Em coletiva de imprensa, Clube Português de São Paulo presta suas contas

Por Eulália Moreno Para Mundo Lusíada

Atendendo a um convite formulado pela Diretoria do Clube Português de São Paulo, a imprensa luso-brasileira esteve na coletiva realizada nas instalações da instituição, na qual também participaram algumas personalidades de destaque na vida social, cultural e filantrópica da comunidade portuguesa, dentre as quais o prof. João Alves das Neves, Ildefonso Garcia e Fernando Ramalho. O que se pretendeu com essa coletiva foi o esclarecimento de dúvidas quanto a supostas irregularidades na administração do Clube Português que, neste ano de 2010 comemora os seus 90 anos de existência, irregularidades essas defendidas pelo capitão José Verdasca dos Santos e corroboradas por mim.

Para além das prestações de contas previstas nos Estatutos das Associações, os portugueses, luso-descendentes e amantes da cultura portuguesa merecem ser informados das alegrias, tristezas, anseios e decepções da vida associativa para que, mesmo não sendo sócios de nenhuma, acabem por conhecer e partilhar a luta de homens e mulheres que, muitas vezes, com o sacrifício da sua vida pessoal se dedicam a promover e preservar a cultura e a História de Portugal na Diáspora.

Numa atitude de respeito pelo que a imprensa e a Comunidade luso-brasileira representam promoveram essa coletiva, disponibilizando-se a sua Diretoria a responder a toda e qualquer questão. De início foi facultada uma visita as instalações do Clube onde pudemos constatar que os jarrões de prata de quase um metro de altura e os belíssimos móveis ali se encontram, em excelente estado de conservação. Na Biblioteca, através da funcionária dona Águeda, pudemos conhecer uma originalíssima edição de Os Lusíadas e saber que os 40 mil livros que, na realidade , nunca foram tantos assim, hoje, segundo o último inventário somam aproximadamente 12 mil volumes sendo que muitos deles (edições duplicadas que eram adquiridas para que vários sócios pudessem lê-los simultaneamente) foram doados a entidades filantrópicas cuja relação também foi disponibilizada para consulta. O Jogo de Cristal quebrou-se ao longo dos anos mas muitas peças ainda resistiram e se encontram guardadas na sede do Clube aguardando o momento de serem exibidas numa exposição que ali terá lugar, em breve.

90 Anos de História As dúvidas sobre a legitimidade da atual Diretoria em exercício do Clube Português foram a razão principal para a coletiva que teve lugar nas instalações do Clube.

Há 90 anos nascia em São Paulo o Clube Português fundado por emigrantes notáveis, dentre eles, o arquiteto Ricardo Severo e o empresário Antonio Pereira Ignácio. A sua primeira Diretoria teve como presidente Antonio Pereira Ignácio tendo sido oficialmente inaugurado no dia 29 de janeiro de 1921.

Em 13 de julho de 1929 lançaram-se os alicerces da Biblioteca Portuguesa de São Paulo considerada como de Utilidade Pública pelo Governo Português nos termos do Decreto número 23.450 de 10 de janeiro de 1934. A Revista Portuguesa, lançada em 9 de junho de 1929 sob a direção de Ricardo Severo tornou-se órgão de comunicação da Câmara Portuguesa de Comércio e do Clube Português. Nela colaboraram destacados intelectuais da época. Outras iniciativas editorais do Clube Português foi o jornal Portugália. Ao longo destes 90 anos várias foram as personalidades que visitaram as instalações do Clube Português, dentre elas os aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho, escritores, conferencistas e declamadores.

Depois de permanecer durante vários anos na avenida São João, em frente ao edifício dos Correios, época em que chegou a ter mais de 5 mil associados, o Clube Português, sob a presidência de Isidro Pedro dos Santos Costa, edificou o prédio da rua Turiassú, 59, em Perdizes, um dos bairros nobres desta cidade, que foi inaugurado em 16 de fevereiro de 1967. Mario Francisco Antunes sucedeu-o construindo a piscina e um ginásio-poli-esportivo. As gestões seguintes foram presididas por Joaquim Justo dos Santos, José de Oliveira Magalhães, Abel da Câmara Martins, Ernesto Alves do Rêgo e Manoel Dias Pinheiro. Declarado de Utilidade Pública pela Lei Estadual de 23 de Novembro de 1971, o Clube Português é hoje presidido por Rui Fernão Mota e Costa. Mas atualmente conta com apenas 93 sócios que pagam a quantia de 40 reais, mensalmente. Legitimidade da atual Diretoria Na Assembléia Geral Extraordinária realizada no dia 28 de junho de 2007 foram aprovados os novos Estatutos Sociais do Clube Português, registrados sob o número 563774 de 9 de abril de 2008 no 3º. Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica. Na coletiva de esclarecimento, a Diretoria do Clube Português apresentou a cópia manuscrita da Ata de sua eleição ocorrida em Março de 2010. Face a esse documento, a Diretoria atual está legitimamente eleita. Longa vida ao Clube Português O Clube Português, tal e qual outras Associações luso-brasileiras, padece com o fim do surto emigratório para o Brasil. Os executivos que hoje para cá se deslocam não trazem na cabeça, tampouco no coração, a vontade se estabelecerem ou de criarem algum vínculo afetivo. Enquanto isso e por vezes à custa de sacrifícios pessoais, muitos dirigentes associativos debatem-se com graves problemas para divulgar a cultura e fazer mais por Portugal do que Portugal tem feito por eles.

O Clube Português possui instalações privilegiadas, num bairro tranqüilo de São Paulo e tem, através da sua Diretoria, terceirizado a exploração desses espaços para vários eventos. Tem uma gestão empresarial, voltada para rentabilizar o local tornando, assim, possível realizar outras iniciativas voltadas para a divulgação da cultura portuguesa, como previsto nos seus Estatutos.

Trata-se de receitas que hoje nos conferem o direito de afirmar, sem sombra de dúvida, que o Clube Português de São Paulo é uma das mais bem sucedidas Associações luso-brasileiras. Nos planos do Clube Português para o biênio várias iniciativas, condizentes com uma Associação que está “bem das pernas”: incentivo aos Veteranos do Folclore que ali tem espaço para os seus ensaios, espetáculo de Roberto Leal, eventos alusivos aos 90 anos, lançamento de um livro de autoria do Prof. João Alves das Neves com a história do Clube, exposição de quadros e livros que fazem parte do patrimônio e a construção de um auditório. Não fosse o capitão José Verdasca dos Santos sair a público exteriorizando as suas dúvidas, talvez o Clube Português não tivesse razão alguma para vir também a público, e nos trazer a verdade dos fatos. E já agora, num artigo publicado no Portugal Club, escreveu e desejou o Capitão Verdasca que tudo se esclarecesse, que tudo fosse falado, que as almas fossem definitivamente, lavadas.

No último fim de semana, os salões do Clube Português abriram-se para um Bingo cuja receita reverte para o Lar da Provedoria da Comunidade Portuguesa que presta assistência a idosos, a carenciados e a presidiários portugueses que cumprem pena nas tenebrosas cadeias brasileiras. A idéia proposta pelo capitão José Verdasca para que fosse feita uma fusão do Clube Português com o Lar da Provedoria de forma a garantir uma segurança a essas pessoas que dependem da nossa solidariedade, talvez tenha sido um pensamento em voz alta.

Portanto, avancemos, procurando pontos em comum nas muitas coisas que nos unem e reduzindo ao mínimo, as poucas que nos separam.

O Antigo Clube Português O escritor português José Verdasca declarou, em alguns artigos publicados na internet, que a atual diretoria do Clube Português de São Paulo não era legítima. Ele que já participou como membro do conselho, teve sérias divergências no passado com o Conselho Deliberativo presidido por Rui Costa, tendo portanto denunciado “graves irregularidades na contabilidade”. Além disso, ele cita o desaparecimento de diversos artigos históricos e patrimônio mobiliário, como jarros e cristais, além da coleção de obras que, segundo ele, chegou aos 45 mil livros no passado.

Em seus textos, ele acusou ainda a associação de cada um dos dirigentes ocuparem dois cargos na diretoria, citando falhas no Conselho Fiscal. Diante disso, o Clube Português marcou uma reunião com a imprensa para prestação de contas e esclarecimento de todos os pontos.

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