Guiné-Bissau espera ajuda do Brasil para eleições de novembro

Presidente de transição do país durante discurso na Assembleia Geral, Manuel Serifo Nhamadjo, declarou ser um “democrata por convicção” que não foi “mandante de ações golpistas”.

 

Da Redação
Com Rádio ONU

ManuelNhamadjo_GuineONUO presidente de transição da Guiné-Bissau afirmou à Rádio ONU que seu país está contando com a ajuda do Brasil para a realização das eleições gerais, marcadas inicialmente para 24 de novembro.

Manuel Serifo Nhamadjo elogiou o apoio que o Brasil tem dado a seu país, há vários anos, mas disse que receia mudanças por causa da situação política gerada com o golpe de 12 de abril na Guiné.

Ao ser perguntado se a tecnologia do sistema de urnas eletrônicas no Brasil poderia ajudar à Guiné, o presidente respondeu: “Sim, o Brasil poderia ajudar bastante. Só que o presidente Ramos Horta esteve lá, eu não sei o que é que se evoluiu e acredito que também que dentro desta comunidade Cplp, da posição que tem em relação aos acontecimentos de 12 (de abril) poderá contribuir para esse recuo na participação do Brasil”.

Há vários anos, o Brasil lidera a estratégia de paz para a Guiné-Bissau na Comissão de Consolidação da Paz das Nações Unidas. O país também realiza ações de apoio ao desenvolvimento no contexto da Cooperação Sul-Sul.

“Somos os primeiros a reconhecer os desvios da Guiné-Bissau”
O presidente de transição da Guiné-Bissau explicou à Assembleia Geral das Nações Unidas a trajetória política do país desde o golpe militar cometido a 12 de abril do ano passado. Ao discursar na 68ª sessão de alto nível do órgão, Manuel Serifo Nhamadjo pediu solidariedade da comunidade internacional.

“A pessoa que vos fala neste preciso momento subiu a esta tribuna para pedir a vossa paciência, solicitar a vossa compreensão. Sou presidente da República de Transição da Guiné-Bissau e esta designação transmite algo que é particular e excepcional. Um golpe militar tinha deposto um presidente da República interino e um primeiro-ministro auto-suspenso e lançado numa campanha eleitoral inconclusa para a presidência da República. Perante uma tal situação, perguntamos: então, o que fazer?”

Ele relembrou o período pós-golpe, dizendo ter sido necessário “controlar os seus efeitos e limitar seu alcance institucional”, além de lidar com duas tomadas de posição, uma delas, “embaraçosa”, segundo o presidente Nhamadjo.

“Tentaram por todos os meios aplicar a forma de quanto pior fosse para a Guiné-Bissau, tanto melhor. Somos uma democracia, é verdade, não obstante todos os defeitos, todas as violações da razão democrática do Estado, tantos desvios que nós somos os primeiros a reconhecer. Passe a imodéstia, eu sou um democrata por convicção amadurecida e que nunca fui golpista, nem mandante de ações golpistas.”

Nhamadjo assumiu a liderança do país após a saída dos militares. Durante o seu discurso, o presidente de transição destacou que a Guiné-Bissau terá eleições presidenciais e legislativas em 24 de novembro. De acordo com o presidente de transição, o país é vítima de dois males, a “pobreza e a instabilidade política” e salientou ser um desafio “sair dessas duas armadilhas”.

Cplp
Manuel Serifo Nhamadjo agradeceu o apoio que as Nações Unidas e os países lusófonos têm dado à Guiné-Bissau. “Timor amigo, que tem demonstrado um notável espírito de cooperação com o meu país, numa demonstração de que realmente são nos momentos mais difíceis que os amigos se conhecem. Igualmente agradecemos ao presidente (de Moçambique) Armando Guebuza, presidente em exercício da Cplp, pela justa apreciação que fez do processo político no meu país, pelo seu encorajamento e apelo à comunidade internacional a contribuir financeiramente à realização das eleições gerais no meu país.”

O presidente em transição também destacou o papel do representante especial do Secretário-Geral da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos Horta, pela “excelente contribuição que tem dado à normalização política” da nação.

“O Brasil foi sempre um país que ficou em dar apoio e certamente continuará, assim como os outros. Aliás, Cabo Verde é um país de relações históricas muito sólidas, não são esses pequenos incidentes que vão criar problemas ou que vão pôr em causa essa nossa relação histórica e com São Tomé, a mesma coisa. E falando de São Tomé, fala-se de Angola, de Moçambique, são todos países irmãos e nós temos uma cumplicidade histórica, que é impensável dizer que teremos problemas de maior. Há um incidente, que deve ser analisado e situá-lo no seu momento, no seu contexto, para que depois das eleições, o país se reencontre, todos esses países irmãos, para o desenvolvimento que todos desejamos.”

O Escritório das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Uniogbis, que é liderado pelo ex-presidente do Timor-Leste, José Ramos Horta, está trabalhando junto com autoridades guineenses no apoio da realização das eleições. Segundo Ramos Horta, vários doadores internacionais estão à espera de um protocolo claro sobre a realização do pleito para que possam fazer suas promessas de doação financeira.

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