Língua portuguesa vai passar inglesa no Haiti, diz professor

Por Carla Mendes Da Agência Lusa

A língua portuguesa poderá ser ensinada nas escolas do Haiti futuramente e ultrapassar a influência do inglês, disse à Agência Lusa o diretor do Centro de Estudos Brasileiros, José Renato Baptista, que oferece cursos de português em Porto Príncipe, capital do país, a baixo custo.

"Tenho a ousadia de dizer que o povo haitiano não fala francês. O crioulo é muito forte aqui e apenas uma elite fala francês. E vou além: o português vai passar o inglês no Haiti", afirmou Baptista.

Na sua opinião, a participação do Brasil na Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti (Minustah) "abre um grande caminho para língua portuguesa" nesta ex-colônia francesa, o primeiro Estado da América Latina a obter a independência e a primeira república liderada por negros no mundo.

"Gostaríamos de ter parcerias neste projeto e Portugal seria um parceiro muito interessante para nós planejarmos a difusão da língua portuguesa no Haiti", frisou Baptista, que está fazendo em Porto Príncipe uma pesquisa para o seu doutorado em antropologia.

O Centro de Estudos Brasileiros oferece aulas de português com duração de uma hora e meia cada, três vezes por semana, a um custo de 1.000 gourdes haitianos (25 dólares) por trimestre, além de cursos de informática e de música.

A instituição tem apenas dois professores: Baptista, que é antropólogo, e a embaixatriz do Brasil no Haiti, Roseana Kipman, uma mulher que enfrentou mais de 10 horas nas estradas destruídas pelos furacões este mês para levar, pessoalmente, alimentos à população de Gonaives, no norte do país, uma das mais atingidas pela tragédia.

Na concepção de Roseana Kipman, o Centro de Estudos vai além dos cursos de português e pretende também irradiar a cultura brasileira.

"Eu tive 40 alunos que não sabiam nada da nossa língua e hoje falam português. É uma coisa emocionante de se ver. Emocionante também foi assistir, em junho, à festa junina que nós promovemos. Havia 20 pares, todos haitianos, a dançar quadrilha", contou a embaixatriz.

A maioria dos estudantes tem baixa renda, mas são privilegiados neste país onde cerca da metade da população é analfabeta. Os alunos vêem no curso uma possibilidade de melhorar o nível de vida.

Chance Uma janela de oportunidade é trabalhar como intérprete no Batalhão Brasileiro (Brabat) no Haiti ou até mesmo conseguir uma bolsa de estudos no Brasil. É o caso de Jean Baptiste Jean Denis, de 26 anos, que trabalha hoje no Brabat como tradutor.

"O português mudou muito a minha vida, muito, muito. Eu quero fazer faculdade no Brasil, quero estudar Relações Exteriores. Quero me preparar e depois ser útil para o meu país. Cada haitiano gosta do seu país e, apesar de tudo, temos orgulho dele", disse o tradutor.

O jovem disse estar disposto também a ir para outros países, como Portugal, para estudar, mas precisa de uma bolsa, já que, com o dinheiro que recebe como intérprete, sustenta outras seis pessoas da família. "Arrume uma bolsa de estudo para mim, no Brasil ou em Portugal. Eu não vou decepcionar", apelou o rapaz.

Nas ruas dos bairros pobres de Porto Príncipe, a vontade e a necessidade de se comunicar com os soldados brasileiros despertam também em algumas crianças o interesse pela língua portuguesa.

"Beleza, beleza", disse um menino de não mais de 10 anos, a correr atrás de um carro de patrulha do Brabat.

Outro garoto, morador da pior favela de Porto Príncipe, Cité Soleil, surpreendeu pela fluência no idioma. "Eu gosto dos militares brasileiros. Eles falam conosco. Quando a gente está com fome, eles nos ajudam. Brasil, Brasil!", exclamou Smith Sarobo.

O adolescente de 14 anos contou que aprendeu a falar português com a ajuda de um sargento brasileiro, que lhe deu um livro, mas não apenas isso. Deu-lhe também atenção e amor.

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