Fugindo da ditadura, cabo-verdianos imigram para Santos

Da Redação

Sob o domínio de Portugal, o arquipélago de Cabo Verde, na costa noroeste da África, era comandado pelo estadista Antonio Oliveira Salazar quando Francisco Tavares, hoje com 81 anos, decidiu deixar o país.

Desembarcou em Santos em 1960 e, dois anos depois, veio a esposa, Amandia Lopes Maduro Tavares, agora com 76 anos. A presença da comunidade cabo-verdiana no Brasil hoje é mais forte na região do ABC paulista, mas, em Santos, há vários representantes, que serão prestigiados no 1º Festival do Imigrante, com atrações entre esta sexta (4) e domingo (6) no Centro Histórico.

Há quase 60 anos na Cidade, o casal tem dois filhos brasileiros e três netos. Amandia é natural da Ilha de São Vicente. Francisco veio da Ilha de São Nicolau. Quando comparam suas terras de origem a Santos, impossível não pensar nas praias, principal referência tanto aqui como no arquipélago de ilhas vulcânicas.

‘’A ditadura salazarista atrasou Portugal em relação aos países da Europa. O negócio era imigrar. Vim me encontrar com minha irmã e logo comecei a trabalhar como gráfico. Anos depois, comprei um táxi’’, conta o imigrante, que acabou se tornando diretor de uma cooperativa de táxis em Santos.

A saudade e a ligação com a África continuam fortes. Em eventos especiais na família, é praticamente regra da casa o preparo da cachupa, prato tradicional de Cabo-Verde que leva canjica, tipos de feijão, legumes, verduras e carne de porco. ‘’É um prato forte, lá eles comem todo dia. Aqui todos gostam e ainda levam para casa’’, conta Amandia. A peixada, com bastante coentro e acompanhada de pirão, é outra comida comum na casa dos Tavares.

Um português

Santos é uma das cidades mais portuguesas do Brasil. E um dos portugueses da cidade, dono de uma retífica no Centro, é um dos milhares de representantes da comunidade portuguesa que serão prestigiados no 1º Festival do Imigrante.

As lembranças da infância de Beira Alta, no distrito de Coimbra, em Portugal, estão mais distantes. Afinal, o empresário Antonio Baltazar Garcia tinha apenas 7 anos quando chegou a Santos. Mas, a história da família, assim como as de muitos portugueses que imigraram para o País, é repleta de desafios e superação.

Cerca de 1 milhão de portugueses cruzaram o oceano até a década de 1960. Garcia desembarcou no Rio de Janeiro em 1947, após uma longa jornada de 13 dias. Mais do que mudar de país, a viagem foi cercada de uma expectativa maior: conhecer o pai, que deixou a esposa grávida quando decidiu vir para o Brasil em busca de novas chances de vida.

Em Santos, o pai de Garcia, já instalado como estivador, fez o mesmo que muitos outros portugueses: comprou uma padaria, no Marapé, e foi morar com a família na parte de cima do imóvel. Tempos depois, vendeu e comprou outra. E em meio à vida empreendedora, visitava Portugal anualmente com a esposa, mas o filho só conseguiu retornar cerca de 40 anos depois. ‘’Vivemos anos difíceis aqui até nos estabelecermos’’, lembra.

Viúvo e pai de dois filhos, Garcia, que está com 79 anos, trabalha com uma retífica de motores no Centro e sente que Santos é sua casa. ‘’Eu gosto de Portugal, é uma delícia de país e lá as coisas são bem diferentes. Mas vim muito pequeno para cá e fui muito bem acolhido pela Cidade. Não troco por nada’’.

Festival

Shows, teatro e oficinas fazem parte da programação do 1º Festival do Imigrante, que será aberto na noite desta sexta-feira (4). O sábado (5) será o dia de atividades dedicadas à comunidade africana, com a apresentação, a partir das 12 horas, dos Amigos do Balé Afro de Santos e da Banda Querô-Arte no Dique.

Às 18h desta sexta, será aberta a Praça de Alimentação, que ocupará a área externa do Santuário de Santo Antônio do Valongo com barraquinhas de comidas típicas de nove países. A abertura do evento será às 17h, com a saída do Bonde das Nações, com representantes dos países homenageados durante o festival, e, às 19h, show Rita Lee, com a cover oficial Nyna Lee e o grupo Rock’nboles.

Até domingo, no Santuário do Valongo, o público poderá saborear temaki, hot roll (sushi empanado) e guioza (pastel típico oriental) na barraca do Japão; bolinho de bacalhau e doces variados no espaço português, e até paella, no da Espanha.

Esfiha e doces típicos estarão em destaque na barraca dos países árabes, enquanto a da França oferecerá crepes salgados e doces, e a do Brasil, espetinhos e brigadeiro.

O típico fish and chips (peixe e fritas) do Reino Unido disputará as atenções com hambúrgueres, rosbife e costelinha de porco ao molho barbecue, ao passo que, no espaço da Alemanha, o forte será a carne de porco.

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