Documentário sobre o compositor João Gilberto chega a Portugal em agosto

Da Redação
Com Lusa

O documentário ‘Onde está, João Gilberto?’, sobre o compositor brasileiro da Bossa Nova, que morreu no passado sábado, chega a Portugal no próximo dia 03 de agosto, anunciou a Leopardo Filmes.

‘Where are you João Gilberto?’, o filme do documentarista franco-suíço Georges Gachot, a estrear em salas portuguesas, parte do livro ‘Ho-ba-la-lá – À Procura de João Gilberto’, do jornalista e escritor alemão Marc Fischer, “que procurou incessantemente o músico”, anos depois de este ter deixado de aparecer em público, segundo a distribuidora.

O cineasta seguiu as pistas de Fischer, “na esperança de conseguir compreender a história, a alma e a essência da Bossa Nova”, prossegue a Leopardo Filmes. O resultado é um documentário, com o livro de 2011 por guia.

Para Georges Gachot, que já dirigira outras obras sobre música brasileira, “o livro apresentava uma nova forma de fazer um filme sobre João Gilberto, distinta de um perfil”. Era “um verdadeiro guião”, disse em maio de 2018, quando da estreia da obra no festival de cinema documental de Munique.

Foi a canção ‘Ho-ba-la-lá’, a única composta por João Gilberto para o álbum ‘Chega de Saudade’, de 1959, que deu origem à paixão de Fischer pela obra do compositor brasileiro, recorda a editora Companhia das Letras, que editou o livro no Brasil.

Narrado como uma história policial, reúne entrevistas a figuras da música popular brasileira, próximas de Gilberto, como Roberto Menescal, João Donato e Marcos Valle, a jornalista Claudia Faissol, que viveu com o compositor, e a cantora Miúcha, ex-mulher de Gilberto (e irmã de Chico Buarque), que morreu no passado mês de dezembro.

O filme envolve também figuras do quotidiano do músico, como o cozinheiro de um restaurante do Rio de Janeiro, que preparava os pratos preferidos do “gênio da Bossa Nova”, escreve a Companhia das Letras.

Fischer procurava desvendar os mistérios que envolviam a reclusão do compositor, descobrir a essência do ritmo que criou e, ao mesmo tempo, sentir ao vivo esse ritmo, tocado pelo músico. “O sonho de Fischer acabou não vingando, mas a viagem para os trópicos resultaria num livro muito curioso”, que se transformou num sucesso editorial na Alemanha, escreve a editora.

Cada página parece comprovar “a impossibilidade de chegar a João Gilberto”. Mas o relato das cinco semanas passadas por Fischer no Rio de Janeiro fornece um retrato do Brasil, da música e do “homem que vivia recluso há 15 anos, num apartamento no Leblon”.

“O grande, velho [produtor e compositor] Roberto Menescal estava sentado em sua enorme escrivaninha e tocava seu violão quando eu cheguei”, escreve Fischer na obra, citada pela imprensa alemã, em 2011. “Ele vestia um blusão do Exército e, com a sua barba branca, parecia-se demasiado com Ernest Hemingway. Assim como o escritor, Menescal também costumava ir com seus amigos da Bossa Nova pescar no mar. […] João Gilberto, porém, nunca participava nessas viagens. Ele odeia o mar”, escreveu Fischer.

O jornalista alemão morreu em abril de 2011, aos 40 anos, poucos dias antes da edição da obra, na Alemanha.

‘Onde está, João Gilberto?’, o filme, foi apresentado no ano passado no Festival de Locarno, em agosto, poucas semanas antes de ser mostrado no Brasil e antes da estreia na Alemanha, em novembro.

Para o realizador Georges Gachot, o filme é uma homenagem a João Gilberto, mas também ao escritor e jornalista alemão Marc Fischer.

Entre os documentários dirigidos por Cachot encontram-se ‘Maria Bethânia: Música é Perfume’ (2005), ‘Rio Sonata: Nana Caymmi’ (2010) e ‘O Samba’ (2014), a par de outras obras, como as dedicadas à pianista Marta Argerich e ao compositor alemão Johann Sebastian Bach.

O cantor e compositor brasileiro João Gilberto, um dos nomes determinantes da Bossa Nova, morreu no sábado passado, no Rio de Janeiro, Brasil, aos 88 anos, informou a família.

Derivado do samba e com influências do jazz, o estilo Bossa Nova surgiu no final da década de 1950, pelas mãos de criadores como João Gilberto, António Carlos Jobim (1927-1994), Baden Powell (1937-2000) e Vinícius de Moraes (1913-1980), Dorival Caymmi (1914-2008) ou Carlos Lyra (1933), interpretado por jovens cantores e compositores do Rio de Janeiro como Bebel Gilberto, Nara Leão ou Marília Medalha.

O álbum que marcou o início da Bossa Nova, ‘Chega de Saudade’ (1959), tinha a maioria das composições assinadas por Tom Jobim e Vinícius. João Gilberto deu voz à versão mais conhecida da música, lançada um pouco antes, em agosto de 1958.

Até 1961, o cantor e compositor protagonizou a trilogia de álbuns que definiram a Bossa Nova: ‘Chega de Saudade’ (1959), ‘O Amor, o Sorriso e a Flor’ (1960) e ‘João Gilberto’ (1961).

Enterro

O adeus a João Gilberto foi nos moldes que o gênio certamente aprovaria. Uma cerimônia simples, com a presença apenas de familiares e amigos próximos, em um cemitério repleto de árvores floridas, com o silêncio quebrado somente pelo canto dos pássaros.

O músico que criou a bossa nova tinha 88 anos e faleceu no último sábado (6), de “causas naturais”, de acordo com a família. Ele foi enterrado em um cemitério de Niterói (RJ). Durante toda a manhã e início da tarde, fãs, amigos e parentes passaram pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, região central da cidade, para se despedir de João Gilberto.

Após uma prece entoada por um de seus sobrinhos, a filha do músico, Bebel Gilberto, bastante emocionada, deu adeus e agradeceu ao pai, à beira da sepultura. João Gilberto foi sepultado ao som de aplausos, como os quais ele se acostumou a ouvir ao fim de cada um de seus shows, ao longo de toda a vida.

Segundo Agencia Brasil, o porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros, afirmou dia 8 que o presidente Jair Bolsonaro reconhece a importância de João Gilberto para a música brasileira.

“O presidente reconhece a importância do artista João Gilberto para a música brasileira, como todos nós. Ele tornou a bossa nova um estilo de música conhecido internacionalmente. O presidente se solidariza com a família e os amigos nesse momento de dor”, declarou o porta-voz a jornalistas, em Brasília. Rêgo Barros acrescentou que o presidente decidiu não decretar luto oficial no país pela morte do músico. O próprio presidente havia feito um breve comentário a repórteres, no dia da morte de João Gilberto: “Uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família.”, disse.

Para a cantora Adriana Calcanhotto, João Gilberto inspirou gerações de artistas. “Muitos artistas, de música e outras áreas, são influenciados pelo João até sem saber que são. É uma coisa muito bonita, é muito profundo o que ele fez. Não é só na camada muito superficial, só da música. É o jeito de falar, a própria arte, a música e o Brasil. A gente tem que se espelhar nisso. O João Gilberto é um exemplo para nós todos, representa um Brasil muito grande”.

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