Brasileiro desconhece os portugueses, diz historiadora

 

Arquivo Pessoal

>> Autora do livro "Os Portugueses", Ana Scott defende uma maior interação dos brasileiros com o Portugal de hoje. E conta como foi até a realização de sua obra.

Por Vanessa SeneMundo Lusíada

Para a historiadora Ana Silvia Scott, o brasileiro desconhece Portugal. A brasileira acaba de lançar a obra “Os Portugueses”, pela Editora Contexto, e defende que, apesar do país ter sido colonizado por portugueses, o brasileiro acha que conhece o português por poucas referências como “o português da padaria”.

“Os hábitos, a visão de mundo, a maneira de se relacionar com os outros, sobretudo a formalidade que é muito característica dos portugueses, um certo pessimismo que chama a atenção dos brasileiros. Tudo isso me parece ser pouco conhecido da maioria dos brasileiros. Mesmo a cultura, a música, a literatura, o cinema não chegam a se fazer presente entre nós. Ultimamente, no esporte as informações chegam mais regularmente, mas isso não se repete em outras áreas” defende a autora.

Segundo ela, na média, os brasileiros conhecem pouco da História de Portugal por conta dos anos na escola em que aprenderam sobre temas clássicos e mais conhecidos como a colonização, a independência, mas depois pouca coisa mais se conhece, além de imagens estereotipadas. “Falo isso com base não apenas nas pesquisas que fiz para o livro, mas também a partir das próprias conversas que tenho com alunos, amigos ou conhecidos”.

A sinopse do livro, que segue a coleção Povos e Civilizações, divulga: “Quem acredita que conhece os portugueses porque tem como vizinho o ‘português da padaria’, come bacalhau e doces muito açucarados e leu trechos de Camões no colégio, de fato, não os conhece. Sua cultura é sofisticada, a literatura tem nomes como Fernando Pessoa e Saramago e, pasmem, nem todos eles se chamam Manoel, Joaquim ou Maria”.

A intenção da autora foi passar pela história para compreender mais sobre o Portugal contemporâneo, o país do fado, de Salazar, de Dom João VI, de José Saramago, do Cristiano Ronaldo. Ela trata ainda da importância das colônias e do Brasil, e das crises econômicas. Para o turismo, a autora traz as influências romanas e árabes, que legaram esculturas e arquiteturas em Lisboa e Porto, por exemplo, além da paisagem portuguesa, o vinho e a culinária.

“Foi muito oportuna a possibilidade de poder mostrar um pouco da riqueza e diversidade desse povo, sua história, as mudanças profundas pelas quais passou nas últimas décadas, desde a Revolução dos Cravos até a transformação no ‘Portugal Europeu’. Penso que, apesar do intenso fluxo migratório dos brasileiros para Portugal, ou mesmo a possibilidade dos brasileiros fazerem turismo em terras lusas, não é suficiente para que nós conheçamos Portugal ou os Portugueses”.

Segundo Scott, a visão negativa da colonização portuguesa no Brasil também é abordada, procurando contextualizar o processo de expansão e colonização, informando ao leitor que não é recomendável ter uma concepção simplista do processo. Mas segundo ela, este é um problema mais profundo. “Infelizmente essa visão negativa que alguns brasileiros têm também pode ser reflexo das aulas de História, muitas vezes maçantes e que insistem no sistema de decorar nomes e datas, que não estimulam nossos alunos a ter uma visão mais crítica sobre o processo histórico que levou à colonização européia na América e, em especial, a colonização portuguesa no Brasil. Ainda hoje vigora a idéia muito difundida de colônias de exploração (as ibéricas) e colônias de povoamento (inglesa) que ‘explicaria’ o diferente grau de ‘desenvolvimento’ dos países americanos. É preciso mostrar que a situação é muito mais complexa” defende ela, divulgando que o livro traz argumentos sobre o assunto.

Vivência em PortugalA autora já morou por duas ocasiões em Portugal. No Porto e em Braga, no início e no fim da década de 1990, quando pode coletar material para a elaboração de sua tese de Doutorado, defendida no Instituto Universitário Europeu (Florença/Itália) em 1998. Foi professora na Universidade do Minho – no Mestrado em História das Populações e no Mestrado em História das Colonizações e Migrações, além de ser Investigadora do NEPS (Núcleo de Estudos de População e Sociedade), na mesma Universidade. Atualmente, é professora no Programa de Pós-Graduação da Unisinos (Rio Grande do Sul), e pesquisadora do CNPq.

Já sua relação com a comunidade portuguesa no Brasil resume-se a contatos esparsos, quando realizou uma pesquisa, no início de 2000, sobre a colonização no norte do Paraná. “Me interessei por trabalhar com os estrangeiros, especialmente os de origem portuguesa que se radicaram na região de Maringá, a partir da década de 1930”. Mas seu principal interesse estava nos séculos XVIII e XIX.

Ana Scott é descendente de italianos, por parte paterna e materna. Mas o interesse por Portugal e pelos portugueses veio pela profissão de historiadora, que desenvolve há mais de duas décadas. “Mantenho contato regular, através de investigação, com colegas e Universidades portuguesas, e pelo menos a cada dois anos tenho passado alguns períodos em Portugal. Além disso, desde o período que morei lá mantenho muitos amigos, e isto serve para renovar e alimentar os laços com Portugal. Cada vez que viajo para lá vou ao encontro de grandes e queridos amigos, cujo apoio e a amizade foram fundamentais também a ajudar a escrever ‘Os portugueses’”.

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