Projeto celebra o elo cultural e gastronômico entre Belém e Portugal

Da Redação

Belém, uma das cidades mais portuguesas do Brasil, com seu centro histórico repleto da arquitetura de traços lusitanos e sua culinária marcada pelos sabores vindos do outro lado do Atlântico, recebe projeto para celebrar o elo cultural e gastronômico entre Belém e Portugal.

A capital do Pará celebra, nos dias 7 e 8 de junho, essa mistura de culturas no projeto “Laços” realizado pela Prefeitura de Belém e UNESCO. O evento conta com a presença do maior chef português da atualidade, Vítor Sobral, shows de poesia e música e feira culinária.

Trata-se de uma programação que integra o selo Cidade Criativa da Gastronomia, título recebido por Belém pela UNESCO nos 400 anos do município. Após ter reunido chefs de cozinha de diversos continentes e sediado o evento Cidades Criativas pela primeira vez nas Américas, a capital do Pará homenageia a língua, música, poesia, arte, história e as receitas nascidas a partir do encontro entre os povos lusitano e brasileiro.

O título concedido a Belém tem a finalidade de impulsionar o turismo gastronômico, a sustentabilidade, o intercâmbio de informações, além da pesquisa e geração de emprego e renda.Como Cidade Criativa, a capital do Pará passa a integrar uma rede de cidades que buscam desenvolvimento de maneira sustentável e de modo socialmente justo.

A conquista foi resultado de um trabalho da Prefeitura de Belém, em parceria com o Governo do Estado e outras entidades representativas do setor, tais como Instituto Paulo Martins, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Instituto Atá. A candidatura da capital paraense teve o apoio do Itamaraty, Confederação Nacional do Turismo e Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Programação

No dia 7 de junho, no Parque da Residência, haverá o jantar de abertura assinado pelo renomado chef Vítor Sobral. Na ocasião, será exibido um vídeo que faz o diálogo entre a capital paraense e Lisboa. Por sua trajetória de forte ligação com ambas culturas, a cantora Fafá de Belém será empossada embaixadora do projeto Laços Belém/Portugal.

No dia 8, a partir de 9h, o público poderá visitar a Exposição de Artesanato Luso Brasileiro e Azulejaria e Relíquias Portuguesas, na Estação das Docas. Haverá ainda um mergulho profundo na história original de Belém, com uma exposição que resgata as primeiras famílias portuguesas a chegarem à capital amazônica, há quatro séculos, e contribuíram para a construção da identidade miscigenada da cidade das mangueiras.

A partir de 10h, será realizada a mesa redonda “Heranças Lusitanas na Amazônia”, com os historiadores e pesquisadores Álvaro do Espírito Santo, Maria de Nazaré Paes de Carvalho, Nazaré Sarges, Roberto Smeraldi e Eduardo Sousa, no teatro Maria Sylvia Nunes.

Em seguida, às 14h, será exibida a mostra da série de vídeos “Laços”, com show de música e poesia “Mar Sonoro”, que conta com a apresentação de Brazzon com Lundú, Carimbó e Samba de Cacete tocados por uma formação de músicos jazzistas.

Cultura a céu aberto

A ocupação do centro histórico com arte e gastronomia marca o projeto “Laços”. Nesta noite, a área será interditada para o tráfego de veículos e apenas pedestres terão acesso ao espaço.

Às 17h, o Festival Gastronômico toma a extensão do Feliz Lusitânia, complexo arquitetônico da Cidade Velha, o primeiro bairro da cidade. O público poderá transitar entre as primeiras edificações da capital e saborear diversos pratos ofertados pelos chefs e restaurantes que integram a feira.

Às 19h, Fafá de Belém homenageia a música lusitana com o show “Coração Lusitano: fados e canções portuguesas”, na Igreja Santo Alexandre. Às 21h, Alba Mariah canta “Belém e Portugal” no palco aberto na praça Dom Frei Caetano Brandão.

Influências

Considerada uma das culinárias mais brasileiras do país, a gastronomia do Pará apresenta a cultura indígena como sua maior influência, mas carrega também traços portugueses e africanos.

Os elementos encontrados na Região Amazônica formam a base dos pratos locais, com foco especial nos peixes de rio, no camarão, no caranguejo, no pato, mas com o tempero especial das ervas, folhas e frutas nativas. Entre as frutas, o destaque fica com o açaí, a bacaba, o cupuaçu, a castanha-do-pará, o bacuri, a pupunha, o tucumã, o muruci, o piquiá e o taperebá, e ainda a pimenta de cheiro e ervas como chicória e alfavaca.

Um estudo do Ministério do Turismo (MTur), realizado em 2016, revelou que Belém despontava como o destino brasileiro mais bem avaliado pelos turistas estrangeiros. De acordo com a pesquisa, a gastronomia brasileira recebeu nota máxima de 95,4% dos visitantes internacionais, mas a de Belém chegou ao topo, com 99,2% de aprovação.

Mistura

Também é notória a presença da cozinha portuguesa na gastronomia paraense. A Mercearia Vicente prima por essa influência, e por isso é um dos estabelecimentos convidados pelo evento Laços que estará no Complexo Feliz Lusitânia, no Festival Gastronômico.

“Iniciamos com a padaria em uma homenagem ao meu avô, que veio de Portugal, em 1908. Ele foi dono de uma mercearia em Ananindeua, que ficava à margem da estrada de ferro Belém-Bragança, que foi mantida até 1998, e foi uma referência a quem morava às proximidades e a quem passava por lá, em viagem”, conta Fabrício Vicente Araújo, neto de seu Vicente, dono da antiga mercearia.

Fabrício, aos poucos, foi deixando a carreira de publicitário de lado e junto com a mãe, Glória Araújo, fundou a Vicente. Atualmente, ele é o chef da Mercearia, que vende não somente pães e doces, como também pratos típicos portugueses, alguns deles adaptados à gastronomia paraense, além de vinhos.

“A cozinha do Pará segue a tradição portuguesa. Por exemplo, o arroz de pato tem origem portuguesa, mas aqui em Belém acrescentamos o jambu e o tucupi e considero que ficou muito boa essa mistura”, ensina.

Na Mercearia Vicente é possível encontrar os tradicionais pastéis de Belém ou de nata, uma das mais populares especialidades portuguesas, no sabor original, mas também com creme de bacuri. Outra adaptação é no famoso doce queijadinha, que utiliza queijo e leite de coco na receita, mas na Mercearia tem o toque de uma fruta ácida, o cupuaçu. As tradicionais tapas também têm ingredientes amazônicos.

Por outro lado, o prato típico paraense pirarucu de casaca, na Mercearia Vicente ganhou uma versão portuguesa. “A base do prato é o pirarucu, que trocamos pelo bacalhau. Usamos a farinha de mandioca molhada, mas a banana frita é substituída por um purê de banana da terra”, explica Fabrício. “Fizemos esse prato experimentalmente, mas ele fez tanto sucesso que também já entrou em nosso cardápio diário”, complementa.

Sobre a rede de Cidades Criativas da UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) criou em 2004 sua Rede de Cidades Criativas para promover a cooperação entre as cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável.

A rede alia-se à Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 e tem entre os objetivos reforçar as iniciativas lideradas pelas cidades-membros para tornar a criatividade um componente essencial do desenvolvimento urbano através de parcerias entre os setores públicos e privado e a sociedade civil; desenvolver polos de criatividade e inovação e ampliar as oportunidades para criadores e profissionais do setor cultural; melhorar o acesso e a participação na vida cultural, a todos.

​Para atingir os objetivos da rede, as 116 cidades de 54 países que a integram comprometem-se a trabalhar conjuntamente, compartilhar suas melhores práticas e a buscar desenvolver parcerias públicas, privadas e com a sociedade. A rede abrange sete áreas criativas: artesanato e folclore, mídia, cinema, design, gastronomia, literatura e música.

O Brasil possui 5 cidades na rede atualmente: Belém (gastronomia), Salvador (música) e Santos (cinema) desde 2015, Curitiba (design) e Florianópolis (gastronomia) desde 2014.

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