2015: Queda no preço do petróleo condiciona política econômica da lusofonia

Da Redação
Com Lusa

Navio_PetrobrasBRASILOs países exportadores de petróleo vão enfrentar sérios desafios em 2015 devido à baixa de preços que desequilibra os orçamentos nacionais e condiciona a política econômica destes países, entre os quais Angola e a Guiné Equatorial.

A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), no final de novembro, de manter os níveis de produção nos 30 milhões de barris por dia vai dificultar a vida dos países que dependem de um preço do barril elevado para equilibrar os orçamentos, como é o caso dos lusófonos Angola e Guiné Equatorial, mas também do Brasil e, principalmente, dos maiores produtores mundiais como a Rússia, o Irão ou a Venezuela.

A sobreprodução originada pelo fenômeno do petróleo e gás não convencional nos Estados Unidos, aliada a um crescimento mais suave da economia mundial e consequente abrandamento da procura, fizeram com que os preços descessem quase 40% durante este ano, quebrando a barreira dos 70 dólares no princípio de dezembro.

Para os países que mais dependem do petróleo para equilibrar os orçamentos, como Angola ou a Guiné Equatorial, entre os lusófonos, o panorama não se afigura favorável para o próximo ano: “Se os governos não forem capazes de continuar a gastar para manter os miúdos fora das ruas eles vão voltar para as ruas, e podemos começar a ver manifestações e disrupções políticas”, disse Paul Stevens, do departamento de energia, ambiente e recursos do ‘think tank’ britânico Chatham House.

“A maioria dos membros da OPEP precisa do barril de petróleo bem acima dos 100 dólares para equilibrar os orçamentos; se começam a cortar na despesa, isto vai criar problemas”, acrescentou.

Outro dos principais analistas comentou também à Bloomberg como poderá ser o próximo ano: “é um grande choque em Caracas, é um grande choque em Tierão, é um grande choque em Abuja”, disse Daniel Yergin, vice-presidente da consultora IHS e premiado com um Pulitzer pelo livro sobre a história do petróleo.

Para este analista, “há uma mudança na psicologia, e vai haver um nível maior de incerteza” no seguimento da decisão da OPEP de manter o nível de produção nos 30 milhões de barris por dia e, por consequência, uma tendência de descida de preços, pelo menos nos próximos tempos.

As consequências, aliás, são palpáveis e já se fizeram sentir, por exemplo em Angola, que desceu o preço de referência do barril de petróleo de 98 para 81 dólares.

Em outubro, o Presidente José Eduardo dos Santos anunciou, em plena Assembleia Nacional, que ia adiar a construção de 63 mil salas de aula: “Diante da atual situação econômica e financeira difícil e incerta, causada pela queda do preço do petróleo, infelizmente o referido plano já não poderá ser executado em três anos, como nós pretendíamos, mas talvez possa ser executado num período de cinco a dez anos”.

Ao contrário de outras situações em que a produção supera as necessidades, desta vez alguns dos maiores produtores, como a Arábia Saudita, resolveram baixar os preços em vez de reduzir a produção, numa luta explícita pelo aumento da quota de mercado, principalmente na Ásia, e num contexto de mudança de paradigma no setor petrolífero.

Os Estados Unidos aumentaram a sua produção por via do petróleo de xisto, chegando praticamente ao nível da Arábia Saudita, o maior produtor mundial, e por causa disso reduziram as importações, nomeadamente de África, fazendo os produtores locais, entre eles Angola e Nigéria, ‘virarem-se’ para a Ásia.

Só que também na Ásia, como na Europa, a procura está a abrandar, ao contrário da produção, que continua a subir, e por isso as notícias sobre descontos ‘por baixo da mesa’ sucedem-se na imprensa financeira internacional, que dá conta de uma guerra mais ou menos explícita pelo aumento da quota de mercado dos maiores produtores mundiais.

Em outubro, o Fundo Monetário Internacional aferiu qual o preço mínimo a que o petróleo tinha de estar em cada país produtor para equilibrar os orçamentos, e concluiu que de um lado estava o Kuwait, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos, que só precisam de 70 dólares por barril, e no outro lado estavam o que estão em exploração no pré-sal, como a Nigéria e Angola, que precisam do preço do barril acima de 100 dólares.

Os maiores produtores de petróleo no espaço lusófono – Brasil e Angola – registam produções que rondam os 2 milhões de barris por dia, mas a previsão aponta para uma subida significativa nos próximos anos, à medida que se aprofundam as explorações no pré-sal, uma espécie de camada por baixo do fundo do mar, na costa destes dois países que têm uma topografia semelhante.

De acordo com os dados da consultora Business Monitor Internacional, Angola não deverá passar muito dos 1,8 milhões de barris, no próximo ano, mas no caso do Brasil, as expetativas destes consultores internacionais apontam para uma subida significativa, de 2,2 milhões no ano passado para mais de 2,5 milhões de barris por dia no próximo ano, à medida que as explorações atualmente em curso começam a dar frutos.

A Guiné Equatorial, por seu turno, apresenta uma trajetória inversa, sendo previsível uma ligeira subida na exploração: em 2005, a produção atingiu o pico de 376 mil barris, mas estes valores caíram para 297 mil em 2011 e deverá ter andado pelos 346 mil no ano passado, sendo previsível, de acordo com as estimativas da BMI, uma subida para 376 mil barris no próximo ano.

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