200 anos do fim da escravatura em Cabo Verde

Simpósio reunirá, em 2009, personalidades de todos os países por onde o navio negreiro Amistad já passou ou deverá passar, durante a digressão “A viagem da Liberdade no Atlântico”.

Mundo LusíadaCom Agencias

Um navio negreiro assinalou os 200 anos do fim da escravatura no arquipélago de Cabo Verde. A réplica do navio negreiro espanhol “Amistad” atracou no porto da Praia, no âmbito da viagem destinada a assinalar 200 anos da abolição da escravatura na Inglaterra (25 de Março de 1807), e nos Estados Unidos (2 de Março de 1807).

 

 

Omar Camilo/Lusa

NAVIO NEGREIRO >> Réplica do navio espanhol Amistad, ligado ao tráfico de escravos, está ancorado no porto da Praia, em Cabo Verde, aberto para visitas, 2 de Março de 2008, na Cidade da Praia.

 

O navio está fazendo uma digressão por vários portos ligados ao tráfico de escravos. Trata-se da “A viagem da Liberdade no Atlântico”. A chegada do “Amistad” na capital caboverdiana foi recebida ao som da tabanka e do batuque (duas manifestações culturais da ilha de Santiago), numa recepção preparada pelo Ministério cabo-verdiano da Cultura e que contou com a presença do primeiro-ministro José Maria Neves, segundo informou a Panapress.

Para o ministro cabo-verdiano da Cultura, Manuel Veiga, a visita simboliza a comemoração da liberdade. “Se antes se chorava com a partida e o regresso de barcos, hoje cantamos, dançamos, para celebrarmos a liberdade” explicou.

Aproveitando a ocasião, Veiga anunciou a realização, em 2009, do simpósio “Cultura Afro-Mundo: Futuro do Passado”, com a presença de personalidades de todos os países por onde o navio negreiro já passou ou deverá passar. Além do evento, Veiga recordou que Cabo Verde vai celebrar 550 anos de achamento das ilhas em 2010, e ainda os 35 anos da sua independência (5 de Julho de 1975). “Faremos uma grande celebração e uma das coisas que vamos comemorar será um mega monumento à liberdade”, garantiu.

Iniciada em New Heaven (Estados Unidos), a viagem transatlântica do Amistad vai demorar 18 meses, com intuito de divulgar a diáspora africana e assinalar a abolição do comércio de escravos. Com uma tripulação constituída por pessoas da Serra Leoa, da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, do Canadá e das Bermudas, e capitaneado por uma mulher, o navio tem a bordo um descendente direto de Sengbe Pieh, escravo que chefiou a revolta no navio.

HistóriaFoi em 1839 que dezenas de negros, capturados na África Ocidental, foram transportados pelo navio negreiro português Tecora para Havana, em Cuba, onde foram comprados por espanhóis e embarcados no Amistad.

Em alto mar, os escravos chefiados por Sengbe Pieh, em uma revolta se apoderaram do navio. Mas como não tinham experiência de navegação, tiveram que depender dos espanhóis que andaram 63 dias às voltas, sem rumarem a África como queriam os 49 escravos  sobreviventes à viagem.

Forçados em ancorar em Connecticut, por falta de alimentos, o navio foi capturado pela Marinha dos Estados Unidos, onde a escravatura já era proibida e punida com pena de morte. Ainda assim, os escravos africanos foram detidos e acusados de motim e homicídio. Somente em 1841, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu pela libertação dos escravos, reconduzindo 35 sobreviventes para África.

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