Brasileiros são maioria entre dentistas a exercer em Portugal

Da redação

O número de alunos estrangeiros a estudar Medicina Dentária em Portugal mais do triplicou desde 2015, segundo um estudo da Ordem dos Médicos Dentistas (CMD), que revela ainda que há cada vez mais mulheres a exercer a profissão.

Perto de 90% dos inscritos na OMD têm nacionalidade portuguesa. O Brasil tem o maior contingente de médicos dentistas (583) a exercer em Portugal, seguido de Itália (242) e Espanha (171).“No ano passado, a taxa de feminização da profissão atingiu os 61%”, refere o estudo “Números da Ordem”, que reflete “os grandes números, estimativas e tendências da profissão”.

Entre alunos estrangeiros tem vindo a crescer de forma consistente, são maioritariamente oriundos de França (733), seguidos dos da Itália (255) e de Espanha (188). Segundo o estudo, há 3.771 estudantes inscritos nos sete mestrados integrados de medicina dentária existentes em Portugal e, destes, 1.454 (39%) são estrangeiros.

A Ordem tem 11.640 profissionais com inscrição ativa, o que significa que existe um médico dentista por cada 884 habitantes. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é de um médico dentista por 2 mil habitantes.

No ano passado, o número de médicos dentistas aumentou 3,8%, ou 513, face a 2019, ano em que entraram para a OMD 750 novos membros.

O crescimento de médicos dentistas tem sido constante nos últimos anos, ainda que tenha abrandado em 2020 para o valor mais baixo em mais de uma década. Em 2010, havia perto de 7 mil médicos dentistas inscritos na Ordem, ou seja, em dez anos registrou-se um aumento de mais de 66%.

A emigração também continua a crescer entre os médicos dentistas. O número de médicos dentistas com inscrição suspensa na Ordem aumentou no ano passado (95 ou 5,7%) para 1.770. No total, 12,5% dos médicos dentistas têm a inscrição suspensa. Destes, a maioria suspendeu a inscrição porque emigrou. França ultrapassou o Reino Unido como principal destino de trabalho para os médicos dentistas portugueses.

Saturação

Em declarações á agência Lusa, o bastonário da OMD, Miguel Pavão, alertou para o excesso de médicos dentistas em Portugal e, ao mesmo tempo, para a dificuldade de grande parte da população em aceder a cuidados de saúde oral por incapacidade econômica.

“Há uma saturação muito grande no mercado de trabalho. Portugal não tem capacidade para dar emprego digno a tantos médicos dentistas. A emigração é, infelizmente, a opção mais viável para os médicos dentistas mais jovens. É preciso alertar as gerações mais novas e respectivas famílias para esta realidade. Para além do excesso de profissionais, acresce que grande parte da população portuguesa tem dificuldade em aceder a cuidados de saúde oral por falta de capacidade econômica” alerta.

“Desde sempre aquilo que foi a integração de médicos dentistas e, por inerência, o apoio da saúde oral no SNS, através dos cuidados de saúde primários ou através dos cuidados hospitalares, ficou sempre muito negligenciada desde a criação há quatro décadas do Serviço Nacional de Saúde (SNS), lamentou.

Miguel Pavão lamentou que não se tenha conseguido cumprir a tentativa de reforma, desde 2017, de integrar os médicos dentistas nos cuidados de saúde oral, que começou por um projeto-piloto que tinha como meta 265 médicos dentistas integrados em 2020 no SNS.

“Foi uma falha redonda daquilo que era o objetivo e agora há uma nova ambição de repetir ou de reforçar através do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR]. Contudo, nós achamos que não são estes números de profissionais que vão (…) conseguir combater aquilo que é uma realidade e que diria até neste caso uma fatalidade para muitos jovens médicos dentistas portugueses”, vincou.

Para o bastonário, não será a integração de 300 profissionais no SNS que vão combater a situação de médicos dentistas que não vão ter emprego em Portugal.

No seu entender, é fundamental também pensar-se em programas que modernizem e melhorem o programa cheque-dentista e a criação de programas com uma parceria entre a vasta rede de medicina dentária no setor privado.

Observou ainda que o programa cheque-dentista ou o projeto-piloto de médicos dentistas nos centros de saúde apenas respondem a “uma parte ínfima da população”.

“Nesse sentido, julgo que o Plano de Recuperação e Resiliência falha por não contemplar uma reestruturação a nível público das unidades de saúde oral e por não contemplar uma carreira para os médicos dentistas para o SNS, mas falha também por não haver um investimento a nível do setor privado”, salientou.

Para Miguel Pavão, mais do que dos cuidados assistenciais tem de haver “uma valorização, pela prevenção e valorização”, com outras doenças, como a diabetes.

“É necessário reorganizar os cuidados de saúde primários, através das unidades de saúde oral e, por último, é necessário sabermos qual é o valor investido anualmente”, disse, defendendo que é necessária “uma dotação orçamental para a saúde oral, que não existe”.

Esta situação, fica “bem patente” no PRR, onde essa dotação não existe para a saúde oral, mas existe para outras áreas nomeadamente a saúde mental, frisou o bastonário.

Os locais com menos dentistas por habitante são o Baixo Alentejo e o Alentejo Litoral, com um rácio população/médico dentista superior a 2.000.

No extremo oposto, estão a Área Metropolitana do Porto, seguida das regiões de Viseu Dão-Lafões, Coimbra, Terras de Trás-os-Montes, Cávado e Área Metropolitana de Lisboa em que chega a haver um médico dentista para 674 habitantes.

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