Cerca de 200 mil emigrantes queriam, mas não conseguiram votar, segundo relatório

Mundo Lusíada com Lusa

De acordo com um inquérito sobre as legislativas de 30 de janeiro, divulgado nesta segunda-feira, 200 mil portugueses no estrangeiro não conseguiram votar por não receberem o boletim, principalmente devido ao mau funcionamento dos correios e problemas com endereços.

O “Relatório sobre as eleições para a Assembleia da República janeiro – março de 2022”, realizado pelo movimento Também Somos Portugueses (TSP), conclui que o sufrágio de 30 de janeiro ficou marcado por um conjunto de problemas, entre os quais o mau funcionamento dos correios, moradas desatualizadas, muitos votos anulados, problemas com o recenseamento, métodos de votação que dificultam o voto e falta de esclarecimentos.

No documento, o movimento recorda que, em 2019, tinham sido anulados 35.331 votos (22,33%), a maior parte devido à falta da fotocópia do cartão de cidadão.

“Em 2022, muitos portugueses continuaram a rejeitar o envio dessa fotocópia por razões de segurança”, lê-se no relatório, que acrescenta: “Esta questão deu origem à anulação de 80% dos votos no círculo da Europa e posterior repetição das eleições nesse círculo”.

O movimento defende, por isso, que “tem de ser encontrada uma alternativa para a validação dos boletins dos votos” e recomenda à Assembleia da República “uma alteração à lei eleitoral, de modo a substituir a exigência da fotocópia do cartão de cidadão pela escrita pelo eleitor do seu número de cartão de cidadão num papel que acompanhe o boletim de voto”.

Com base num inquérito a eleitores portugueses a residir no estrangeiro, que originou 787 respostas válidas, este movimento identificou 43,5% eleitores que queriam, mas não conseguiram votar.

“As principais causas estão relacionadas com o mau funcionamento dos correios e com problemas com as moradas onde devem ser recebidos os boletins de voto”, aponta o documento.

Em relação aos problemas com o recenseamento, o movimento refere que “há um problema com a renovação do cartão de cidadão”, pois “muitos portugueses no estrangeiro foram retirados dos cadernos eleitorais quando renovaram o cartão do cidadão, sem serem informados disso na altura”.

Recomenda o movimento que “seja revista a aplicação de renovação do cartão de cidadão, para que seja mantido o recenseamento dos cidadãos no estrangeiro, a não ser que seja expressamente pedida a sua retirada dos cadernos eleitorais”.

Em relação aos métodos de votação, o documento indica que há métodos de voto diferentes para eleições diferentes.

“É patente a confusão de muitos eleitores no estrangeiro devido aos diferentes métodos de votação nas diferentes eleições, com eleitores a deslocarem-se aos consulados para votar e serem mandados embora por não se terem registrado para votar presencialmente, quando esse tinha sido o método de voto nas eleições anteriores para o Presidente da República”, lê-se no documento.

Relativamente à anulação de 80% dos votos no círculo da Europa, que “originou a inédita decisão do Tribunal Constitucional de fazer repetir a votação nesse círculo”, o Também Somos Portugueses classifica-a de um “escândalo” que “levou a uma abstenção de protesto de muitos portugueses no estrangeiro, causando uma diminuição de votos na segunda edição das eleições”.

Entre os pontos positivos identificados pelo movimento, consta o recenseamento automático, que “voltou a mostrar-se essencial para o número recorde de votantes”, as alterações nos envelopes, que corrigiu problemas anteriores, a possibilidade de acompanhar o percurso das cartas com o boletim de voto através de um portal e a possibilidade de verificação da morada eleitoral.

Deputados

O aumento da participação dos emigrantes, nas anteriores eleições legislativas, poderá retroceder no próximo escrutínio se for mantido o mesmo número de deputados eleitos por estes círculos, alertou a direção do movimento TSP.

Nelson Rodrigues, na apresentação do relatório sobre as anteriores eleições para a Assembleia da República, considera que a participação dos emigrantes, pelos círculos Europa e fora da Europa, que aumentou na eleição de 30 de janeiro, justifica um número de deputados maior que o atual: quatro.

A participação dos emigrantes nas eleições para a Assembleia da República em 2022 foi marcada por um número recorde de votantes: 257.791, contados em 10 de fevereiro de 2022, aumento de 63% relativamente aos 158.252 votos em 2019.

Uma participação que, para este movimento, justifica um número maior de deputados por estes círculos, caso contrário os emigrantes portugueses poderão considerar que o seu voto não é devidamente levado em conta.

O presidente do TSP, Paulo Costa disse que a possibilidade do voto digital começa a apresentar menos resistências e acredita que o teste a esta modalidade, que será durante a eleição do próximo Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), deverá contribuir para o seu alargamento posterior.

O movimento defende que seja “implementado o voto digital”, uma vez que “80% dos inquiridos no inquérito escolheram-no como o método preferido – mas em acumulação com o voto presencial e o voto postal”.

No resultado da repetição no círculo da Europa, PS ganhou, PSD perdeu e Chega foi a terceira força política mais votada>>

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