Eleições no Brasil, o que dizem os brasileiros no exterior

Mundo Lusíada
Com agencias

Protesto em frente ao Consulado do Brasil em Lisboa. Foto: Rodrigo Sene/Mundo Lusíada
Protesto em frente ao Consulado do Brasil em Lisboa. Foto: Rodrigo Sene/Mundo Lusíada

Os brasileiros vão as urnas no próximo 05 de outubro, são 11 candidatos concorrendo ao cargo de Presidente da República e ainda serão escolhidos pelos brasileiros os governadores dos 26 estados e do distrito federal, além de deputados estaduais, deputados distritais, senadores e deputados federais.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Brasil possui 32 partidos registrados no órgão e um total 142 milhões de eleitores, dos quais 354.184 votantes no exterior. Os brasileiros que vivem no estrangeiro só votam para Presidente.

Portugal
Os brasileiros que vivem em Portugal estão divididos na preferência pelos candidatos às eleições presidenciais. Em Portugal residem 92.120 brasileiros, de acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). No país, há 17.286 eleitores brasileiros registrados em Lisboa, 12.374 eleitores no Porto e 1.250 em Faro.
Alguns se colocaram como decepcionados com o atual Governo do Partido dos Trabalhadores (PT), há quase 12 anos no poder. “O PT já está no poder há muito tempo e tem de haver mudança, pois um partido só não pode ficar tanto tempo assim no poder”, disse à Lusa Meire Andrade, que vive há cerca de sete anos em Portugal.
A manicura Rosilaine Lima concorda, referindo que “o que faz falta agora no Brasil são melhorias na educação e na saúde”, sublinhando que a economia melhorou “um bocadinho”. “Os amigos e conhecidos falam que nem vale a pena votar, porque não vai haver mudanças, vai tudo continuar na mesma”, disse Rosilaine Lima, sublinhando que os escândalos de corrupção contribuíram para este sentimento de decepção em relação à política.
“Não consegui tratar da minha saúde como deveria ser e meus filhos, que foram para a escola pública, sentiram a diferença em relação ao ensino em Portugal, que é muito melhor, então, decidimos voltar” à Lisboa, declarou Rosilaine Lima, que está em Portugal há 12 anos.
Meire Andrade disse ainda que os programas sociais dos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff trouxeram benefícios, e ajudaram muitas pessoas. Mas a cabeleireira vai “apostar em Marina Silva”, candidata presidencial pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). “Estávamos confiantes que a Dilma (Rousseff) faria alguma de diferente, como fez o Lula (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva). Mas, afinal, não tem seguido os parâmetros dele, está diferente, para pior” disse Meire.
Rosilaine disse que viveu em Belo Horizonte quando Aécio Neves foi governador do estado de Minas Gerais (2002-2010) e aprovou a sua gestão, dizendo que o candidato presidencial do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) “realmente trabalha”.
Já o gerente Carlos Vianna, há 26 anos em Portugal, disse que respeita muito Dilma Rousseff, mas acredita que a Presidente está “muito condicionada nas suas intenções pelo esquema que o PT optou há anos de coligação com setores muito conservadores da política, que impedem e vão continuar a impedir certas reformas estruturais que o país necessita”.

Angola
Os brasileiros instalados em Luanda querem voltar, dizem que “há que ter fé” no país, mas não escondem “desilusão” com o mandato de Dilma Rousseff na presidência do Brasil.
Luís Dias, um “baiano” de 40 anos, começou a aventura angolana em 2009 e, à Lusa, já vai dizendo que tem as malas “quase prontas” para regressar à terra. “Quero voltar, mas aqui é uma maravilha, até em termos de segurança, comparado com o Brasil. A gente espera que o nosso país fique melhor depois destas eleições”, referiu este empresário, que se estabeleceu em Luanda com duas pizzarias.
A família ficou em Salvador, Bahia, e por isso as viagens entre Brasil e Angola são constantes, o que o faz “sentir na pele” a realidade brasileira. “Muitos impostos, a vida muito cara. Dizem que Luanda é a cidade mais cara do mundo, mas eu chego ao Brasil e é quase a mesma coisa, assim não dá”.
Críticas partilhadas pela “carioca” Vanessa Martins, gerente comercial de 29 anos numa das muitas lojas brasileiras no bairro de São Paulo, na capital angolana.”A política brasileira tem de mudar muito e pensar mais no povo. O Eduardo Campos podia ser uma solução, mas agora, entre as duas [Dilma Rousseff e Marina Silva], já não sei não”, contou.
Carlos Eduardo, um empresário de 30 anos, leva mais longe a desilusão brasileira em Angola, não fosse natural de Pernambuco, o estado que foi governado por Eduardo Campos, candidato presidencial do PSB que morreu a 13 de agosto num acidente de avião. “Fiquei em choque com a morte dele. Foi um grande governador na minha terra e podia fazer um grande trabalho pelo país”, reconheceu.
Ao serviço de uma grande multinacional brasileira instalada em Angola, Ali Manuel, 34 anos, prefere pensar que a agora recandidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, está a ser “um pouco injustiçada”. “Cometeu erros como toda a gente, mas estão caindo muito em cima dela. Acho que ela também tem os seus méritos”, afirmou.

França
Em Paris, há muitos brasileiros indecisos no voto para as presidenciais porque “desde a democratização do Brasil nunca se teve uma eleição tão incerta”, disse à Lusa Gabriel Brust, jornalista brasileiro a residir em Paris.
Gabriel Brust vive há cinco anos na capital francesa e foi convocado para ser “mesário” no Consulado-Geral do Brasil em Paris nas eleições. “São ao redor de 30 mil brasileiros por aqui. É difícil avaliar o que a comunidade brasileira em França está achando sobre isso [as eleições]. Não é um grupo homogêneo. Vou ter um contato maior com as pessoas no Consulado, no dia do voto”, precisou.
Alfredo Valladão, professor na universidade Sciences-Po em Paris, realçou que a diáspora brasileira “é uma gota de água comparada com as dezenas de milhões de eleitores no Brasil”, mas destacou a importância destas eleições porque “o Brasil está a chegar ao final de um ciclo”. Alfredo Valladão disse considerar, “como qualquer brasileiro”, que “está na hora de uma grande mudança no Brasil”, mas não avança, para já, o nome do candidato em quem vai votar.
“O governo da Presidente Dilma Rousseff foi um fracasso até agora. O candidato Aécio Neves, do PSDB, é o que tem o programa mais claro e os quadros mais interessantes para tentar administrar o Brasil de maneira diferente, mas a Marina Silva está encarnando uma vontade muito importante no Brasil de uma mudança na maneira de fazer política”, disse.

EUA
Os cerca de milhão e duzentos mil brasileiros que vivem nos Estados Unidos, e fazem do país a nação estrangeira com mais eleitores, estão a olhar atentamente para as eleições presidenciais. Nestas eleições, 112.252 brasileiros, distribuídos por dez cidades norte-americanas, poderão votar. Miami é a cidade com mais eleitores registrados (22.294), seguido de Nova Iorque (21.240) e Boston (18.181).
Em Newark, no estado de Nova Jérsia, o diretor do Brazilian Press, o maior jornal da comunidade no país, disse à agência Lusa que “as pessoas estão mais atentas do que alguma vez estiveram”. “Há uns cinco anos, muita gente voltou para o Brasil. Tinham uma ilusão, que não foi o que encontraram quando lá chegaram. Agora já vemos pessoas a voltar”, disse Sílvio de Sousa.
No ano passado, quando milhares de pessoas foram para as ruas no Brasil, os protestos também chegaram a Nova Iorque, onde centenas de pessoas se concentraram no Zucotti Park.
Hugo de Melo, que está a fazer doutoramento em Ciência Política na City University of New York, também esteve no Zucotti Park no ano passado. E acredita numa vitória de Marina Silva – “se não acontecer nada desastroso até às eleições” – e encontra algumas qualidades na candidata, como “ter muita experiência política e nenhum escândalo envolvendo o seu nome, o que para um político no Brasil é louvável”.
Há quatros anos, Dilma Rousseff apenas conseguiu 26% dos votos dos eleitores em Nova Iorque. Em Washington, teve ainda menos apoio, 21%. “Infelizmente, não há um candidato ou partido considerado ideal. Então, quando a hora de escolher chegar, temos de esperar que seja o menos pior”, concluiu Hugo de Melo.

Manifestações
Os três principais candidatos à Presidência brasileira tentam propor soluções às reivindicações dos manifestantes que saíram às ruas em meados de 2013, como a reforma política e ações nas áreas de mobilidade urbana, saúde e educação. A maior participação popular na política é citada tanto nos programas da atual Presidente Dilma Rousseff e da ambientalista Marina Silva, como nas diretrizes de Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais.
Rousseff afirma que, se for eleita, terá como objetivos ampliar a democracia política e econômica, e uma lei anticorrupção. Marina Silva é a que mais se refere às manifestações, e prega “um novo modo de fazer política” para superar “a crise de representação”. A ambientalista quer “combinar” os movimentos tradicionais com os mais atuais, se pautando não por alianças de partidos mas por programas conjuntos. O programa da candidata também realça a cooperação com os países da CPLP desde a saúde pública até à logística eleitoral, e expansão da cooperação brasileira com África, com iniciativas nas áreas de educação, ciência, tecnologia e inovação.
Aécio Neves, terceiro colocado nas sondagens, sugere uma maior autonomia a cidades e Estados. As suas propostas, ainda não condensadas num programa de Governo, apontam que o executivo deve contar com a participação de grupos, ONG e movimentos sociais, ainda promete manter o Bolsa Família.
Na área da saúde, os três candidatos defendem a ampliação da rede de atendimento e o aumento nos investimentos para o setor – Marina e Aécio sugerem a vinculação de 10% do Orçamento para esta área. Os candidatos apresentam algumas propostas parecidas para a educação, mas com prioridades diferentes. O programa de Marina Silva, por exemplo, destaca estabelecer um período integral de aulas para o ensino primário. A Presidente Dilma Rousseff diz priorizar os investimentos em qualidade de ensino e escolas profissionalizantes, enquanto as diretrizes de Aécio Neves apontam para a concessão de bolsas de estudo em escolas privadas de ensino secundário e a adoção de medidas contra o abandono escolar.

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