Ônibus + trem + metrô: Bilhete integrado para a vida de gado

O dia 23 de maio foi marcado em algumas cidades do país pela greve dos transportes. A cidade de São Paulo, a mais poderosa metrópole econômica do Brasil, também passou pela situação. E, não deu outra: registrou o maior congestionamento até hoje, isto é,249 kmde filas. Segundo a CET – Cia. de Engenharia de Tráfego, o recorde anterior era de191 kmregistrados em 04 de novembro de 2004, quando a cidade sofreu os efeitos da chuva e dos alagamentos. A última greve dos metroviários de São Paulo havia sido registrada em 2007.

O fim da paralisação foi anunciado às 16h30, após reunião do sindicato com a direção do Metrô. Foi aceita a proposta de reajuste de 6,17% apresentada durante a audiência. Isto, apesar de inicialmente reivindicarem 5,13% de reajuste salarial e um aumento real de 14,99%. O Metrô propunha 4,65% de aumento salarial, sendo 4,15% de reposição da inflação e 0,5% de aumento real. Conquistaram aumento real de 1,94% e melhoraram o vale refeição e alimentação. Deixaram barato. Não obtiveram reivindicações como equiparação salarial e jornada de trabalho de 36 horas. Os gestores do Metro se comprometeram a não descontar do salário dos grevistas as horas não trabalhadas. No meio desse banzé, o Ministério Público resolveu averiguar as circunstâncias da paralisação: há suspeitas de interesses políticos envolvidos no caso. Em outras capitais a greve prosseguiu, incluindo ônibus e ferroviários.

O fato é que nos últimos tempos, a relação entre o metrô paulistano e seus funcionários tem ficado mais quente. E alguns fatores têm contribuído para o agravamento dos ânimos. De acordo com a STM – Secretaria dos Transportes Metropolitanos, o Metrô transporta diariamente cerca de 4,5 milhões de pessoas e apresenta, em média, uma falha a cada 21,5 mil viagens. Isto representa um problema a cada cinco dias. São realizadas 4,5 mil viagens diárias aproximadamente. Para especialistas, as falhas estão dentro de uma média internacional aceitável. Mas, há uma preocupação com a ampliação dos consumidores. A rede atraiu desde 2008 um montante de 2,3 milhões de novos adeptos. E estas falhas geram o acúmulo de passageiros dentro dos vagões ou nas plataformas. E a conseqüente tensão no embarque/ desembarque. Por vezes, especialmente nos horários de pico, quem está dentro não consegue descer no destino pela lotação. Quem está fora, na beira da via, pode ser lançado para a linha do trem mediante qualquer empurrão mais forte. Coisa séria. Perigo real. E, para ajudar, na manhã do dia 16 de maio um novo e negativo fato histórico: ocorreu uma colisão entre dois trens na Linha 3 – Vermelha, que liga as zonas Leste e Oeste da cidade. A batida deixou pelo menos 35 feridos, segundo as informações do Corpo de Bombeiros. O choque ocorreu por volta das 10h próximo à estação Carrão, na Zona Leste. Gritaria, pânico, uma confusão geral. E a quebra de um tabu: a crença na segurança total envolvendo as viagens nos trens. Alguma coisa de errado está, de fato, acontecendo.

Para se ter uma idéia, a Linha Vermelha, por exemplo, que foi a protagonista do choque entre as composições, apresenta uma utilização diária que fica entre 8 e 11 usuários por metro quadrado. Um recorde mundial. O padrão internacional aponta para uma média de 6 pessoas por metro quadrado. É uma linha em clara expansão de demanda. Mas, do ponto de vista do investimento, não há uma contrapartida. Aliás, o metro em São Paulo tem recebido investimento, mas em queda, segundo a própria companhia. Esta referida Linha Vermelha teve, entre 2010 e 2011, uma redução de 21,4% no investimento. A Linha 5 – Lilás, recebeu 38% menos, no mesmo período. Isto é um absurdo, um tremendo contra-senso: há mais passageiros e menos dinheiro para manutenção e expansão. Entre 2003 e 2011 o governo prometeu investir R$ 17,1 bi e só aplicou R$ 9,8 bi, conforme as contas da Assembléia Legislativa de São Paulo. E a previsão oficial é que o número de passageiros atendidos diariamente na rede de transporte sobre trilhos – trens e metrô – na Grande São Paulo salte de 7,2 milhões para 9,1 milhões até 2014. O governo promete investir R$ 45 bilhões na expansão da obra até 2015. Atualmente a rede tem71 kmde linhas. Santiago do Chile, com 25% do tamanho de São Paulo, tem uma rede 40% maior; aCidade do México tem200 kme Seul quase400 kmde extensão, segundo a britânica The Economist.

A greve evidentemente tumultuou o dia de milhares de pessoas. Gerou muito prejuízo para o comércio, serviço e a indústria, com os atrasos e faltas. Contudo, uma coisa não pode ser ocultada na critica e questionamentos sobre a ação dos sindicalistas: o governo do PSDBem São Paulonavega com tranqüilidade ininterrupta há muitos anos. Sabe das carências, das necessidades e parece que não tem atuado de forma a sanear essa pressão que se amplia diariamente. Transporte público é um problema complexo para as cidades e é monstruosoem São Paulo. Oscongestionamentos são constantes porque a população não confia no sistema público e, assim, acaba optando por sair com seus próprios veículos, colapsando as vias. O custo de se sair às ruas com a demora e o gasto de combustível na cidade é impressionante. Metrô, trens e ônibus devem ser ampliados, integrados, mantidos em condições seguras e ter prioridade nas metas governamentais para facilitar a circulação dos cidadãos que precisam trabalhar, estudar, tocar suas vidas. É um direito civil. E a carga tributária arrecadada não é pouca. O Ministério Público faz, sim, seu papel em averiguar a participação política sindical na greve, a condução das decisões etc. Todavia, é inquestionável a responsabilidade do governo de São Paulo no caos presente, já que sua gestão não pode reclamar de descontinuidade ou incertezas, tendo em vista a longa gestão que vem fazendo. Este calvário no transporte público é um problema de qualidade administrativa. Sampa é uma cidade que há tempos corre parada. São Paulo, 16 de maio de 2012.

 

José de Almeida Amaral Junior
Professor universitário em Ciências Sociais, Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação, Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line e das emissoras Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz e Cantareira FM 87,5 de São Paulo.

1 Comment

  1. Hum…
    gostei do Artigo sobre a greve do Metrô.
    a grande mídia, de forma alguma demostrou estes aspectos citados no texto, muito pelo contrário quiz colocar a população contra os grevistas. O correto seria nós usuários pararmos juntos com os Metroviários e Ferroviários, pois além da Questão Trabalhista reivindicada, existe também uma enorme falta de Respeito com os trabalhadores que se utilizam deste transporte público, importante que as pessoas associem este serviço prestado à administração municipal/Estadual que é a mesma há anos, é iteressante saber como e para quem governam.
    Importante também é que não vemos este tipo de problema na Zona SUL, porque é preciso manter o Status de estratificação social. Para pobre a pior linha e o pior serviço, para rico a melhor linha e o melhor Serviço.
    é preciso sensibilizar a população para a tomada de consciência em relação aos problemas vividos pelos Trabalhadores, e isto não é fácil.

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