Fado no Brasil: Adélia Pedrosa

Por Thais Matarazzo

adeliapedrosaAdélia Pedrosa é uma das mais expressivas e versáteis intérpretes da música portuguesa no Brasil.

Nascida em 1941, em Leiria, Portugal; aos 12 anos transferiu-se para o nosso país. Fixou residência no Rio de Janeiro, então Capital Federal.

Incentivada por amigos, em 1958, aos 17 anos, fez sua estreia no Fado, ao participar do Programa dos Astros, na Rádio Vera Cruz, apresentado pelo fadista e compositor Joaquim Pimentel. Profissionalmente, Adélia começou no restaurante típico Fado, do cantor Tony de Matos.

Em 1964 se mudou para a capital paulista. Durante muitos anos cantou no celebrado restaurante Adega Lisboa Antiga, localizado à Rua Brigadeiro Tobias, nº. 280.

Em poucos anos de trajetória artística o êxito chegou para a fadista, viajando em excursão por todo o Brasil, Portugal e Argentina. Adélia Pedrosa gravou vários discos, tanto em Portugal como no Brasil, aparecendo em diversos programas, em grande parte das emissoras de televisão brasileiras.

Sobre a sua atuação nas noites de São Paulo, ela nos conta. “Foram tantas situações vividas em São Paulo que é difícil separar este ou aquele momento. Eu vim pra cá em 1964, tinha 22 anos, para realizar uma temporada na ‘Lisboa Antiga’. Anteriormente, no Rio de Janeiro, eu já havia trabalhado em vários restaurantes típicos.

Como não conhecia nada nem ninguém na Pauliceia, o fadista Manuel Taveira e o Joaquim, dono do restaurante, me levavam para passear quando terminava o trabalho na ‘Lisboa Antiga’.

Naquele tempo, a romiseta era um carro popular e o Joaquim tinha uma. Acomodava dois passageiros na frente e um atrás. Eu sempre ia atrás e entrava pela capota, o carro era pequenino. Íamos até o aeroporto de Congonhas tomar café. Era comum as pessoas irem passear no aeroporto e ver os aviões descendo ou levantando voo.

O Taveira e o Joaquim me mostravam os cartões postais da cidade. São Paulo era linda, bem diferente de hoje, e não tinha quase violência nas ruas.

Terminada essa temporada, fui convidada para ir cantar na Argentina. Na volta, conheci o pai da minha filha Cláudia e deixei de atuar durante dois anos.

Quando voltei, trabalhei muito nos restaurantes do Rio de Janeiro e de São Paulo. Não parava um minuto, havia muitas oportunidades de trabalho. Também viajei muito para as capitais do norte e nordeste.

Conheci muitos artistas portugueses de fama, porque a partir de 1964 ou 65, o proprietário da ‘Lisboa Antiga’, o Joaquim Saraiva – também dono do restaurante ‘Lisboa à Noite’, no Rio -, contratava como atrações para as suas casas vários fadistas, num intercâmbio artístico. Foi uma época maravilhosa. O Saraiva foi um empresário bem sucedido, juntamente com o Centro de Turismo Português, trouxe para o Brasil nomes como Ada de Castro, Três de Portugal, Cidália Moreira, Eugênia Lima, Maria Alice Ferreira e muitos outros.

Em 1974 aconteceu a chance de me tornar sócia da ‘Lisboa Antiga’, com a Terezinha Alves e o Joaquim Pimentel. Ficamos administrando o restaurante durante cinco anos e meio. Muitos artistas portugueses passaram por lá nesta altura. Nós éramos muito ‘paparicadas’ e vivemos boas emoções naquele endereço.

Na ‘Lisboa Antiga’ tínhamos um Santo Antônio. Ele tinha fama de casamenteiro, muitas pessoas levavam flores para ele e faziam pedidos.

Não aponto esse ou aquele restaurante como o mais importante na história do fado em São Paulo. Todos foram importantes e valorizaram a música portuguesa. Cantei em tantos lugares que não posso listar todos, alguns nem me lembro mais. Recordo das temporadas na ‘Adega da Mouraria’, do prof. João Fernandes; no ‘Solar dos Taveiras’, do Manuel Taveira; no ‘Fado’, da Maria Girão e Tony Silva; no ‘Solar dos Fidalgos’, do Abílio Herlander; na ‘Churrascaria da Moóca’, da Ilda de Castro; no ‘Avião’, em Santana, dirigido pela Irene Coelho, entre outros”.

 

 

Por Thais Matarazzo
Trecho do livro “O Fado nas Noites Paulistanas…” (2015), de Thais Matarazzo, Editora Matarazzo (São Paulo-SP).

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