Universidades de língua portuguesa podem implantar sistema de reserva de vagas

Por Marina Rievers Portugal Digital

Wilson Dias – 21.nov.2006/ABr

Belo Horizonte (MG) >> O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Ronaldo Tadeu Pena, no 3º Fórum Educacional do Mercosul, em Novembro de 2006.

Eleito por aclamação no mês passado, o novo presidente da Associação das Universidades dos Países de Língua Portuguesa (AULP), o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Tadeu Pena, terá seu primeiro compromisso no cargo na próxima reunião do Conselho da entidade programada para o dia 9 de fevereiro de 2009, em Lisboa.

Numa entrevista ao Portugal Digital, ele falou dos desafios de comandar pelos próximos três anos a organização que congrega 159 universidades e instituições de ensino e pesquisa de nível superior dos oito países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), além de Macau.

Criada há 20 anos, a AULP promove a cooperação entre instituições por meio do intercâmbio de professores, pesquisadores e estudantes, estimular a reflexão sobre a função do ensino superior e o desenvolvimento de projetos conjuntos de investigação científica e tecnológica, bem como o intercâmbio de informação. A associação também articula entre seus membros e associados no fortalecimento da língua portuguesa.

Portugal Digital: Qual o quadro atual de cooperação entre as universidades integrantes da AULP? Ronaldo Pena – Atualmente, a cooperação inter-universidades no espaço dos países de língua portuguesa ainda se dá numa base de relacionamento direto. Embora exista há 20 anos, nos parece que a AULP ainda não consegue materializar um projeto coletivo, multi-institucional. Dessa forma, no momento em que assumimos a direção da AULP, podemos nos referir apenas às relações de nossa universidade – a UFMG – que tem atualmente 17 convênios gerais de cooperação formalizados com instituições de Portugal, Angola, Cabo Verde e Moçambique.

No que se refere a projetos de pesquisa apoiados por convênios bilaterais, temos hoje com Portugal dois projetos CAPES-GRICES em andamento e mais cinco projetos CAPES-FTC submetidos a essas agências.

Com Moçambique, participamos de seu programa de formação e desenvolvimento de recursos humanos para a área de Ciência e Tecnologia (mestrado e doutorado em instituições públicas brasileiras), apoiado pelo CNPQ e pelo Governo de Moçambique. Ainda participamos de um outro programa apoiado pela CAPES, o Programa de Iniciação Científica de alunos de Moçambique e Angola.

Por fim, cabe destacar que a UFMG possui atualmente um número significativo de estudantes provenientes de países de língua portuguesa matriculados em seus cursos de graduação: Angola (13), Cabo Verde (16), Guiné Bissau (15), Moçambique (1), Portugal (4).

PD – Que resultados de destaque foram alcançados com esses 20 anos de cooperação entre as universidades? Ronaldo Pena – Talvez não seja apropriado examinar a cooperação entre as universidades dos países de língua portuguesa sob a ótica de possíveis "grandes resultados". Eu creio que essa cooperação, que vem se consolidando de maneira indiscutível, é constituída principalmente de eventos pouco visíveis quando examinados isoladamente: alunos se formando, pesquisadores se reunindo e gerando publicações conjuntas, eventos científicos sendo organizados, e outros. Em minha opinião, o grande resultado obtido ao longo desses anos foi o estabelecimento de um fluxo de pessoas e idéias, que agora tende a não apenas permanecer, como a se avolumar.

PD: Qual é o maior desafio para consolidar a atuação da instituição no que se refere às pesquisas científicas? Ronaldo Pena – Acredito que o desafio central, no que diz respeito à cooperação na pesquisa, seja o estabelecimento de um número maior de parcerias de longo prazo, que ainda ocorre em menor quantidade do que se esperaria. Em grande parte, a dificuldade se origina de uma história dos meios acadêmicos de nossos países de se abrirem para o contato com outros povos, falantes de outras línguas – o que é positivo -, ao mesmo tempo em que houve um certo descuido, no passado, em cultivar as relações justamente com os povos com língua e história comuns. Para o futuro, tudo indica que esse quadro será modificado: a própria história e cultura comuns aos falantes da língua portuguesa tem sido, nos últimos anos, um fator que em muito contribui para esse estreitamento de relações que é tão necessário quanto irreversível.

PD – Quais são seus projetos a curto e a médio prazos à frente da AULP? Ronaldo Pena – Tenho pensado em uma série de propostas a serem submetidas aos membros do Conselho, nesta primeira reunião em fevereiro. Posso citar alguns como o oferecimento de atividades de capacitação e treinamento de técnicos e docentes das universidades membro da AULP para a implantação de pólos de educação à distância e montagem de planos piloto.

Gostaria também de discutir o assessoramento da montagem de projetos pedagógicos de cursos de educação a distância destinados à formação de tecnólogos nas áreas de engenharia, principalmente as voltadas para o saneamento, farmácia, medicina, veterinária, saúde coletiva, entre outros.

Acredito que será possível também propor o fornecimento de orientação técnica para a montagem de um sistema de tele-saúde com cursos, diagnósticos, treinamento e capacitação e ainda disponibilizar uma reserva de vagas para estudantes das universidades da AULP nos cursos de graduação e especialização à distância realizados por universidades membros. No caso de universidades brasileiras, tais cursos realizam-se através do projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB).

PD – Qual a sua opinião sobre o peso da reforma ortográfica da língua portuguesa no trabalho de cooperação entre as universidades? Ronaldo Pena – De forma direta, no curto prazo, essa reforma não deverá alterar de maneira significativa as condições para a cooperação. A longo prazo, entretanto, o aumento do fluxo de produção cultural entre os países de língua portuguesa, que certamente irá ocorrer, deverá aumentar o conhecimento e o interesse mútuos das populações de nossos países – de forma que deverá constar mais fortemente, no imaginário das pessoas, a idéia de como seria viajar pelos demais países de língua portuguesa, ou de como seria viver neles, ou simplesmente de como são eles.

A demanda natural por mais contato entre nossos povos vai criar uma pressão sobre nossas universidades – que são instituições ímpares no que diz respeito à sua capacidade e ao seu papel de tornar material a cooperação e o contato entre povos. Assim, acredito que dentro de uma geração a AULP terá desafios muito maiores que os de hoje. Nosso projeto na presidência é principalmente construir as bases para esse futuro.

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