Quem poupa tem, quem não poupa vive sem vintém

Todo mundo sabe que o governo brasileiro há alguns anos, tem incentivado o crédito para manter o mercado aquecido através da demanda. Isso é verificável na gestão Lula e também com Dilma. Por outro lado, técnicos do BIRD, o Banco Mundial, calculam que se os brasileiros também fizerem poupança, ajudarão no crescimento da economia. Segundo sua abordagem, a cada 1% que os brasileiros pouparem a mais, o impacto no crescimento nacional pode ser de 0,25 ponto percentual. Esse 1% mais guardado poderia elevar R$ 7,5 bilhões no PIB. Isto é uma estimativa, que considera os recursos poupados sendo transformados em investimentos, em outras palavras, gerando mais crédito para produção e empregos. Assim, para o Banco Mundial, uma educação financeira popular poderia ajudar muito ao país ter melhor desempenho com seus recursos e um futuro mais estável.

O termo recurso não se emprega apenas no âmbito da ecologia. O dinheiro é também um recurso importante para todos os cidadãos. Um recurso caro. E essa questão de se criar uma educação centrada numa maior racionalidade para a manutenção de sustentabilidade precisa visar também esse aspecto. Evitar, assim, desperdícios, gastos exagerados e errados. O consumo desenfreado, o gasto por impulso, pode na verdade acabar atrapalhando mais do que ajudar. Atualmente, apenas 21% da população brasileira têm o hábito de poupar. Em todo o mundo o BIRD já investiu US$ 12 bilhões em projetos de educação financeira atualmente em execução. No Brasil, a entidade tem parcerias educativas com a Bolsa de Valores de São Paulo, por exemplo.

Há notícias de que várias empresas já articulam cursinhos para seus funcionários aprenderem a lidar com seus ganhos, buscando alterar a viciada cultura do consumismo. Técnicos da FEBRABAN – Federação Brasileira dos Bancos apontam que um problema sério que ajudou a estimular essa cultura foi a inflação que o país vivenciou por várias décadas, especialmente nos governos Sarney e Collor. À época, o trabalhador ia para o supermercado comprar para o dinheiro não perder valor a fim de estocar produtos. O planejamento básico era esse: consumir o máximo antes que o pagamento ‘derretesse’ na mão. Preços eram remarcados diariamente, às vezes, de manhã e a noite. Uma loucura total.

O fato é que o Banco Central hoje está de olho na inadimplência dos cidadãos. Ou seja, com a expansão do crédito o pessoal se entusiasmou, pegou recursos e, gastou além do que devia. Isso acaba dificultando, inclusive, a desejada queda dos juros por parte do governo porque em seu cálculo os banqueiros inserem um percentual relativo a inadimplência. Assim, se os calotes aumentam, os juros não caem. É essa a lógica do setor bancário. Por exemplo, no final de abril, a inadimplência nos financiamentos para a compra de veículos feitos por pessoas físicas chegou aos 5,9%, um recorde. A CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo publicou relatório dizendo que no setor a parcela de famílias com dívidas ou contas em atraso teve aumento pelo quarto mês consecutivo. A Serasa-Experian, por sua vez, divulgou seu Índice de Inadimplência do Consumidor e registrou em maio a terceira alta consecutiva, com destaque para a não bancária, em outras palavras: cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços. Os valores médios dessa inadimplência foram, para as dívidas não bancárias, de R$ 369,72, significando alta de 17,5%; o valor médio dos cheques sem fundos chegou a R$ 1.457,98 (11,9%); o dos títulos protestados R$ 1.399,04 (alta de 9,3%) e o das dívidas bancárias passou para R$ 1.293,09 (0,1%). É preciso atenção.

Levando em consideração estas questões, vão aqui algumas dicas básicas que resumem os conselhos dos gestores financeiros:

  1. Começar a ‘domesticar’ o impulso desde pequeno, desde criança; mas, mais do que cobrar o comportamento dos baixinhos, é preciso dar exemplo, ou seja, mostrar que não exagera nas compras de supermercado ou shopping, mostrar que é possível segurar as tentações oferecidas em vitrines e gôndolas;
  2. Pesquisar, procurar antes de comprar os itens, gastar tempo na investigação pode aumentar ganho;
  3. Eleger, racionalmente, o que é realmente importante, necessário; esta regra é fundamental;
  4. Planejar o uso do que tem em mãos, assim, organizar os seus recursos através de uma planilha de gastos, que pode ser feita no papel, com lápis e régua; anote o salário recebido e as prioridades de gastos (alimentação, roupas e despesas básicas da casa);
  5. Registrar as despesas com clareza; as anotações vão revelar friamente se está ou não havendo a sobra, isto é, a poupança que está buscando através do controle realizado; consultorias calculam que em média água, luz, telefone podem ser reduzidos em até 20%;
  6. Após os gastos essenciais, a próxima ação é pagar imediatamente as dívidas, evitando o mais rápido possível crescer a ação dos juros; mirar sempre os juros mais elevados, caso dos cartões de crédito, por exemplo. Não esquecer as dívidas que podem gerar penalidades, como o condomínio – que pode resultar em penhora do imóvel – ou do financiamento da casa – que pode resultar em leilão.
  7. Desfazer-se de alguns bens pode ajudar a complementar esse montante para pagar a divida, vendendo algum objeto de valor, alguma coleção, roupas ou mesmo o próprio carro. Sacrifícios presentes fazem parte das correções dos erros passados.
  8. Se mesmo com as ações anteriores ainda for necessário pedir empréstimo para pagar a inadimplência já existente, captar recursos com juros mais baixos, como o Crédito Direto ao Consumidor (2,20% ao mês) e, para quem puder, há ainda o crédito consignado (que se aproxima dos 3%), oferecido pelas entidades de classe, caso dos funcionários públicos.

Como se pode perceber, a educação financeira não é nada mais do que uma postura de racionalidade, de comprometimento com um comportamento equilibrado. É força de vontade. Desta maneira, cercando os gastos essenciais, básicos, eliminar as dívidas para que no futuro, o excedente possa ser investido então em alguma aplicação financeira, uma caderneta de poupança, para lhe render benefícios. Consumir com responsabilidade. É preciso realismo e bom senso a fim de não se dar passos maiores que as pernas. Desta forma, determinada e paciente, a saúde financeira ajudará muito os demais aspectos da vida. São Paulo, 14 de junho de 2012

 

José de Almeida Amaral Junior
Professor universitário em Ciências Sociais, Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação, Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line e das emissoras Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz e Cantareira FM 87,5 de São Paulo

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