Abertura da Copa tem entre destaques a falta de educação da elite paulistana

A Copa do Mundo 2014 da FIFA finalmente começou neste dia 12 de junho, na Arena São Paulo, o Itaquerão – que a mídia oficial do evento chama de ‘Arena Corinthians’ por atrapalhar menos nas negociações com os investidores a serem captados para pagar a obra – de forma polêmica, ratificando as expectativas gerais. Não me refiro sob o ponto de vista esportivo, que confirmou a superioridade do time brasileiro sobre a Croácia, embora o resultado de 3×1 tenha sido construído com a nítida ajuda do árbitro japonês a favor da seleção local, mas, sim pelas questões da organização da festa e, sobretudo, da política em tenso ano de eleição.

A abertura, no geral, foi decepcionante. Um ano de preparação para 25 minutos de cena e resultado pífio. A belga Daphne Cornez teve em mãos elenco de 660 pessoas e buscou destacar três grandes características de nossa identidade que foram ‘natureza’, ‘diversidade cultural’ e ‘alegria de viver’, mas, sem alcançar encanto e graça. Além disso, a star Jennifer Lopez – pouco simpática –, o rapper Pitbull e Claudia Leitte levaram ao mundo a insossa “We Are One” usando playback. Para uma nação que tem reconhecidamente tanta riqueza musical e de danças, foi um verdadeiro desperdício. E, um momento de grande importância, que mostraria ao planeta a capacidade científica desta terra que muitos ainda pensam que é habitada por ‘tribos canibais’, o exoesqueleto desenvolvido pelo neurocientista Miguel Nicolelis, passou praticamente despercebido pelo público. Um deficiente físico levantou de sua cadeira de rodas e chutou uma bola contando com a estrutura eletrônica que reage aos impulsos do cérebro. Um feito sensacional não notado, tendo sido concedido pela FIFA meros 29 segundos. Um esforço dramático, algo dificílimo, teve bem menos espaço que o comercial de cerveja patrocinadora, cuja regra local foi mudada para ser vendida nos estádios. Lamentável. Ou seja, muito pobre a produção. Deveras mixuruca, mas, independente disso, muito lucrativo cada momento exibido. É o futebol globalizado e calculista dos tempos de hoje. Aliás, três horas antes do início da cerimônia de abertura, a FIFA colocou ingressos à venda para chegar a 62.600 pessoas.  Foi uma carga para a categoria 3, custando R$ 440 cada, quase meio salário mínimo o bilhete.

Durante o jogo, algo destacado por toda imprensa, local e estrangeira, foram as vaias à FIFA e os xingamentos dirigidos à presidente Dilma Rousseff. Autêntico vexame. Sim, porque mostrou um publico absolutamente sem a mínima noção de educação e civismo. Notar que não foram apenas vaias, coisa que faz parte das manifestações. Foram palavrões. Foi baixo nível. E sem sentido. Dilma, queiram ou não, é a presidente do país e eleita de maneira democrática. Não é uma ditadora, uma déspota. Não usurpou o trono de ninguém. Ela deve, portanto, ser respeitada como mandatária e, se for o caso, vencida nas urnas. A platéia de São Paulo revelou ódio de forma bastante clara. Foi violenta. Exacerbação em rede mundial. E por que isso? Por que essa raiva em alto grau escancarada à mulher?

Só para lembrar, os participantes do episódio estavam dispostos da seguinte maneira: os ingressos da categoria 1 eram os mais caros e ocupavam as laterais do estádio, em toda a extensão do campo, custando R$ 990,00. O ingresso mais barato, categoria 4, confinado atrás do gol, custava R$ 160,00 em dezembro. Sem contar o grande número de convidados e Vips: modelos, astros de TV, políticos, empresários, entre outros. Ou seja, na arena estavam presentes indivíduos que comem bem no almoço e jantar todo dia, fora os lanches reforçados. Não era ralé. Deveriam saber se comportar em eventos internacionais como esse. Todavia, não foi o que aconteceu. Curiosamente, na área adjacente ao estádio, na abertura, já haviam sido distribuídos panfletos ‘apartidários’ contra o PT e seu ‘governo corrupto, mensaleiro’. Um contraponto: pesquisa Datafolha de 06/06/2014 informa que ela tem 33% de aprovação, 38% de regular, 1% não sabe e 28% de reprovação. Nota média: 5,5. Isto após todas as passeatas desde junho/2013. Seus índices mais baixos de aprovação estão entre os mais ricos e com maior escolaridade (23%).

Sem a menor sombra de dúvidas, a crítica é pertinente quanto a se questionar a corrupção e o esquema no Congresso e em outras casas legislativas ou do executivo. O brasileiro tem mesmo que pegar no pé do governo sempre. Fiscalizar. Exigir. De forma justa, correta. Como não aconteceu. Todavia, por outro lado, por que o público paulistano/ paulista, não tem a mesma veemência com os demais partidos e políticos? Parece ser algo bastante pontual.

O PSDB, por exemplo, já está no governo do Estado há praticamente 20 anos. E o que não faltam são problemas e escândalos em sua administração, embora sem a mesma força publicitária que os petistas apresentam na mídia. Há desempenho ruim na educação e na saúde, conforme dados de indicadores, além da segurança pública e a longa crise com o PCC; tem as acusações de corrupção no metrô; o problema do abastecimento de água em São Paulo; os pedágios caros nas rodovias, entre outras coisas. Sim, claro, sem contar a questão do ‘mensalão’ que começou exatamente com o próprio PSDB, não em terras bandeirantes, mas, em Minas. E, sobre a Copa, motivo de tantas queixas, Fernando Henrique Cardoso tentou trazer e não conseguiu. Entretanto, os tucanos ainda foram básicos para decisões em vários locais para esta competição estar acontecendo hoje.

Com os petistas há outro prazer na produção reincidente da crítica, na investigação jornalística e afins. E o que me consta, corrupção por corrupção, incompetência por incompetência, tanto faz se é petista ou tucano. Se é PTB ou Dem; se é PV, PMDB ou PCdoB. Se é da bancada evangélica ou é ruralista. E, ambos os partidos, PT e PSDB, sem precisar usar uma lupa para observar detalhes, estão envolvidos com notícias pouco edificantes para sua história. Então, por que tanto rancor com os petistas?

Nem as pesquisas dão tanta crítica assim, como visto. Como explicar? Será que a motivação é pelo preconceito de classe social, por ser um partido de trabalhadores liderado por um nordestino mecânico e sindicalista que se tornou presidente e respeitado no mundo? Talvez uma boa pista para esse comportamento virulento esteja nas palavras do velho político Claudio Lembo, ex-governador de São Paulo, nem um pouquinho de esquerda, que expressou em maio/2006 numa entrevista a um matutino local, atitudes de sua gente: é coisa da ‘elite branca’ paulista, que ele definiu como ‘má e perversa’ e que terá de aprender ‘a dialogar e ser solidária’. Elite que deveria ler história nacional e verificar sua origem mameluca. Não somos milaneses, parisienses ou novaiorquinos. Somos São Paulo, cosmopolita e multicultural. Somos o Brasil. São Paulo, 13 de junho de 2014, dia de Santo Antonio de Lisboa.

 

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.

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