Parque alerta para queda no turismo por causa da instabilidade em Moçambique

Da Redação
Com Lusa

Bandeira_MocambiqueO diretor do Parque Nacional da Gorongosa (PNG) alertou para o desafio da sustentabilidade financeira da principal área protegida de Moçambique, em resultado do impacto no turismo da instabilidade que se vive no país.

Discursando em Maputo na gala de condecoração do Estado português ao PNG, Mateus Mutemba afirmou que o restauro da Gorongosa “não é uma obra acabada” e tem pela frente “o desafio da sustentabilidade financeira, num contexto em que o turismo tem estado a decrescer devido à instabilidade”.

Mateus Mutemba não avançou dados sobre o impacto no PNG da crise política em Moçambique, quando passam cinco dias desde que o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, reapareceu publicamente na Gorongosa, após quase duas semanas em parte incerta e uma série de incidentes dos seus homens armados com as forças de defesa e segurança.

Foi também na Gorongosa que o líder da oposição se refugiou durante a crise, entre 2013 e 2014, que levou a que as mesmas partes se confrontassem militarmente, com um balanço desconhecido de mortos, milhares de deslocados e danos irreparáveis na economia da região centro de Moçambique.

No discurso da atribuição das insígnias ao PNG como membro honorário da Ordem do Mérito, numa condecoração concedida a 10 de junho pelo Presidente português, o diretor do parque elencou também como um desafio próximo “o incremento dos assentamentos humanos e os impactos decorrentes das suas várias atividades”.

A condecoração visou cinco personalidades do PNG, entre os quais o seu diretor e também o filantropo norte-americano Gregory Carr, cuja fundação assinou em 2005 uma parceira público-privada com o Estado moçambicano para a gestão da área protegida durante vinte anos.

“Partilhamos esta condecoração com país inteiro, é uma fonte de orgulho para nossa pátria”, declarou Mateus Mutemba, lembrando a colaboração com entidades portuguesas na construção de um centro de educação comunitária e atribuição de bolsas de estudo, bem como o envolvimento de instituições científicas e iniciativas filantrópicas e do setor privado e ainda a divulgação nas televisões de Portugal, “o que contribuiu para uma presença assinalável de turistas”.

O embaixador de Portugal em Maputo, José Augusto Duarte, justificou a condecoração pela “inspiração” transmitida pela equipe do PNG e, no caso de Gregory Carr, a sua “generosidade”, ao aplicar um total de 40 milhões de dólares numa área protegida de um país que não o seu.

Além de um dos maiores centros de investigação científica da África Austral, o ministro moçambicano da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, destacou por seu lado os 400 postos de trabalho criados pelo PNG e que o tornam num dos maiores empregadores da província de Sofala.

A condecoração, segundo Celso Correia, resulta de “um trabalho árduo de restauro”, com vista “a colocar a Gorongosa onde deve estar, como referência não apenas nacional, mas continental e mundial”.

O ministro moçambicano referiu-se também ao combate à caça furtiva, assegurando, sem avançar números, que “já há resultados palpáveis e que vão orgulhar todos os moçambicanos”.

Dados avançados em junho pelo diretor do PNG indicavam que entre 5.000 e 6.000 animais são mortos por ano na área do parque. Com uma área de 4.000 quilômetros quadrados, na província de Sofala, o Parque Nacional da Gorongosa fecha a sul o grande vale do Rift africano.

A Gorongosa acolhe alguns dos ecossistemas biologicamente mais ricos e geologicamente diversos do continente, tendo sido largamente atingida pela guerra civil de 16 anos em Moçambique e que dizimou 90% da sua população animal,

É ainda um tesouro que vive no imaginário de todos os moçambicanos e, numa mensagem lida na gala de condecoração, o ex-Presidente Joaquim Chissano recordou que foi lá que passou as suas primeiras férias após a independência de Moçambique, em 1975.

Quarenta anos depois, segundo o ex-estadista, envolvido através da sua fundação na recolha de fundos para áreas protegidas da África Austral, “alarga-se e aprofunda-se a consciência de que a fauna bravia pode contribuir para o melhoramento das condições de vida do ser humano”.

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