Estabilizou fluxo de emigrantes da Venezuela para Portugal

Mundo Lusíada
Com Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, declarou que o fluxo de portugueses da Venezuela para Portugal estabilizou, mas que se registra um aumento dos que estão a migrar para outros países da América Latina.

“Depois de um fluxo bastante intenso, os valores estabilizaram. Estimamos em menos de 10 mil os cidadãos portugueses, luso-venezuelanos ou cidadãos venezuelanos com ligações familiares a cidadãos portugueses ou luso-venezuelanos que tenham vindo para Portugal, quer para a Madeira, quer para o continente desde há dois anos”, disse.

Santos Silva adiantou ainda que se tem registrado um aumento de cidadãos de nacionalidade venezuelana que pediram autorização de residência em Portugal e de pedidos de nacionalidade por parte de descendentes de portugueses.

“Temos notado esse aumento designadamente nos consulados de Caracas e Valência e, por isso, os ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Justiça reforçaram os seus meios para que esses processos de nacionalidade sejam despachados no mais curto prazo”, referiu.

O ministro adiantou que não existem informações de que haja portugueses ou luso-venezuelanos “envolvidos nos fluxos de migração e no conjunto daqueles caracterizados como refugiados”, que a partir da Venezuela têm ido para a Colômbia, Brasil ou Equador.

“Mas temos notícia, através dos consulados ou secções consulares em países como a Argentina, Colômbia, Chile, Panamá e o próprio Brasil, da subida, ao nível das centenas ou poucos milhares, de cidadãos com nacionalidade portuguesa que viviam na Venezuela e que agora estão a migrar para esses países”, revelou.

Augusto Santos Silva lembrou a suas visitas recentes à Colômbia e Panamá, sublinhando o empenho do Governo português na regularização dessas pessoas.

“Junto das autoridades venezuelanas, temos defendido os interesses da comunidade portuguesa, designadamente daquela que contribui muitíssimo para a economia venezuelana […] e que não pode ser prejudicada por medidas de política econômica tomadas pelo governo venezuelano”, disse.

2 mil no mercado de trabalho

Somente na Madeira, cerca de 2 mil emigrantes da Venezuela foram colocados no mercado de trabalho desde 2016 pelo Instituto de Emprego, segundo o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, sublinhando que o apoio à comunidade vai prosseguir.

“Estamos, o povo da Região Autônoma da Madeira, de braços abertos a acolher nas melhores condições e na medida das nossas possibilidades os concidadãos que regressam da Venezuela em situação de precariedade”, assegurou.

“Não vão dizer que estamos a colocar pessoas na rua [fora] da Madeira”, advertiu Miguel Albuquerque, reforçando que a “obrigação” do governo é criar oportunidades de trabalho para quem quiser trabalhar em qualquer parte do país.

O número de emigrantes venezuelanos inscritos no Instituto de Emprego da Madeira atingiu os 2.986 em 2016, mas atualmente cifra-se em cerca de 1.000.

“Tudo temos feito para apoiar em todas as circunstâncias e em todos os vetores os nossos concidadãos que foram obrigados a sair da Venezuela em circunstâncias de precariedade”, realçou o governante, vincando que isso configura um “ato de reconhecimento e de gratidão” pela comunidade luso venezuelana.

O governante falava durante a assinatura de um protocolo com a Herdade Vale da Rosa, que permitirá o acesso a 24 vagas de emprego na área da agricultura, em Ferreira do Alentejo. Segundo o administrador do local, António Silvestre Ferreira, os emigrantes são “pessoas extremamente capacitadas” para ajudar a empresa a “tornar-se mais eficiente”.

Silvestre Ferreira contou que também foi emigrante e viveu 22 anos no Brasil, na sequência da ocupação das propriedades da família no Alentejo, por altura da revolução de 25 de Abril de 1974. “Sei perfeitamente o que é [ter de] abandonar um país depois de nos espoliarem dos bens. Portanto, os nossos irmãos vindos da Venezuela são bem-vindos no Vale da Rosa”, afirmou, lembrando que já dá emprego a 30 lusodescendentes.

O responsável indicou ainda que a empresa se dedica à produção de “uvas de mesa de grande qualidade”, que exporta para diversos países, e emprega entre 250 e 1.000 pessoas, sobretudo na época das colheitas.

Deixando o Brasil

Enquanto isso, cerca de uma centena de imigrantes venezuelanos que viviam em barracas perto de um abrigo na zona sul da cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima, já deixaram o Brasil. Os imigrantes venezuelanos foram recolhidos em autocarros fretados pela igreja católica da Venezuela e partiram em direção à cidade de Caracas.

No último sábado, outros 100 imigrantes já haviam retornado à Venezuela em dois autocarros que levaram sem-abrigo que viviam nas proximidades de um abrigo chamado Jardim Floresta, na zona oeste de Boa Vista.

As saídas foram motivadas pelo aumento da tensão na capital de Roraima onde na última quinta-feira um venezuelano, José Rodrigues, de 21 anos, foi linchado por um grupo de brasileiros depois de realizar um assalto e uma tentativa de fuga em que matou um brasileiro, de 35 anos.

Este incidente aconteceu dias depois do Presidente do Brasil, Michel Temer, ter anunciado a mobilização de 3.200 soldados para reforçar a segurança no estado de Roraima. Há cerca de um mês a cidade de Pacaraima, que fica na fronteira do Brasil com a Venezuela, foi palco de um grande conflito em que 1.200 venezuelanos foram expulsos das ruas após um assalto a um comerciante brasileiro.

De acordo com dados oficiais, desde 2017 entraram no Brasil 154.920 venezuelanos por via terrestre na cidade de Pacaraima, mas cerca de 79.402 regressaram ao seu país. Dos que decidiram permanecer no Brasil, mais de 5.000 imigrantes vivem em abrigos construídos em Boa Vista e dependem da ajuda humanitária do governo brasileiro e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.

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