Cidades portuguesas preparam candidatura a Capital Europeia da Cultura

Da Redação
Com agencias

Portugal vai acolher em 2027 a Capital Europeia da Cultura, juntamente com uma cidade da Letônia. Os dois países selecionados são responsáveis pela organização do concurso entre as suas cidades, devendo para isso publicar um convite à apresentação de candidaturas com seis anos de antecedência.

Após a apresentação de candidaturas, que devem focar-se na criação de um programa cultural com dimensão europeia, caberá a cada Estado-membro convocar um júri para uma pré-seleção das cidades candidatas, isto até cinco anos antes.

Já anunciaram que vão apresentar uma candidatura as cidades de Évora, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Coimbra, Aveiro, Braga, Guarda e Oeiras.

A decisão final será dos países, devendo ser tomada até quatro anos antes do título.

Portugal já recebeu a Capital Europeia da Cultura em três ocasiões: 1994 (Lisboa), 2001 (Porto) e 2012 (Guimarães).

Em Évora 

A candidatura da cidade de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027 quer diferenciar-se pela “identidade cultural alentejana” e agregar toda a região, segundo o presidente do município, Carlos Pinto de Sá.

Sendo obrigatoriamente candidaturas apresentadas por cidades, sublinhou o presidente do município, esta “será a de Évora”, mas os promotores também querem que “seja a de todo o Alentejo”.

Nesse sentido, revelou, já há “um conjunto de câmaras que está a participar no processo” de elaboração da candidatura, nomeadamente os municípios que integram a Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC).

“Queremos que seja uma candidatura que tenha em atenção aquilo que são as tradições culturais do território e as suas potencialidade e a capacidade para densificar a área cultural”, assinalou.

A atração de artistas, criadores e organizações para trabalharem na área da cultura e a ligação da cultura a outras áreas da criatividade, das ciências, da tecnologia e do ambiente são algumas das metas.

O presidente da Câmara de Évora realçou que 2020 será “o ano decisivo” para a elaboração formal da candidatura, indicando que haverá “uma participação ativa dos agentes, instituições, organizações e cidadãos”.

“Vamos ter agora uma reunião da comissão executiva para definir a equipe de missão, um conjunto de aspectos ligados à estrutura do projeto e, sobretudo, vamos lançar o modelo participativo”, adiantou o autarca.

Pinto de Sá ressalvou que, “de alguma maneira”, este processo já está “em marcha”, adiantando que o consultor britânico Tom Fleming, que colaborou, entre outras, com a Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012, já “está a tratar da dimensão europeia da candidatura e a fazer um trabalho de auscultação”.

Vão ser ouvidas “cerca de 50 personalidades de instituições, artistas e de várias áreas da cultura e não apenas em Évora, mas um pouco por toda a região”, indicou, salientando que esse trabalho terá, a partir de fevereiro, “maior visibilidade”.

Além da autarquia, a comissão executiva da candidatura integra a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, Agência Regional de Promoção Turística, Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional, Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, Direção Regional de Cultura, Fundação Eugénio de Almeida e Universidade de Évora.

Em Leiria

Castelo de Leiria, Portugal. Foto: Hugo Cadavez

Leiria defende que é a candidatura “mais preparada” de entre as cidades portuguesas que querem ser Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2027, diz o presidente do município.

A ambição surgiu em 2015 e ganhou corpo, envolvendo, a partir de 2018, 26 municípios das comunidades intermunicipais de Leiria, Oeste e Médio Tejo, “aproximadamente 700 mil pessoas”, sublinha Gonçalo Lopes.

A candidatura avançou como consequência da “projeção cultural extremamente grande [da cidade] nos últimos anos”, que gerou “na comunidade cultural, mas também na associativa e política”, a “ambição de tornar a cultura num fator de distinção do território”.

A criação de um novo território é aspecto chave da proposta de Leiria, sublinha o coordenador executivo da candidatura. “É muito positivo ver 26 presidentes de diferentes partidos, com diferentes históricos, que estão sentados à mesma mesa com uma vontade de colocar a cultura como motor dos seus territórios. Tem sido o dado mais significativo”, diz à agência Lusa Paulo Lameiro.

Os 26 municípios estão a constituir uma cooperativa, com capital social “superior a meio milhão de euros”, garantindo que, com ou sem CEC, “ter-se-á um veículo que aposta na cultura por um tempo indeterminado”, realça o presidente da Câmara de Leiria.

“Há um sinal claro que não é só um momento em que estamos interessados. Estes municípios querem mesmo apostar na cultura como fator de atração”, acrescenta Gonçalo Lopes, algo que Paulo Lameiro considera “mais importante que o título”.

Com 1.500 agentes culturais e 500 “embaixadores” registrados na plataforma criada pela Rede Cultura 2027, entidade que prepara o projeto, em 2020 a candidatura está a abrir-se à comunidade, “porque este tem de ser um processo com todas as pessoas, não somente com os agentes culturais e agentes políticos”, afirma o coordenador.

Gonçalo Lopes não duvida que “Leiria é a candidatura mais preparada”. “Começou mais cedo, tem muitas horas de trabalho. Tem equipas profissionais a trabalhar este tema nos últimos dois anos de maneira intensa. Há um investimento brutal no planeamento que irá produzir resultados. Tanto que se conseguiu unir um território de aproximadamente 700 mil pessoas”.

Para o autarca, “nenhuma das outras candidaturas” é comparável à dimensão populacional e territorial da Rede Cultura 2027, equiparável à União Europeia pelo sentido de “cidadania” e “coesão”.

“Temos cidades grandes como Leiria ou concelhos com dois mil ou três mil habitantes, como é o caso dos concelhos fustigados pelos incêndios de 2017. Esta heterogeneidade é um pouco parecida com o que acontece na Europa”, acrescentou.

Mas o coordenador assume que o processo é, por si só, revolucionário.

“Todas as cidades têm de desenvolver um plano estratégico municipal para a cultura. Isso está a acontecer em todas. Ou seja, não seria feito se não houvesse esta candidatura. Obrigado Bruxelas, obrigado comunidade europeia que, ao menos, contribui para que nós façamos o que deveríamos fazer mesmo que não houvesse uma candidatura”, disse Paulo Lameiro.

Em Aveiro

Também o presidente da Câmara de Aveiro está convicto de que a cidade vai ser a Capital Europeia da Cultura 2027, sendo um pretexto para elevar o patamar cultural e não “uma festa para depois arrumar os andores”.

Ribau Esteves baseia essa convicção de Aveiro ter “uma cultura diferente”, que cruza, por exemplo, o Museu de Santa Joana e a secular “Feira de Março” com o recente Festival dos Canais e com inspirações artísticas em suportes tecnológicos, a que não é alheio o facto de ter uma Universidade internacionalmente reconhecida nessas áreas do conhecimento.

“Assumimos as nossas lógicas e estamos a trabalhar com grande fulgor. Fizemos questão de fazer uma apresentação pública ‘fora da caixa’, em S. Jacinto, a freguesia mais distante, sem ser a entrega dos documentos na União Europeia, que deverá ocorrer em 2021, precisamente porque a nossa candidatura é também de inclusão e diferente”, justificou o autarca, em declarações à Lusa.

Segundo Ribau Esteves, a ideia da candidatura surgiu da “aposta forte” do executivo a que preside na Cultura: “Entendemos que os dois fatores principais diferenciadores de um território são exatamente a Cultura e o Ambiente, e é nestes dois pilares que assenta a nossa política turística e a nossa política de ‘marketing’ territorial”.

Tomada a decisão de avançar, apetrechou-se de recursos humanos, como a contratação de José Pina como diretor geral e programador do Teatro Aveirense, com vista a valorizar a programação regular, mas também para ser o gestor técnico e político da candidatura de Aveiro a Capital Europeia da Cultura 2027.

A Cultura passou a ter expressão nos eventos mais marcantes do município, como a Feira de Março, com mais de cinco séculos de história, em que a música ganhou “um peso forte, como nunca tinha tido”.

A par da tradição, foram surgindo novas iniciativas como os “Tech Dais” ou as “Criatech Artistic”, estruturadas no Aveiro Tech City” e agregadas várias manifestações no Festival dos Canais, que vai na quarta edição, “pensado também já na lógica da diferenciação do calendário de eventos principais”.

Segundo o autarca, Aveiro já está a mudar em resultado dessa aposta, citando o testemunho de um dirigente acadêmico que publicamente afirmou ter chegado, há cinco anos, para fazer o seu curso, a uma cidade “morta” e ao deixá-la sente uma urbe com dinâmica cultural e com uma multiplicidade de eventos.

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