Compra de vacinas em conjunto foi “marco histórico” para África

Da Redação com Lusa

A Comissão Econômica das Nações Unidas para África (UNECA) considerou que a compra de vacinas contra a Covid-19 em conjunto pelos países africanos foi “um marco histórico”, mas alertou que o continente está longe da imunidade de grupo.

“A iniciativa da União Africana referente à compra de 400 milhões de doses de vacinas para os membros da UA e os países das Caraíbas, anunciada em agosto, foi um marco histórico para África”, escreveu a diretora executiva da UNECA num texto publicado no ‘site’ desta organização.

“O surgimento da pandemia esmagou os sistemas de saúde do continente, originando o maior golpe econômico dos últimos 25 anos, mas com a implementação da compra conjunta de vacinas, pela primeira vez os países africanos juntaram os seus esforços financeiros e diplomáticos e falaram como um grupo unido e forte na mesa das negociações para a compra de vacinas”, destacou Vera Songwe.

Lembrando que isto permitiu encomendas de 220 milhões de vacina de dose única da Johnson & Johnson, a que se juntam outros compromissos internacionais e bilaterais, a responsável destacou que estas compras permitem “imunizar um terço da população e colocar África a meio caminho do objetivo de vacinar pelo menos 60% da população”.

Ainda assim, alertou, ainda assim, que o continente “precisa de vacinar pelo menos 65% da população para atingir a imunidade de grupo e reabrir por completo as economias, o que se traduz em 1,5 mil milhões de vacinas, que podem custar entre 8 a 16 mil milhões de dólares [6,7 a 13,5 mil milhões de euros], a que se soma mais 20 a 30% de custos do programa de entrega e administração das vacinas”.

Os dados da UNECA apontam que existe uma diferença de 66 mil milhões de dólares (55,8 mil milhões de euros] de financiamento para a saúde e que o facto de os produtores africanos só conseguirem produzir 2% dos medicamentos necessários e 1% das encomendas de vacinas “mostra que o continente estava claramente mal preparado para a pandemia”.

O continente africano registrou na terça-feira, em comparação com as últimas 24 horas, mais 417 mortes associadas à covid-19 e 12.463 novos casos de infecção pela doença, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC).

Segundo o CDC, com estes novos números, o total de casos em África subiu para 8.052.110, enquanto o de vítimas mortais ascende agora a 204.025 e o de recuperados passa para 7.349.642, mais 20.986 que no dia anterior.

A região da África Austral continua a ser a mais afetada do continente, com 3.807.684 casos e 106.014 óbitos associados à covid-19. Nesta região, encontra-se o país mais atingido pela pandemia, a África do Sul, que regista 2.860.835 casos e 85.002 mortes.

O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro de 2020, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.

Terceira dose

Se os países desenvolvidos avançarem massivamente com a terceira dose da vacina, será “ainda mais difícil” a África atingir os objetivos de imunização, sublinhou na semana passada o líder do organismo de saúde pública da União Africana.

“Se os países [desenvolvidos] começarem a avançar com a terceira dose, isso tornará ainda mais difícil atingir o objetivo da taxa de imunização de 60 a 70%” da população do continente africano, afirmou John Nkengasong, diretor do África CDC na conferência semanal online do organismo.

“Não vimos ainda ciência suficiente que justifique uma política de aconselhamento de uma terceira dose ou de reforço de doses de vacinas”.

“Em primeiro lugar, não sabemos em que ponto o nível de anticorpos baixa até que deixa de oferecer proteção à progressão da doença. Recordemos que nenhuma das vacinas nos protege da infecção, o que fazem é diminuir a hostilidade do vírus”, explicou Nkengasong.

“Ainda não temos informação suficiente para conduzirmos políticas adequadas de aconselhamento relativamente à administração de uma terceira dose ou ao reforço das doses administradas”, disse o diretor do Africa CDC.

Nkengasong reagiu ainda à informação do mecanismo Covax, de acesso global a vacinas contra a covid-19 destinado aos países de baixo e médio-baixo rendimento, segundo a qual espera ter um apenas total de 1,425 mil milhões de doses disponíveis em 2021, um objetivo consideravelmente abaixo dos 2 mil milhões de doses originalmente fixado pelo sistema, e que o Covax espera agora alcançar apenas no final do primeiro trimestre de 2022.

Os países africanos reconheceram que “têm que depender de si mesmos” para a aquisição das vacinas que precisam, incluindo a capacidade própria de as produzir, sublinhou Nkengasong.

A covid-19 provocou pelo menos 4.646.416 mortes em todo o mundo, entre mais de 225,72 milhões de infecções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

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