Não houve golpe de Estado, diz Força Armada da Guiné-Bissau

O presidente da Guiné-Bissau sofreu pelo menos um tiro no estômago e dois no tórax, os criminosos "foram disparando até darem conta que ele havia morrido".

Mundo Lusíada Com Lusa

Antônio Amaral/Lusa Portugal

>> Instalações do Estado Maior General das Forças Armadas destruídas pela explosão que vitimou o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), general Tagmé Na Waié, em Bissau, 2 de Março 2009, na Guiné-Bissau.

O vice-chefe de Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau, Zamora Induta, afirmou em 02 de março que “não houve golpe de Estado”, comentando a morte do general Tagmé Na Waié e do presidente guineense. “Nós viemos reafirmar ao governo que isto não é um golpe de Estado”, disse o vice-chefe de Estado-Maior da Armada. “Simplesmente aconteceu este atentado relativamente ao chefe de Estado-Maior General e, na ausência de chefe, criamos uma comissão que está a gerir as forças armadas”, explicou. “Infelizmente nestas situações acontecem coisas que ninguém deseja (…) e houve um grupo de pessoas armadas que acabaram por se dirigir à residência do senhor Presidente da República”, acrescentou, destacando que o encontro serviu também para os militares reafirmarem ao governo o respeito pela constituição do país e instituições democraticamente eleitas.

Questionado se o grupo que detonou a bomba que vitimou o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas foi o mesmo que atacou o presidente, Zamora Induta disse que não há informações. “Há peritos na matéria a trabalhar nas investigações”, disse. João Bernardo "Nino" Vieira morreu na madrugada de 01 de março na sequência de um ataque contra a sua residência. A casa do presidente guineense foi atacada por militares das Forças Armadas, poucas horas após o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, ter morrido num atentado à bomba em pleno Quartel-General, em Bissau.

A primeira-dama da Guiné-Bissau, Isabel Vieira, está viva e em lugar seguro. Não foi revelado o local onde a primeira-dama está por razões de segurança. Segundo informações não oficiais, Isabel Vieira estaria refugiada na Embaixada de Angola em Bissau e ela teria pedido asilo para Portugal, o qual já divulgou que acatará o pedido, de acordo com informações da RTP.

Segundo relato do capitão Induta, "no dia 1º de março pelas 19h41 (16h45 em Brasília), uma bomba colocada por indivíduos ainda não identificados explodiu no edifício principal do Estado-Maior vitimando mortalmente o general Tagmé Na Waié, tendo deixado gravemente feridos três escoltas". "Não obstante, um grupo de cidadãos por identificar assaltou a residência do presidente da Guiné-Bissau, tendo-o baleado até à morte", indica a nota.

O presidente Nino Vieira levou pelo menos três balas e golpes de faca, disseram à Agência Lusa fontes diplomáticas. "O presidente sofreu pelo menos um tiro no estômago e dois no tórax", afirmou a mesma fonte, acrescentando que os criminosos "foram disparando até darem conta que ele havia morrido"

CPLP quer desenvolvimento, ONU quer investigação O duplo assassinato em Bissau mereceu a condenação unânime da comunidade internacional, que multiplicou os apelos ao respeito pela ordem constitucional. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) convocou uma reunião de emergência para debater os acontecimentos, Cabo Verde pediu que o Parlamento da Guiné-Bissau assuma interinamente a chefia do país e a realização de eleições presidenciais dentro de 60 dias, e Portugal acionou um plano de emergência que prevê a retirada dos cidadãos nacionais em caso de necessidade.

A CPLP quer ser um dos principais parceiros no desenvolvimento da Guiné-Bissau e apoiar a realização das eleições presidenciais. "Durante a crise de 1998, os guineenses perceberam a importância da CPLP e todos os estados-membros também. Estamos a viver um momento semelhante em termos de gravidade e a CPLP também quer tornar-se num dos principais parceiros no desenvolvimento da Guiné-Bissau", defendeu Hélder Vaz, que presidiu a última reunião do órgão em substituição ao secretário-executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira.

O presidente Nino Vieira, da etnia papel, e o general Tagmé Na Waié, balanta, mantinham uma intensa rivalidade desde a guerra civil em 1998. Naquele momento, o general CEGMA tornou célebre a frase: "o meu destino e o do presidente estão ligados e, se eu morrer, Nino também morre".

No entanto, Hélder Vaz assumiu que a CPLP impôs uma condição para tornar-se num dos principais parceiros no desenvolvimento da Guiné-Bissau: que as instituições, tanto políticas, como sociais e militares guineenses entendam que é necessário dar fim à instabilidade. "Não é possível promover o desenvolvimento num contexto de violência", defendeu. O diretor-geral da CPLP disse ainda que a organização pretende "fazer com que a comunidade internacional entenda que a questão da Guiné-Bissau é também a falta de meios financeiros, que levou à ruptura dos meios do Estado".

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu às autoridades da Guiné-Bissau que investiguem, inteiramente, os assassinatos do presidente do país e do chefe das Forças Armadas. Numa nota, emitida pela sua porta-voz, Ban condenou os assassinatos e disse que está profundamente triste com o que chamou de atos violentos.

Ban pediu que os responsáveis sejam levados à Justiça. Ele enviou ainda pêsames às famílias das vítimas e ao povo guineense. O Secretário-Geral da ONU disse que está em contato constante com seu representante especial no país, Joseph Mutaboba, que ao lado de outros membros da comunidade internacional, está trabalhando para promover paz, estabilidade e desenvolvimento na Guiné.

O presidente português, Cavaco Silva também condenou "veementemente" os atentados e apelou às forças militares e políticas que respeitem a "ordem constitucional", enquanto o premiê luso, José Sócrates, lamentou a morte de Nino Vieira e manifestou a disponibilidade de Lisboa "para ajudar as autoridades políticas e militares” guineenses a manterem a ordem.

Os Estados Unidos condenaram igualmente os assassinatos e apelaram à calma. Além deles, o governo francês condenou "com firmeza" o assassinato do presidente guineense e criou um gabinete de crise para acompanhar os acontecimentos no país.

A União Africana marcou uma reunião extraordinária do seu Conselho de Paz e Segurança (CPS) para analisar a situação do país. O presidente da organização, Jean Ping, considerou os acontecimentos no país um "golpe de Estado".

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