A história artística da comunidade portuguesa nos 450 anos da cidade maravilhosa

Através de exposição de fotografias, Ginástico Português refresca a memória dos cariocas e revela tempos de ouro na elite cultural e artística do Rio.

 

GinasticoPortugues_450AnosRio

Por Igor Lopes
Mundo Lusíada

A Real Sociedade Clube Ginástico Português, localizado no Centro do Rio de Janeiro, inaugurou, no dia 6 de março, uma exposição de fotografias em comemoração pelos 450 anos de fundação da cidade maravilhosa. Até o dia 18 de dezembro, os cariocas terão uma oportunidade única de conhecer um pouco mais sobre a história artística do Rio através de imagens antigas que retratam profissionais de todas as artes em atuação nas instalações do tradicional clube.
Sob o título “O Cenário Artístico do Rio em Fotos da R. S. Clube Ginástico Português”, a exposição fotográfica presta homenagem à cultura artística carioca, apresentando dezenas de fotografias que funcionam como um registro fiel de tempos em que artistas de várias nacionalidades, incluindo brasileiros e portugueses, se apresentavam nos palcos do clube. As imagens mostram bandas musicais de renome, cantores de época e salão nobre lotado, num verdadeiro aplauso à cultura.
Ainda em tons de preto e branco, a fadista Maria Alcina surge encantando a plateia, enquanto o saudoso Chico Anísio não consegue disfarçar a sua típica feição de quem tem uma boa piada para contar. O teatro também tem o seu espaço garantido. Dercy Gonçalves e a sua ironia estão eternizadas nesta exposição.
Na opinião de Armênio Cardoso, presidente do clube e curador da exposição, o evento permite que a população tenha contato com fotografias que raramente ficam disponíveis para consulta pública, além de mostrar a importância do clube para a sociedade carioca.
“Todo esse material estava guardado na Sala da Memória, que não costuma ficar aberta, pois conta com um acervo importante. São artistas de renome que, durante todo esse tempo, se apresentaram nesta casa. Gente que fez a história da música no Rio de Janeiro. Paulo Gracindo, por exemplo, aprendeu a fazer teatro aqui dentro das nossas instalações. Cláudia Raia adorava se apresentar aqui. O Ginástico Português tem tido uma participação muito importante, formando artistas e trazendo outros para se apresentaram nesta casa. Tivemos peças de teatro que ficaram por mais de dois anos em cartaz. Com esse evento, provamos também que é possível celebrar os 450 anos do Rio e contar um pouco da história portuguesa nesta cidade”, sublinha Armênio Cardoso, que ressalta que, no final da exposição, “o material volta para a Sala da Memória”.
O projeto, idealizado por Luiz Murillo Tobias, vice-presidente do Instituto FUNJOR, que apoia a iniciativa, teve a sua realização “ameaçada”. Tobias comenta que não foi nada fácil convencer Armênio a expor as preciosidades bem guardadas na Sala da Memória.
“O presidente tem um cuidado e carinho especial com esse acervo, mas, com a chegada dos 450 anos da cidade e a inserção da exposição no calendário oficial dos festejos, ele entrou de corpo e alma no projeto. Vamos presentear os cariocas com um acervo especial”, revela Tobias.
Em representação do governo português, a cônsul-geral adjunta de Portugal no Rio de Janeiro, Susana Audi, afirmou estar impressionada com a força da comunidade portuguesa na cidade maravilhosa.
“É uma enorme satisfação constatar a forte presença portuguesa na vida artística carioca, em particular no Ginástico Português. Este acervo fotográfico que está à disposição de todos os cariocas é mais um exemplo de como Portugal e Brasil se encontram cada vez mais. Temos artistas que estão vivos e ativos, como a fadista Maria Alcina, e que nos proporcionam espetáculos belíssimos. No consulado, estimulamos e valorizamos esse tipo de trabalho”, atesta Susana Audi.
Cleide Estefânia, uma das dezenas de visitantes que estiveram presentes para a inauguração, realçou a importância de se recordar fatos históricos. “Para mim, foto é tudo. É uma coisa eterna. Podemos ver o desenvolvimento das pessoas, como os artistas eram e lembrar os seus feitos. Estou muito satisfeita de poder estar aqui”, confessa a espectadora.

Conexão com a história da cidade
Ao longo dos anos, o espaço social do clube, que foi fundado em 1868, e seu famoso teatro, inaugurado em 1938, tornaram-se lugar obrigatório para grandes nomes da arte na cidade do Rio de Janeiro, principalmente, nos anos de 1940 e inicio de 1960, quando a Rádio Nacional impulsionava o som de uma nação. Esses ídolos, como o maestro Heitor Villa-Lobos, eram figuras constantes nos eventos promovidos pelo Ginástico Português e mobilizavam a população carioca.
“Há alguns anos venho trabalhando na Sala da Memória do clube, regatando preciosidades históricas que se confundem com a própria história do Rio. Agora que a cidade festeja seus 450 anos, recebemos com alegria a proposta do Instituto FUNJOR para disponibilizar ao cidadão carioca uma parte especial dessa história”, declara Armênio Cardoso.

Desvendando o “local sagrado”
No dia da inauguração, Armênio Cardoso convidou a reportagem do Mundo Lusíada a conhecer a tão protegida Sala da Memória. Um local de grandes dimensões, onde quadros, louças, pratos comemorativos, mobiliário antigo, bustos de personalidades ilustres, troféus, diplomas e livros dividem espaço com um acervo infinito de fotografias de época, que retratam boa parte do cenário artístico do Rio de Janeiro no passado.
Logo na entrada, mesa e cadeiras datam dos anos de 1940. Conjuntos de mesas de xadrez, bem arrumadas, exibem com orgulho um tempo em que esse esporte fazia sucesso na cidade. Ao lado, apetrechos utilizados no jogo de sinuca.
Diante de um álbum bem cuidado, Armênio mostrou com nostalgia imagens de uma instituição que era referência na elite carioca. A obra mais antiga que se tem memória no clube data de 1899. E existem também curiosidades. Protegido do tempo e da poeira está um lenço, utilizado, em 1904, como convite para um evento social. A força-tarefa da diretoria do clube volta-se agora para os esforços de digitalizar todo o acervo existente e proteger as memórias da instituição.
A exposição conta com apoio cultural da EBC – Rádio Nacional do Rio de Janeiro e da Litteris Editora.

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