Cheia de histórias para contar, autora portuguesa desembarca no Rio e participa da FLIP

Por Ígor Lopes
Do Rio para Mundo Lusíada

A escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso. Foto: Divulgação

A escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso esteve no Brasil de 1 a 15 de julho, onde participou na FLIP e apresentou os seus romances “O retorno” e “Os meus sentimentos”. De quebra, ainda realizou um encontro com leitores no Real Gabinete Português de Leitura, no Centro do Rio, além de visitar algumas livrarias na cidade. Em conversa com o Mundo Lusíada, Dulce contou detalhes do seu novo livro que está chegando ao Brasil.

Quando escreveu o livro “Os meus sentimentos”, Dulce não imaginava que o título iria lhe render, em 2009, o prêmio da União Europeia para a literatura. Na sua experiência com “O retorno”, a história de sucesso não seria diferente. A obra foi eleita o livro do ano em Portugal, em 2011. Ao todo, foram vendidos mais de 15 mil exemplares. Tantas distinções destacam a qualidade da escrita dessa autora que nasceu, em 1964, em Trás-os-Montes, interior norte de Portugal.

Para levar ao mundo o seu talento, Dulce decidiu investir, este ano, na Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), uma das mais tradicionais do Brasil. O evento, que tem lugar anualmente a 250 quilômetros da cidade do Rio, reúne nomes importantes do cenário literário mundial, numa cidade que mantém até hoje a arquitetura e tradições do passado.

História para ser contada

Sobre “O retorno”, Dulce afirma que viveu os acontecimentos históricos que relata, ainda que o romance seja de ficção. “Aquela família não é a minha e eu não me disfarcei de Rui. Mas aqueles acontecimentos – a guerra civil em Angola, a descolonização, o alojamento em hotéis – foram as razões pelas quais quis ser escritora. Tinha 11 anos mas tive a percepção de que o que estava a viver tinha de ser contado. Sempre soube que ia escrever este livro mas não queria utilizar o tema sem ter uma proposta de reflexão. Percebi então que teria de ser um livro sobre a perda. A temática será o fim do Império Português em 1975 e, com esse fim, a vinda para Portugal do meio milhão de pessoas que viviam nas ex-colônias”, revela Dulce.

O “estilo romântico” parece estar vivo em suas veias e pulsa forte a cada processo criativo. Para ela, escrever um romance é uma prova de resistência. “Neste romance o mais difícil talvez tenha sido encontrar a voz de Rui, o adolescente narrador. Durante muito tempo escrevia o que pensava ser um adolescente e quando relia encontrava as palavras de uma mulher de quarenta anos. Pensei que nunca seria capaz de ser outra vez ingênua, inconformada e combativa como os adolescentes em geral são. O livro demorou mais de dois anos a ser escrito e atrevo-me a dizer que demorou 20 anos a ser pensado”, sublinha a autora que esteve pela primeira vez na FLIP, mas que já participou na Bienal do Livro do Rio.

“Parto para a FLIP como parto para qualquer coisa na vida: espero sempre que aconteça o melhor. A FLIP e os festivais são pretextos para um autor ganhar mais leitores. São os leitores que completam o que é escrito. Espero que os meus livros tenham muitos leitores, essa é a minha única expectativa”, conta a escritora lusitana Dulce, que reconhece que o festival tem muito prestigio. “Qualquer autor se deve sentir honrado por ter participado. Fiquei muito honrada com o convite”, afirma.

No Brasil, “O retorno” pode ser comprado nas livrarias por R$ 39 e, “Os meus sentimentos”, por R$ 46, em todas as livrarias. Ambos sob a chancela da editora portuguesa Tinta-da-China, que já atua no mercado editorial brasileiro.

Passado que virou livro

A escritora passou a infância na Angola, para onde foi viver aos seis anos de idade. Apenas em 1975, após a descolonização e o início da guerra civil, regressou a Portugal. Atualmente, mora na capital portuguesa. Formou-se na Faculdade de Direito de Lisboa e chegou a exercer advocacia. Mas o que ama mesmo é a literatura. Já no seu primeiro livro, “Campo de Sangue”, recebeu o Grande Prêmio Acontece de Romance.

Outras distinções fazem parte do seu currículo. “Campo de Sangue” (2002), “Os Meus Sentimentos” (2005) e “Até Nós” (2008), já traduzidos na França e em outras línguas, valeu à escritora a condecoração francesa de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras, do Ministério da Cultura francês. Criada em 1957, a condecoração corresponde a uma das mais altas distinções honoríficas da República Francesa e homenageia personalidades que se destacaram pela sua contribuição na difusão da cultura na França. Na galeria de agraciados figuram nomes portugueses como Antônio Lobo Antunes e Mariza.

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