Quer Alguns!

O meu querido pai ADRIANO AUGUSTO DA COSTA nasceu em Portugal em 28 de Julho de 1902, e faleceu em São Paulo, no dia 31 de Dezembro de 2004, portanto, viveu exatamente 102 anos de idade mais alguns meses.

A sua vida foi espetacular no sentido da vivência, desde os primórdios de sua vinda para o Brasil com 11 anos de idade, ele já trouxe de eras lusitanas o canto do fado e da poesia, foi uma das pessoas mais amáveis de que possam existir e não estou falando por ter sido meu pai, mas, pelas circunstâncias da existência, da amizade, da educação e do carinho com as pessoas.

Nos primórdios da existência paulistana, embora tivesse desde praticamente criança que ganhar a vida, visto que, o meu avô, Francisco Manoel da Costa, lá em Portugal tivesse sido um grande comerciante, pois que, no fim do século 19, tinha uma frota de carroções e que transportada mercadorias de Bragança para a cidade do PORTO e como os ingleses construíram a ferrovia que ligava Bragança ao Porto, não teve mais atividades com os carroções, vendeu tudo e construiu em Carção/Vimioso um prédio de 3 andares, com lojas embaixo e tornou-se um grande comerciante, mas, com o falecimento de minha avó Libória de Oliveira, perdeu o interesse, vendeu tudo e como era uma época grande de emigração, partiu com os filhos para o Brasil.

Aqui chegando, moldado por uma grande melancolia, não se interessou por nada, mas, ainda foi integrante da Guarda Republicana, todavia, a saudade da sua Carção o levou à depressão e veio a falecer aos 57 anos de idade.

Adriano Augusto da Costa, nessa época, ainda muito jovem procurou a profissão de viajante, o que fez durante muitos anos, mas como ele trazia no cerne o fado, a poesia e a cultura adquirida por estudos particulares, em benefício dos seus companheiros emigrantes que aqui chegavam e não tinham nada de aprendizado, ele criou uma escola em sua própria residência para ensinar esse pessoal, seus irmãos lusitanos, a melhorar a sua cultura e à escola deu o nome de “AMIGOS DO SABER” e não existia qualquer remuneração, não existia mensalidades, nem anuidades, tudo era feito graciosamente e em benefício dos companheiros. Muita gente vinda de Portugal para São Paulo e mormente no bairro do Brás, na Rua Miler, melhoraram o seu aprendizado.

Como era envolvido nas coisas lusitanas, nos anos 40 do século 20, residindo no bairro do Tatuapé, aos fins de semana, junto com outros portugueses emigrantes que também vinham nessas levas mencionadas e que vendiam tudo em Portugal e aqui adquiriam terrenos e construíam as suas casas, ali no bairro do Tatuapé, aos fins de semana naquelas vendas (empórios), reuniam se cantavam o fado e declamavam as suas poesias e eu também na minha infância via e apreciava aquela gente maravilhosa que ao som de guitarras e violões cantavam o fado maravilhoso de Portugal e meu pai era um exímio guitarrista e violonista.

No ano de 1932, com a fundação do Centro Trasmontano de São Paulo, ele pertenceu às primeiras Diretorias do Centro e foi sempre um apaixonado por essa maravilhosa entidade, o que transmitiu à minha pessoa e ali nas décadas de 40, 50, 60, 70 no velho salão do Centro aprendi a amar cada vez mais a música portuguesa folclórica, seguindo depois por esta nova época do salão novo maravilhoso que o Centro Trasmontano de São Paulo nos deu, um primor da música folclórica de Portugal, onde entidades do folclore desfilam sempre.

Por obra Divina, meu pai como forma física viveu até os 102 anos de idade, sempre recordando a sua infância lusitana, da sua sempre amada terra CARÇÃO, TRÁS-OS-MONTES, PORTUGAL. E quando alguém lhe perguntava, “SEU COSTA, quantos anos o senhor têm”, ele sempre respondia galhardamente em referência à época já quase chegando aos 100 anos: “Quer alguns”.

 

Adriano Augusto da Costa Filho
Membro da Casa do Poeta de São Paulo, Movimento Poético Nacional, Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores, Academia Virtual Poética do Brasil, Ordem Nacional dos Escritores do Brasil, Associação Paulista de Imprensa, Associação Portuguesa de Poetas/Lisboa e escreve quinzenalmente para o Jornal Mundo Lusíada.

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