Emigração: Violência doméstica “é equivalente” entre franceses e lusodescendentes

Da Redação
Com Lusa

O psicólogo Manuel dos Santos Jorge considerou que a violência doméstica em França tem hoje números equivalentes entre franceses e portugueses, face à emigração de 1960/70, quando dificuldades de adaptação e “relacionamento autoritário” trazido de Portugal “geravam violência”.

Em 2017, morreram em França 130 mulheres vítimas da violência por parte dos seus companheiros. Um número que aumentou face a 2016 e que levou o Governo francês a apresentar no final do ano passado um portal online para a denúncia de violências sexuais e de gênero, de forma a facilitar a interação das vítimas com as autoridades.

Não havendo números oficiais sobre a repartição destas vítimas entre as diferentes comunidades de imigrantes em França, o psicólogo português com mais de 40 anos de experiência de trabalho com as comunidades de língua portuguesa nos arredores de Paris considera que “a percentagem de franceses que sofrem com a violência doméstica deve ser equivalente à percentagem na comunidade portuguesa”.

“Penso que houve graves problemas de adaptação na questão da violência nos primeiros 20 anos após a chegada dos portugueses nos anos 60 e 70. […] A mulher portuguesa adaptava-se muito melhor à maneira de viver em França e o marido ficava numa esfera de vida entre o café, o futebol e era como se vivessem ainda em Portugal”, afirmou o psicólogo.

Este início de emancipação da mulher portuguesa em França foi facilitado pelo trabalho com “as patroas franceses que serviam de mediadores na família”, referiu ainda Manuel dos Santos Jorge. O psicólogo sublinhou que foram estas mulheres francesas que levaram as portuguesas a denunciar às autoridades os abusos sofridos por elas e pelos filhos e também a mudar os padrões de relacionamentos trazidos de Portugal.

“Aquele respeito autoritário entre o homem e a mulher que vinham de Portugal, já não existe. A relação hoje é baseada nos costumes franceses”, indicou Manuel dos Santos Jorge.

Se a situação mudou, há uma questão que para Luísa Semedo, que é coordenadora da Santa Casa da Misericórdia de Paris e antiga presidente da Coordenação das Coletividades Portuguesas em França, se mantém.

“As mulheres emigrantes estão numa situação de vulnerabilidade maior do que estariam em Portugal porque não têm aqui familiares e estão isoladas. […] No meu trabalho vejo situações de grande precariedade e algumas são mulheres que sofrem de violência e que vão parar à rua, porque o homem com quem estão é violento e não há estrutura familiar para as apoiar”, afirmou.

Luísa Semedo considera que, atualmente na comunidade portuguesa, “já há outra mentalidade e as mulheres têm outra voz e outra força”, mas que a temática deve ser mais falada junto das associações e dos lugares de encontro privilegiados dos portugueses e lusodescendentes.

“[Falar sobre a violência doméstica dentro da comunidade] não tem sido uma prioridade, mas é muito importante falar-se mais e é preciso que as pessoas não fiquem isoladas nessas situações”, considerou.

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