Para CPLP, mídia pode auxiliar na difusão da língua portuguesa no mundo

Países lusófonos querem internacionalizar o idioma português, que em 2050 tem previsão para ter 335 milhões de falantes.

Mundo Lusíada Com Portugal Digital e agencias

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) promoveu, em Brasília, a Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa, até 30 de março. No foco dos debates, esteve uma estratégia conjunta para a internacionalização do idioma.

As sessões de trabalhos da conferência, realizada no Palácio do Itamaraty, renderam muitas sugestões que deverão viabilizar a expansão da língua portuguesa. Sugestões que convergiram para uma mesma ideia: que as iniciativas em prol da língua portuguesa utilizem ainda mais os meios de comunicação.

Os presentes, a maioria professores universitários, utilizaram frases de filósofos e de pensadores para expressar sua posição perante o público. Não faltou também quem expusesse, desolado, sobre o baixo nível do português nas redações dos candidatos às universidades brasileiras, o que levou um dos participantes a pedir que seja pensado um ponto estratégico na educação que atenda o indivíduo enquanto criança, nos primeiros anos, porque acredita que é nessa fase que ele tem de receber um ensino que mude essa realidade, alimentando desde cedo a sua base de saber.

"O futuro da língua portuguesa em boa medida depende daquilo que for o Brasil e o empenho do Brasil nessa questão. Nesse sentido estamos muito satisfeitos com o trabalho que tem sido feito de aproximação entre Portugal e Brasil e de colocação das nossas preocupações no plano internacional", disse à Rádio ONU o Secretário de Estado de Cooperação e Relações Exteriores de Portugal, João Cravinho.

O conselheiro de imprensa da Embaixada de Portugal, Carlos Fino, destacou a intervenção da cantora e intérprete Maria Bethânia, que na abertura da conferência recitou poemas de autores lusófonos e cantou músicas de compositores brasileiros, e lembrou que há uma alma nessa comunidade de países lusófonos. "Mas para ela se firmar precisamos conhecer cada vez mais essa alma", afirmou Carlos Fino ao Portugal Digital. "Nada se firma só com o corpo, é preciso um espírito, e esse espírito ainda conhecemos pouco. Precisamos nos conhecer ainda mais, uns aos outros", garante Fino.

Na opinião do conselheiro, a lusofonia não pode ser uma forma em que as pessoas possam suspeitar de que há um interesse imperial português, fora do tempo. "Isso tem de ficar claro. E para que isso aconteça nada melhor do que nós conhecermos melhor a diversidade da comunidade da língua portuguesa, conhecer melhor o Brasil, o que se passa em Angola, em São Tomé e Príncipe, conhecer as especificidades de cada um que compõe essa comunidade", exemplificou.

Ao final da sessão, a presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, parabenizou a todos pelas propostas para uma difusão pública da língua portuguesa. Além dos oito membros – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste –, a conferência contou com representantes da Guiné Equatorial, Ilhas Maurício e Senegal, na qualidade de países observadores.

“Os trabalhos, em Brasília, correram excelentemente, quer no seu segmento público, quer no envolvimento da sociedade civil, da comunidade científica, da comunidade dos escritores, dos jornalistas, quer agora nesse segmento técnico-governamental, que preparou os documentos que vão ser apresentados e nossos planos aprovados, por ministros e chanceleres de outros países”, enfatizou o representante português junto à CPLP, o embaixador António Russo Dias, lembrando que o próximo encontro será realizado em Luanda, em julho deste ano.

A Língua na Mídia O discurso da representante da Guiné Bissau na conferência sobre o futuro da Língua Portuguesa no mundo defendeu maior visibilidade da língua portuguesa a nível internacional. Sónia Rocha citou como exemplo o trabalho que vem fazendo em Bissau, na rádio católica Sol Mansi – que quer dizer amanhecer, no dialeto crioulo.

"É comum vermos, em Bissau, as pessoas com seus radinhos, pelas ruas. É um objeto de fácil aquisição. Lá se compra um rádio de pilhas por uma quantia equivalente a R$ 10,00. Por isso, acreditamos que o rádio ainda é um grande instrumento que pode ser utilizado na divulgação da língua portuguesa em muitas comunidades", defendeu Sónia Rocha, coordenadora de assuntos culturais do Centro Cultural Brasil-Guiné-Bissau.

Sónia é responsável por colocar no ar um programa semanal, de 40 minutos. "O programa é dirigido ao público jovem e procuramos utilizar uma temática com notícias sobre a cooperação entre o Brasil e Guiné, com música, noticias e informações sobre o Brasil, sempre fazendo um link entre os temas a fim de despertar o interesse dos ouvintes", explicou.

O jornalista Carlos Fino sugeriu que a televisão pode ter um papel neste processo. Ele colocou que poderia ser por um canal de TV (que poderia ser adquirido), ou até mesmo inserções em emissoras já existentes. Depois de sugerir esse salto, ele partiu para outro ponto: que se comentem histórias que os próprios povos desconhecem em programas de televisão para circular em diferentes países, em que explorem a história comum entre os países. "Portugal conhece pouca história portuguesa no Brasil", finalizou.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, lembrou da importância dos 21 centros culturais brasileiros espalhados pelos continentes Americano, Europeu e Africano, para a divulgação da cultura e da língua portuguesa por meio da literatura, do cinema e de outras expressões culturais. Para Amorim, as discussões durante a conferência servem para a reflexão de propostas para a difusão da língua portuguesa no mundo, como o caso da reforma ortográfica. “Além de fortalecer o ensino da língua nas escolas e de divulgá-la como meio de comunicação no âmbito mundial”.

Na mesma semana, durante a 122ª Assembleia da União Interparlamentar, que ocorreu em Bangcoc, os países da CPLP divulgaram que pretendem incluir o português como língua de trabalho na União Interparlamentar. Segundo o primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional de Angola, João Lourenço, com a inclusão do português estará facilitada a comunicação entre os países membros da UIP e será possível transmitir com clareza as intenções e projetos do grupo CPLP.

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