As mensagens comemorativas do Dia Mundial da Língua Portuguesa celebrado a distância

Mundo Lusíada
Com agencias

O machimbombo, em Moçambique; o autocarro em Angola e Portugal; no Brasil, o ônibus, ou na gíria das ruas, o busão. A par de todas as diferenças de vocabulário ou organização textual, falantes da língua portuguesa estão numa área de 285 milhões de falantes espalhados pelo mundo, em nove países que têm o idioma como oficial. Trata-se do quinto mais usado no mundo, o terceiro no Ocidente e o primeiro no Hemisfério Sul.

Desde 2009, países da comunidade lusófona decidiram que 5 de maio deveria marcar o Dia Internacional da Língua Portuguesa. Em novembro do ano passado, a Unesco ratificou a data como Dia Mundial da Língua Portuguesa, para celebrar a pluralidade como valor identitário de tanta gente.

Personalidades do mundo lusófono da política, música ou desporto participaram de um evento virtual para comemorar o primeiro Dia Mundial da Língua, uma parceria entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), representação portuguesa na UNESCO, ONU e RTP.

“Um mundo numa língua” foi o pano de fundo da celebração online, que aconteceu um ano após a proclamação da data pela Organização das Nações Unidas para Ciência e Cultura, Unesco. E contou também com mensagens do presidente de Portugal e Secretário-Geral da ONU.

Também, de Lisboa, o secretário-executivo da CPLP, Francisco Ribeiro Telles, declarou que o atual momento de crise  pelas incertezas devido à pandemia da covid-19 tem impacto na língua portuguesa. Ribeiro Telles mencionou o reflexo negativo da pandemia em agendas de diversos setores que foram forçados a reduzir o ritmo de atividades em nações lusófonas.

O dia é assinalado ainda com o lançamento de um concurso literário internacional para estudantes de língua e literatura portuguesas espalhados pelo mundo. Os “Contos do Dia Mundial da Língua Portuguesa”, iniciativa portuguesa do Camões Instituto e Porto Editora que desafia os alunos de português a escreverem um conto inédito, de uma a três páginas.

Posição sólida da língua
O português ocupa uma posição sólida entre as dez línguas mundiais mais importantes pelo número de falantes de língua materna e presença global, mas apresenta como debilidades a economia e falantes de língua segunda, segundo estudo.

“Quaisquer que sejam os critérios utilizados para ordenar a importância das línguas nos nossos dias, a língua portuguesa mantém uma posição sólida entre as dez línguas mundiais mais importantes”, conclui o estudo “A língua portuguesa como ativo global”.

Coordenado pelo investigador do ISCTE Luís Reto para o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, o trabalho foi divulgado a propósito do Dia Mundial da Língua Portuguesa.

O estudo, que está disponível para ‘download’ gratuito neste 5 de maio, dá continuidade aos anteriores “O potencial econômico da língua portuguesa” (2012) e “Novo Atlas da Língua Portuguesa” (2016) e pretendeu elaborar um primeiro índice das línguas mundiais mais relevantes, partindo de uma base de 110 línguas com mais de um milhão de falantes.

O trabalho avaliou critérios como o número de falantes de língua materna (L1) e língua segunda (L2), o impacto global (economia, recursos naturais, comunicação, influência mundial) e o potencial de cada língua.

“Estando sempre presente em todas as ordenações ocupando as 7.ª e 6.ª posições, apresenta duas dimensões de alguma debilidade (a economia e falantes L2), ostentando, porém, pontos fortes ao nível dos falantes maternos, dos recursos naturais e da presença global”, refere-se na investigação.

O português surge em 7.º lugar quando considerados individualmente os critérios relativos ao número de falantes L1 e L2 e ao impacto global e sobe para a 6.ª posição, quando a estes dois critérios combinados se junta o potencial.

A classificação apresenta um primeiro grupo de línguas que são simultaneamente fortes em número de falantes, na economia e na influência global: mandarim, inglês, espanhol e árabe.

Os autores do estudo consideram como “primeira grande fraqueza” para uma maior imposição do português a nível mundial as fragilidades econômicas dos Estados que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Os dois grandes países africanos (Angola e Moçambique) enfrentam ainda níveis de desenvolvimento econômico e humano muito abaixo do seu potencial e o Brasil, a nona potência econômica do mundo, não teve o crescimento econômico previsto que apontava para que hoje fosse já a quinta economia mundial”, adianta a análise.

Por seu lado, prossegue, Portugal “foi um dos países mais atingidos pela recente crise econômica e só agora começou a alcançar os níveis de desenvolvimento pré-crise”. De acordo com os investigadores, esta fragilidade econômica resulta numa falta de investimento “em larga escala” numa política da língua em toda a CPLP.

O estudo aponta, por outro lado, como fatores favoráveis à expansão do português as projeções demográficas para os países da comunidade lusófona, bem como a sua riqueza em recursos naturais e localização geoestratégica.

“Os países falantes maternos do português estão presentes em quatro continentes e são uma comunidade linguística determinante em dois deles, América e África, o que permite tecer uma rede de influência e de diplomacia de enorme alcance”, refere.

Por isso, sustentam os autores do documento, “torna-se urgente que os diversos estados da CPLP, com particulares responsabilidades para Portugal Brasil, disponibilizem recursos que permitam efetivar uma política de língua que vá muito para além do ensino como língua das diásporas, de herança ou de cultura”.

“Uma língua que detém a 6.ª ou 7.ª posição mundial em falantes maternos e que duplicará o número atual até ao fim do século tem de investir os seus recursos com uma ambição maior”, consideram.

Sublinham, por isso, a necessidade de “desenvolver um ensino massivo de português como língua segunda” em mais países e comunidades do que as atualmente abrangidas pela rede do instituto Camões ou dos centros culturais do Brasil.

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