Grupo da Casa de Portugal de Campinas fala das dificuldades e do folclore como “instrumento social”

“Eu costumo dizer que os grandes problemas que existem no folclore se limitam às diretorias. Se os diretores tivessem juízo e vergonha na cara, parassem de brigar uns com outros se uniam mais”.

Por Vanessa Sene

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Em 14 de julho, o Arouca São Paulo Clube recebeu como atração do seu almoço mensal o grupo folclórico da Casa de Portugal de Campinas. “O Arouca recebeu um grupo coirmão que faz uma apresentação muito boa” afirma o presidente do clube, José Pinho. Cerca de 300 pessoas estiveram presentes, já que esse mês de férias muitos luso-brasileiros estão em viagem.

Ensaiador do Rancho Folclórico da Casa de Portugal de Campinas, o José Correia conversou com o Mundo Lusíada sobre a atuação no Arouca. “É um privilégio, o clube deles com essa imensidão, com esse nome que tem, e nós fazendo a atração do evento. Para mim particularmente, que já tive nessa casa como folclorista então, mais privilégio ainda”.

Dificuldade e sugestão

Segundo ele, Campinas sofre alguma dificuldade por não estar no centro Rio-São Paulo, num local onde faltam componentes. “Um dia estamos com oito ou dez pares, e de um dia para o outro, temos cinco ou seis. É um desafio que eu sempre gostei de encarar”. Segundo o ensaiador do grupo da Casa de Portugal, a dificuldade deles é a maior dificuldade deles. “Estamos fora dos grandes centros, porém a situação financeira, ao contrário daqui nos é muito favorável. Tudo o que precisarmos se pode dizer que a casa tem condições ou tem grandes patrocinadores. Aqui em SP é mais complicado, o dinheiro está mais curto, e em Campinas posso dizer que eu sofro com os componentes”.

Receber convidados é sempre bom, mas levar pessoal de São Paulo para suprir essa falta é inviável pelo custo, afirma. “Lá, chama-se trabalho de formiguinha. Tem que ir devagarzinho e sempre, mostrando para a população local a importância do nosso folclore, a sociabilidade que isso traz, o cunho social em recuperar um jovem desvirtuado” defende ele, citando como exemplo em Portugal, dos anos 80 para cá, em que muitos drogados foram recuperados no folclore, as próprias famílias não davam apoio e eles acabaram se encontrando nos grupos folclóricos.

“E assim mostrar um trabalho sério. É um divertimento sim, mas com seriedade. E de repente conseguimos trazer jovens novamente para a sociedade que os descartou por um motivo ou outro, ou não os acolhe. Temos que pensar que o folclore não é simplesmente para representar nossas tradições, é o ponto mais importante, mas não é tudo. Muito importante também é termos um instrumento para construção de uma sociedade melhor”.

O Grupo Folclórico da Casa de Portugal de Campinas já realiza um trabalho assim, eles vão até as faculdades, como a Unicamp, conversam com os jovens e os convida, e já tiveram participação da Orquestra Sinfônica de Campinas tocando com eles. “Temos levado conhecimento das nossas atividades, acho importante também aqui em São Paulo fazer um trabalho nas creches e com crianças de rua, podemos aproveitar e dar uma orientação, trazer para o nosso meio”.

Citou ainda outro exemplo com o grupo Amigos de Viseu. Há alguns anos, um casal de crianças veio de Pariquera-Açu, no interior de São Paulo. Acompanhados de uma assistente social, as crianças eram uma menina e um menino de rua que foram recuperados porque entraram no folclore português, lá em Pariquera-Açu. “Estou em falta com eles, eu prometi que iria fazer uma visita e uma palestra qualquer dia, e farei se Deus quiser”.

Para apresentação no Arouca, o grupo trouxe canções do Minho. Além do ensaiador esteve presente da Casa de Portugal de Campinas o diretor de Relações Públicas, Pedro Peixoto, e mestre de cerimônias da casa, além do Manuel Delgado, diretor de folclore da casa. O presidente estaria presente porém não pode comparecer.

Atualidade

O diretor de Relações Públicas da CP Campinas, Pedro Peixoto, o presidente do Arouca, José Pinho, e o ensaiador José Correia.
O diretor de Relações Públicas da CP Campinas, Pedro Peixoto, o presidente do Arouca, José Pinho, e o ensaiador José Correia.

Em Campinas, Zé Correia foi ensaiador em duas fases na casa. A primeira delas foi há 15 anos, quando permaneceu por cinco anos como ensaiador e conseguiu que o grupo tivesse o apoio da Federação de Folclore Português, e agora, retomou o trabalho desde junho de 2012.

Atualmente eles se dedicam a apresentar as canções de Viana do Castelo. “Nós já estamos estudando um novo repertório, que vou me permitir reservar ainda. Vamos fazer uma reestreia de novos trajes, mas dançamos atualmente a região do Alto Minho”. O grupo é formado por 36 componentes, e no Arouca estiveram presentes com um número bem abaixo, já que uma das componentes Maria Helena teve um infarto durante um ensaio na passada quinta-feira, e em consequência, alguns componentes que são familiares a acompanharam ao hospital.

“Estamos em número reduzido. Mas de antemão, gostaria de agradecer ao RF Pedro Homem de Mello que se sensibilizou, eles me liberaram duas componentes para ajudar, e principalmente dois rapazes da Tocata, se não fosse o Pedro Homem de Mello eu não teria o que fazer hoje, honra seja feita a eles que nunca me desamparou quando precisei deles” diz Zé Correia, que tinha a informação que os folcloristas da casa não estariam no Arouca nessa tarde, mas alguns componentes participaram do almoço, por exemplo a Bruninha Correia da tocata subiu ao palco para tocar também.

Zé Correia chamou atenção para a amizade no folclore. “Teremos uma mescla de folcloristas no palco. Eu costumo dizer que os grandes problemas que existem no folclore se limitam às diretorias. Se os diretores tivessem juízo e vergonha na cara, parassem de brigar uns com outros se uniam mais, porque os componentes não brigam, eles se juntam ao fim de semana, vão às adegas, às tascas, eles querem brincar uns com os outros e não estão se importando de que grupo são. A verdade pura é essa, os folcloristas estão sempre misturados com outros grupos folclóricos, já não se tem a mesma posição com diretoria”.

Segundo ele, os diretores dos grupos deveriam ser um exemplo para os jovens.  “Esse pensamento da diretoria vem desde os anos 60, quando eu cheguei no Brasil percebíamos isso, uma rusga entre grupos folclóricos sem necessidade nenhuma. Esse ranço vem até hoje através dos diretores, a nova molecada não pensa dessa forma”. Para ele, é importante acompanhar o movimento dos jovens, dar espaço e não os contrariar, para manter a sua ligação com as comunidades.

“Lógico, nós temos os cabelinhos brancos para auxiliar. Mas as ideias novas são na maioria muito boas. Temos que acompanhar o movimento dos jovens e não ir contra eles, pois hoje temos poucos portugueses vindo para o Brasil, e até os que vêm pouco interesse tem pelas nossas próprias coisas, então louvado seja essa rapaziada nova, principalmente os que são brasileiros e não tem vínculo nenhum com a colônia portuguesa e gostam disso, parece que até mais que os nossos. Então vamos prestar atenção para isso, porque vamos acabar perdendo eles”.

Em Campinas o grupo folclórico tem todo o espaço para participar e recebe todo o apoio possível da entidade, afirma. “Eu passei por diversos grupos aqui em São Paulo, todos muito bons, nunca tive grandes problemas. Mas eu nunca vi uma casa para dar apoio para um trabalho de diretor de folclore ou ensaiador como a Casa de Portugal de Campinas”.

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