Bispo recorda luta contra a pandemia num Santuário de Fátima “vazio mas não deserto”

A imagem da Nossa Senhora é transportada num andor durante a procissão do Adeus no final das celebrações religiosas da Peregrinação Internacional Aniversária de Maio, que este ano é celebrada sem a presença física de peregrinos devido à covid-19, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Fátima, Ourém, 13 de maio de 2020. PAULO NOVAIS/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

A peregrinação internacional de maio, que aconteceu nesta terça e quarta-feira, se realizou pela primeira vez na sua história sem peregrinos no recinto do Santuário de Fátima, devido à pandemia da covid-19, apenas com pessoas diretamente implicadas nos diferentes momentos celebrativos e alguns convidados.

No dia 12, o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, recordou durante a peregrinação internacional de maio a luta contra a pandemia, numa homilia feita perante um recinto de oração “vazio, mas não deserto”.

“Nesta hora de provação, não podíamos esquecer a representação de quem mais sofreu e continua a sofrer e dos que mais lutaram e lutam pela saúde de todos”, afirmou o cardeal António Marto, durante a homilia do primeiro dia de comemorações.

O cardeal lembrou os mortos e seus familiares, “os doentes, todos os profissionais de saúde, cuidadores, idosos, pobres, famílias que cuidam ou que choram, sacerdotes, trabalhadores da proteção civil, dos transportes, da limpeza, da alimentação e tantos outros que não se pouparam a sacrifícios, como bons samaritanos”.

A cerimônia decorreu com uma procissão de velas sem o “mar de luz” habitual no Santuário, tendo sido colocadas 700 luminárias no chão do recinto.
Sentindo a “noite escura que pesa sobre o mundo abatido por uma pandemia global”, António Marto admitiu que é estranho ver uma noite de 12 de maio “tão diferente” de outras noites de peregrinações naquele mesmo recinto.

No entanto, “o recinto do santuário estará vazio, mas não deserto”, vincou, salientando que este momento, mesmo com as pessoas na sua casa, é vivido “em espírito de peregrinação”.

Dentre o simbolismo nos vários momentos celebrativos, 21 velas representavam as dioceses de Portugal, um ramo de flores nesta quarta-feira evoca os emigrantes e peregrinos dos diversos pontos do mundo.

Papa
O papa Francisco pediu uma oração particular “pelas vítimas sem conta” da pandemia de covid-19, numa mensagem dirigida aos peregrinos de Fátima.

“Uma oração particular, peço-vos – enquanto vos asseguro a minha – pelas vítimas sem conta desta pandemia de covid-19 e por todos os defuntos”, afirmou o papa Francisco, numa mensagem lida pelo bispo de Leiria-Fátima, o cardeal António Marto, durante as celebrações da peregrinação internacional de maio.

Na mensagem, o líder da Igreja Católica recordou os “doentes, pobres e abandonados”, bem como os profissionais e voluntários “empenhados em servi-los”.

“Somos limitados, tão limitados, tão pequeninos que um inesperado vírus pôde facilmente transtornar tudo e todos”, notou.

O papa Francisco recordou também a peregrinação em Fátima sem peregrinos, devido à pandemia. “Por força das circunstâncias, a 13 deste mês de maio, não vos será possível cumprir na forma habitual a peregrinação até à Cova da Iria. Sei, porém, que aí vos encontrais igualmente, embora apenas de alma e coração”, referiu.

13 Maio
Na manhã desta quarta-feira, o bispo de Leiria-Fátima alertou que já se está a gerar uma pandemia mais dolorosa do que a da covid-19, “a da extensão da pobreza”, pedindo também solidariedade para combater “o vírus” da indiferença e do individualismo.

“A pandemia, com a longa interrupção da vida normal, traz terríveis consequências econômicas, sociais e laborais. Já está a gerar uma pandemia mais dolorosa, a da extensão da pobreza, da fome e da exclusão social”, afirmou o cardeal António Marto, durante a homilia do segundo e último dia da peregrinação.

Durante a intervenção, o cardeal lembrou que as consequências econômicas da pandemia já batem “à porta das Caritas diocesanas e de várias paróquias e soa a sinal de grito de alarme”.

Essa “pandemia” social, notou, é “agravada pela cultura da indiferença e do individualismo”, salientando que “o vírus da indiferença só é derrotado com os anticorpos da compaixão e da solidariedade”.

Esta situação “dramática e trágica” expõe também “a vulnerabilidade e fragilidade da condição humana”, frisou, considerando que essa fragilidade também exige uma união entre povos e classes, já que a covid-19 “ultrapassa todas as barreiras geográficas e todas as condições sociais, econômicas, hierárquicas”.

Afirmando que “ninguém está imune”, António Marto frisou a necessidade de solidariedade perante uma pandemia que revela a interdependência entre seres humanos.

Para António Marto, este é também um tempo para refletir e repensar os hábitos e estilos de vida, vincando que “não se pode viver só para consumir”.

Perante um recinto de oração vazio, o cardeal também voltou a afirmar que, apesar de para muitos esta ser uma peregrinação triste por se realizar num santuário de Fátima fechado, é também uma oportunidade para “aprender como é uma peregrinação em estado puro, o peregrinar com o coração”.

“Há coisas que se aprendem melhor na calma e outras na tempestade”, disse, citando a escritora norte-americana Willa Cather.

As cerimônias foram transmitidas nos canais do Santuário de Fátima na internet, em www.fatima.pt, no canal de Youtube e na página de Facebook.

A imagem de Nossa Senhora durante a Procissão das Velas nas celebrações noturnas da Peregrinação Internacional Aniversária de maio, que este ano é celebrada sem a presença física de peregrinos, devido à covid-19, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, 12 de maio de 2020. PAULO NOVAIS/LUSA

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