Secretária das Comunidades avalia dificuldades de portugueses na África do Sul

Da Redação
Com Lusa

A secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, realiza a partir de quinta-feira a sua primeira visita à África do Sul, para se inteirar das “dificuldades e ansiedades” dos portugueses e lusodescendentes no país africano.

Do programa da visita de quatro dias constam encontros com representantes das comunidades portuguesas em Joanesburgo, Pretória e Cidade do Cabo, com regresso previsto a Portugal no domingo, segundo fonte comunitária.

Em Joanesburgo, Berta Nunes irá dialogar com líderes da comunidade portuguesa de áreas como o associativismo, o setor social e o empresariado, estando também previsto um almoço na sexta-feira organizado pela União Cultural, Recreativa e Desportiva Portuguesa (UCRDP), disse à Lusa o dirigente da coletividade, José Contente.

“A nossa expectativa é dar a conhecer no início do mandato que assumiu no ano passado, uma vez que é a primeira vez que se desloca a este continente, as nossas dificuldades, fazer ver que esta comunidade que tem sido pobremente acompanhada merece um bocadinho mais, e ver se pelo menos motiva um investimento qualquer na nossa juventude aqui na região”, adiantou Contente.

O dirigente da coletividade portuguesa mais antiga na África do Sul, criada em 1961, sublinhou à Lusa que as medidas de confinamento da covid-19 agravaram a sustentabilidade financeira do movimento associativo imigrante.

“Esperamos que haja um apoio financeiro do Governo português para podermos manter estes pontos de Cultura”, salientou.

No mesmo dia, a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas irá participar, também, num jantar em Pretória, sede da presidência sul-africana, com a comunidade lusa, da responsabilidade da Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória (ACPP), segundo a coletividade local.

O número de portugueses e lusodescendentes na África do Sul estima-se em 500 mil, sendo considerada uma das maiores comunidades imigrantes fora de Portugal que passou por dificuldades extraordinárias em Angola e Moçambique com o processo de descolonização.

Cerca de 125 mil portugueses tem registo consular na África do Sul, dos quais cerca de 75 mil em Joanesburgo, o motor da economia do país, e cerca de 20 mil na Cidade do Cabo, disse à Lusa fonte consular.

Com uma taxa recorde de desemprego de 43,1%, no terceiro trimestre deste ano, a economia mais industrializada de África, que está em recessão desde o ano passado, debate-se também com problemas estruturais, corrupção galopante na administração pública e elevados níveis de criminalidade, com 652.726 crimes reportados entre julho e setembro, um acréscimo de 33.9%, segundo a polícia sul-africana.

Dados da organização não-governamental luso-sul-africana Fórum Português, consultados pela Lusa, indicam que desde março deste ano foram assassinados sete portugueses na África do Sul, dos quais dois este mês, em Gauteng, província envolvente a Joanesburgo.

O aumento também da violência xenófoba contra imigrantes no país aliada à crescente incerteza política no partido no poder, o Congresso Nacional Africano, liderado pelo Presidente Cyril Ramaphosa, tem motivado a saída de portugueses da África do Sul, disse à Lusa o conselheiro da diáspora madeirense, José Nascimento.

“Deve haver um diálogo aprofundado para as autoridades [portuguesas] compreenderem a situação real na África do Sul da sua comunidade portuguesa, e poderem ajudar em termos de assistência social, de preparação daqueles que vão regressar ao país, porque se houver um êxodo de muita gente, Portugal tem que estar preparado para isso”, adiantou.

“São milhares a sair do país, embora a maioria vá para países anglo-saxónicos, mas julgo que interessa a Portugal e à comunidade portuguesa falar com tempo sobre esses assuntos porque é de interesse mútuo”, frisou à Lusa o comendador lusodescendente.

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