‘Fake news’, fenômeno escondido em Portugal que vai aumentar, diz especialista

Da Redação
Com Lusa

Ana Pinto Martinho, jornalista e pesquisadora do ISCTE, acredita que o fenômeno das ‘fake news’ tem menos expressão em Portugal do que noutros países europeus, porque “está escondido”, mas vai aumentar até às eleições deste ano.

“O fenômeno já está em Portugal, está bastante escondido e nós muitas vezes não nos apercebemos do que é que está a acontecer. Mas ele já existe”, afirmou, em entrevista à Lusa, a docente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

Apesar de admitir que tem uma “penetração menor” em Portugal, a especialista alerta que ainda não se realizaram eleições, o que vai acontecer este ano com europeias e legislativas, “com o fenômeno já em pleno desenvolvimento”.

Sem querer fazer comparações com outros países e eleições presidenciais, como a de Donald Trump nos EUA ou Jair Bolsonaro no Brasil, porque são realidades diferentes, Ana Pinto Martinho também não arrisca previsões quanto ao efeito do surgimento de novos partidos, populistas, em tese como o partido Chega.

Portugal, afirmou, deverá acompanhar o aumento deste tipo de informações falsas ou manipulação, através de “sites” na Internet e das redes sociais: “Acredito que vamos ver isto aumentar em Portugal, assim como por toda a Europa.”

“Há grandes probabilidades de haver um aumento deste tipo de estratégias. Já conhecemos que isto, em períodos eleitorais, aumenta como aumentavam também as questões da propaganda há uns anos”, disse à Lusa, num trabalho preparatório sobre “fake news”, tema de uma conferência, a realizar em 21 de fevereiro, em Lisboa, e organizada pelas duas agências noticiosas de Portugal e Espanha, Lusa e Efe, com o título “O Combate às Fake News – Uma questão democrática”.

A pesquisadora, que, em Portugal, é uma das responsáveis pelo relatório anual do Digital Report do Reuters Institute for the Study of Journalism tem uma explicação para esta penetração limitada e para o nível de confiança nas notícias.

“Uma das razões pelas quais em Portugal nós acreditamos que também ainda continua a haver alguma confiança nas notícias é porque o nosso país, pelo menos até agora, não tem sido um país muito polarizado do ponto de vista político. Temos muito mais concentração ao centro do que nos extremos, mas isto é algo que pode mudar”, acrescentou.

E, em Portugal, a reação dos cidadãos é diferente quando se fala em extrema-esquerda ou extrema-direita.

Se na Europa central e de leste há um “grande problema com a esquerda por causa do comunismo”, em Portugal tradicionalmente há “mais problemas com a direita, pelo enquadramento todo” por causa da ditadura até 1974.

“Há sempre uma tendência para pensarmos que o perigo poderá vir mais desse lado”, da direita, explicou a professora que, antes de chegar ao ISCTE, foi jornalista e colaborou com jornais como DN e Sol, nas áreas da tecnologia.

As ‘fake news’, comummente conhecidas por notícias falsas, desinformação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que elegeram Donald Trump, no referendo sobre o ‘Brexit’ no Reino Unido e nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro.

O Parlamento Europeu quer tentar travar este fenômeno nas europeias de maio e, em 25 de outubro de 2018, aprovou uma resolução na qual defende medidas para reforçar a proteção dos dados pessoais nas redes sociais e combater a manipulação das eleições, após o escândalo do abuso de dados pessoais de milhões de cidadãos europeus.

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