Estudantes estrangeiros duplicaram numa década mas falta oferta em inglês

No ano letivo 2019/20, dos quase 50 mil estudantes internacionais, 40,63% eram provenientes do Brasil

Da Redação com Lusa

O número de estudantes estrangeiros no ensino superior português mais do que duplicou na última década, mas a “fraca oferta” de cursos em inglês faz com que sejam, maioritariamente, falantes de português, segundo estudo do Edulog.

O estudo ‘Estudantes nacionais e internacionais no acesso ao ensino superior’ hoje divulgado pela Fundação Belmiro de Azevedo mostra que há mais alunos estrangeiros a escolher Portugal para estudar, mas muitas instituições continuam a ignorar as recomendações feitas pelo Governo há sete anos.

Em 2014 o relatório “Uma Estratégia para a Internacionalização do Ensino Superior Português” apresentava várias advertências que, segundo o estudo hoje divulgado, “não foram aplicadas”. Uma delas era a importância de ter formação educativa ministrada em inglês.

No ano letivo 2019/20, dos quase 50 mil estudantes internacionais, quase três em cada quatro (72,9%) falavam português: 40,63% eram provenientes do Brasil e 32,29% da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Dos restantes cerca de 13 mil alunos destacavam-se os jovens oriundos de Espanha, França, Itália e Alemanha, “havendo comunidades importantes de lusodescendentes em, pelo menos, alguns destes países”.

Para os investigadores do Edulog, esta realidade significa que se “mantém uma das fragilidades do processo de internacionalização resultante da fraca oferta de ciclos de estudo na língua inglesa”, uma questão que tinha sido abordada nas recomendações do relatório, “aparentemente sem grandes resultados”.

Os investigadores salientam ainda o facto de o Estatuto do Estudante Internacional excluir os alunos internacionais da possibilidade de se poderem candidatar a bolsas de estudo. Apenas os estudantes da CPLP são elegíveis, “o que coloca as nossas instituições em clara inferioridade num mercado de ensino superior concorrencial e globalizado”, refere o documento hoje divulgado.

Outro dos problemas detetados prende-se com a burocracia para se conseguir obter os vistos dos estudantes extracomunitários.

 O estudo alerta que nunca chegou a ser implementada a Via Verde, que era também proposta no relatório de 2014, e aponta para a ausência de uma coordenação nacional entre os organismos intervenientes no percurso dos estudantes internacionais.

Ao nível das motivações para o recrutamento de estudantes internacionais, as instituições apontaram razões culturais e acadêmicas, mas também houve quem identificasse razões econômicas e de sustentabilidade como o principal motivo para a sua internacionalização.

Já a respeito dos desafios apontados, o porta-voz do estudo, Alberto Amaral, alertou para o gradual decréscimo da taxa de natalidade em Portugal e para a necessidade de ter em Portugal esses estudantes estrangeiros.

Num futuro próximo, haverá uma redução de jovens portugueses a ingressar no ensino superior e por isso a internacionalização do ensino superior português será “uma das principais estratégias de suporte à sustentabilidade das instituições, e por isso é imperativo começar a adotar medidas que mitiguem as dificuldades no desenvolvimento internacional do nosso sistema de ensino”.

O Edulog recomenda um maior investimento no financiamento da investigação acadêmica, para melhorar a visibilidade internacional do país a nível científico.

Além disso, defende a promoção de uma oferta formativa em inglês, precisamente para conseguir atrair estudantes além dos provenientes dos países de língua oficial portuguesa.

A criação de um “visto de estudante”, com base numa burocracia simplificada, tal como já acontece, por exemplo, na Alemanha, Polónia e Suécia, é outra das recomendações do estudo nesta segunda-feira divulgado.

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