo o acervo bibliotecário do pai à entidade. Ao Mundo Lusíada, ele falou do carinho que o pai tinha pelo Clube Português, mencionando que ninguém no clube sabia da iniciativa da família, bem como sua mãe Idalina ou ele próprio também não sabiam da homenagem que levaria o nome do pai à biblioteca do clube, até esta noite.

Segundo João Ricardo, trabalhos de Padre Antonio Vieira e Padre Anchieta estavam em peso nas suas coleções, sendo Fernando Pessoa a grande paixão de João Alves das Neves. “Ao longo dos anos, isso se transformou num transtorno de certa forma, porque não há espaço na casa. São cerca de 10 mil livros que ele veio recebendo de todos os tipos e autores”.

O levantamento bibliotecário ainda estava sendo feito por uma ex-aluna dele, mas a grande maioria das obras refere-se a Portugal. “Nós preferimos que este acervo venha para um lugar com importância cultural como o Clube Português, que foi muito importante para ele. Eu, aos 15 anos de idade, fui diretor juvenil do Clube Português e meu pai me colocou aqui. Ele amava o Clube Português, e acho extremamente justo que o acervo dele venha para cá” diz o filho, citando obras raríssimas no meio da coleção, registros bibliográficos que “muito provavelmente” não se encontra em nenhum lugar do mundo.

“Meu pai era fantástico, ele ia muito fundo nas coisas que queria, que gostava, e se dedicava. De qualquer maneira é um acervo que venha enriquecer quem queira estudar a cultura da língua portuguesa, e isso que é importante. Eu fico satisfeito que isso venha parar na casa que foi dele um dia, foi do seu coração”.

João Ricardo fica com memórias de uma infância marcada por jantares com imigrantes portugueses, alguns dos quais se transformaram em grandes empresários, e da forma como seu pai, de forma diferente, cresceu culturalmente. “Em determinada fase da minha vida, eu não achava isso tão bom. Mas hoje eu respeito tanto meu pai, fico tão contente com essa história porque ele deixou um legado, um legado que dinheiro não deixa, um legado cultural, de respeito, intelectual muito importante. Isso me dá muito respeito independente da pessoa que ele era, uma pessoa muito querida, com um coração enorme, não tinha outras ambições a não ser o desenvolvimento da língua e da cultura”.

Também citou o carinho que o pai tinha por todas as casas portuguesas. “Ele podia discutir por algumas coisas que não concordava, mas antes de mais nada, defendia a língua portuguesa. Era um grande cara, e morreu rindo” disse o filho sobre a fase em que o pai passou se recuperando em Portugal, depois de ter tido um AVC em Cascais. Segundo os médicos portugueses, seria fatal, mas depois de sete meses ele estava conversando e brincando. Nasceu e foi sepultado na aldeia portuguesa de Pisão de Coja (Arganil). “Tenho certeza que ele morreu com os principais autores da língua portuguesa em volta dele, e ele reconhecendo cada um deles, que era a grande paixão do meu pai”.

João Alves das Neves também foi professor da Faculdade Casper Líbero em São Paulo, da Universidade do Porto em Portugal, foi adido cultura no jornal O Estadão por muitos anos. Teve ainda uma exposição com coleções particulares exposto na sede da ONU em Paris, e reuniu diversos livros de diferentes acadêmicos além dos que ele próprio escreveu, em sua biblioteca particular, que agora estará disponível aos acadêmicos, estudiosos e curiosos, na biblioteca João Alves das Neves, no Clube Português de São Paulo.

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