Mundo LusíadaCom Lusa
Miguel A.Lopes – 11.fev.08/Lusa
VIOLÊNCIA >> Presidente do Parlamento timorense, Fernando La Sama, conversa com jornalistas sobre a situação política após o atentado que o presidente do Timor sofreu em casa.
O presidente em exercício do Timor Leste, Fernando La Sama de Araújo, anunciou em 18 de fevereiro a chegada ao país de oficiais do FBI, para cooperarem com a Procuradoria-geral da República nas investigações criminais dos atentados contra o presidente timorense José Ramos Horte, e o primeiro-ministro Xanana Gusmão.
Segundo ele, os “peritos internacionais” vão colaborar com as autoridades de Justiça do Timor Leste na investigação criminal dos ataques. “Os peritos são necessários para que se possa efetuar uma investigação profunda”, destacou La Sama, explicando que não atuarão de forma autônoma mas sim em colaboração com a Procuradoria.
De acordo com o chefe do Estado-Maior, brigadeiro-general Taur Matan Ruak, as operações de captura, que serão lançadas “em breve”, podem conduzir os suspeitos à Justiça no prazo de um mês, garantindo que o Estado timorense ”não seja afetado na sua credibilidade”.
O presidente interino disse ainda “que não há mais diálogo” com o grupo de rebeldes responsáveis pelos ataques, agora liderados pelo ex-tenente Gastão Salsinha, que chefiou a emboscada a Xanana Gusmão. O primeiro-ministro Xanana Gusmão pediu ao Parlamento Nacional, no mesmo dia 11, a aprovação do toque de recolher obrigatório, em todo território, entre 20h e 6h.
O presidente Ramos Horta (Nobel da Paz) está se recuperando em um hospital na Austrália. Segundo informações da chefe do gabinete da presidência, Natália Carrascalão, o estado de saúde de Ramos Horta é “grave, mas muito estável”. Ao contrário do que a mídia divulgou, o presidente timorense não foi induzido ao coma e esteve sempre consciente.
FuneralNa quinta 14 de fevereiro, Alfredo Reinado foi levado para ser sepultado, em seu próprio quintal, por uma aglomeração que o considerava um "herói" e um "campeão" divulgou a Lusa. Centenas de pessoas participaram de seu funeral.
As pessoas, enchendo a rua, apertadas contra as grades da casa sob um calor sufocante, lançavam flores e velas para dentro de baldes de plástico que passavam sobre suas cabeças, de mão em mão, como se lançassem moedas após um espetáculo de rua.
Para o empresário Vítor Alves – tio que cuidou do rebelde desde os 3 anos de idade – o envolvimento no atentado não diminuiu a aura do major fugitivo. Também ex-paraquedista do Exército Português, Alves disse não saber como ocorreu o fato. “Deu-se isto, o homem está morto. Se fez asneira, está morto e vai ser enterrado com todas as asneiras que ele fez. Se estava fazendo uma ação de bem, também vai ser enterrado com todas as ações de bem", acrescentou o tio do major. Aos 39 anos, Reinado era ex-comandante da Polícia Militar timorense, desertor das Falintil – Forças de Defesa de Timor Leste (F-FDTL), foragido da justiça desde 2006, e acusado de crimes de homicídio, rebelião contra o Estado e posse de material de guerra.
O presidente timorense sofreu um atentado, na manhã do dia 11, próximo de sua casa. O ataque acabou acertando Ramos-Horta com um tiro no estômago e outro no braço. Para o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, que também foi alvo de ataque no mesmo dia na capital Díli, as ações são uma tentativa de "golpe de estado". O seu carro foi alvo de tiros, mas não se feriu, já o ataque contra Ramos Horta matou um segurança do presidente, e o líder do atentado Reinado. “É preciso fazer uma investigação mais profunda, mas o golpe que foi feito foi uma tentativa para liquidar o presidente da República e o primeiro-ministro”, afirmou Fernando La Sama, presidente do Parlamento timorense.
InternacionalA notícia foi manchete em jornais de todo o mundo. Em Portugal, o primeiro-ministro José Sócrates declarou-se “chocado” com o acontecimento. Disponibilizando ajuda, Sócrates comentou um eventual aumento do número de militares da GNR [oficiais da polícia portuguesa] em Timor-Leste, que deverá passar por avaliação da ONU.
Em comunicado, a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) diz ser um momento de “inquietação e angústia para os povos e autoridades dos Estados que integram a CPLP”, desejando recuperação rápida e solidariedade por parte de todos países membros.O ministério francês das Relações Exteriores condenou os ataques que visam “desestabilizar o país e pôr em causa os esforços de reconciliação” realizados pelo governo de Ramos Horta.
Em Washington, o porta-voz Sean McCormack classificou a ação como “uma tentativa de atrasar o relógio para os cidadãos de Timor Leste” e expressou a solidariedade dos Estados Unidos. Também o governo espanhol condenou a “tentativa de golpe de Estado”, reiterando “seu compromisso de continuar a apoiar os esforços dessa república para consolidar as suas instituições e avançar no seu desenvolvimento econômico e social”.