Portugal felicita presidente e defende empenho em manter nível das relações com o Brasil

Mundo Lusíada
Com Lusa

Na noite do dia 28, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou uma “mensagem de felicitações” ao Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, na qual se referiu aos “laços de fraternidade” bilaterais e à “significativa comunidade” portuguesa no país.

Segundo a mesma nota, o chefe de Estado fez também referência “à significativa comunidade de portugueses e lusodescendentes residentes no Brasil”, bem como “à cada vez mais importante comunidade brasileira” em Portugal.

Bolsonaro venceu o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, registando 55% dos votos. Líderes mundiais já cumprimentaram o novo presidente eleito.

Também o primeiro-ministro, António Costa, cumprimentou, em nome do Governo português, o presidente eleito do Brasil salientando a relação bilateral “intemporal” entre os dois países, assente numa língua comum” e “fortes laços históricos”.

“O Governo português cumprimenta o Presidente eleito do Brasil, país com o qual mantemos uma relação bilateral intemporal, assente numa língua comum, em fortes laços históricos, econômicos e culturais, e na presença, em ambas as sociedades, de comunidades dinâmicas e plenamente integradas”, refere o primeiro-ministro.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmou que Portugal tem “todo o empenhamento” em manter o nível das relações bilaterais e multilaterais. Santos Silva frisou que os dois países têm uma agenda bilateral “bastante rica” e, no plano multilateral, são parceiros na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e na Conferência Ibero-Americana, “duas organizações regionais muito importantes” em que Portugal tem “trabalhado de perto com o Brasil”, o que pretende continuar a fazer.

Em termos bilaterais, Santos Silva considerou que a riqueza da relação assenta, além das “razões históricas, linguísticas e de proximidade cultural”, em outras três razões “não menos importantes”. Além da “presença de fortes comunidades, portuguesa no Brasil e brasileira em Portugal”, o ministro salientou a relação econômica e o investimento dos dois governos no reforço da cooperação científica e tecnológica.

Em termos econômicos, disse, o Brasil já não é, como foi, um dos dez principais parceiros comerciais de Portugal, “mas continua a ser um parceiro comercial e econômico muito importante”, de que é exemplo o “desenvolvimento do ‘cluster’ aeronáutico português”.

Da parte do Brasil, Santos Silva diz não ter “nenhuma razão para pensar” que o empenhamento na relação bilateral com Portugal não seja o mesmo, esperando que “mal haja um novo Governo no Brasil”, “a partir de 01 de janeiro”, “continuará certamente” a “boa prática” de “contatos imediatos ao mais alto nível entre as autoridades brasileiras e as autoridades portuguesas”.

Também no quadro da CPLP, o ministro espera o mesmo empenhamento do país na organização. “O Brasil assumiu a presidência da CPLP no último mandato, entre 2016 e 2018, fez uma presidência boa, trazendo para a prioridade do nosso trabalho a conversação multilateral em torno dos objetivos de desenvolvimento sustentável e é um parceiro muito importante na CPLP, fez-se representar ao mais alto nível, através do seu Presidente, na Cimeira do Sal, dando assim todas as indicações de que quer continuar o protagonismo que lhe cabe na CPLP”, disse Santos Silva.

Da oposição, o dirigente do PSD, Tiago Moreira de Sá, defendeu que a eleição de Jair Bolsonaro como Presidente do Brasil em nada altera o relacionamento bilateral e que Portugal deve manter “ótimas relações” com o Estado brasileiro. “Ganhasse quem ganhasse, Haddad ou Bolsonaro, Portugal deve manter ótimas relações com o Estado brasileiro, independentemente de quem é o seu Presidente”, defendeu.

Tiago Moreira de Sá argumentou que “as relações entre os países são relações Estado a Estado, não são relações entre a pessoa A e a pessoa B e essas relações permanecem, com base nos interesses e nos valores comuns, mas sobretudo nos interesses comuns, independentemente dos candidatos que ganham eleições”.

“Neste caso, o Bolsonaro é o Presidente eleito democraticamente do Brasil. As relações entre Portugal e o Brasil mantêm-se inalteradas e Portugal tem de ter uma boa relação com a atual presidência do Brasil”, acrescentou o professor universitário, doutorado em História das Relações Internacionais.

O presidente da Comissão de Relações Internacionais do PSD referiu que o Brasil é “um país muito importante para Portugal, porque é um país lusófono, porque é um país que tem uma grande comunidade portuguesa e lusodescendente”. Portugal mantém com o Brasil “uma longa relação, bilateral e multilateral, na CPLP”, bem como “importantes relações econômicas”, realçou.

Interrogado se o seu partido está preocupado com o futuro da democracia brasileira, Tiago Moreira de Sá respondeu que “o PSD não se intromete na vida política interna dos outros países, muito menos de países amigos como o Brasil”.

PCP diz que “a resistência” começa hoje

Já o eurodeputado do PCP João Pimenta afirmou que a unidade entre o movimento progressista e democrático brasileiro e os partidos que apoiaram a candidatura de Fernando Haddad estão preparados para iniciar hoje a “resistência” à repressão no Brasil.

O político português falava à Lusa a partir de São Paulo, na sede de campanha do candidato presidencial derrotado Fernando Haddad (PT, esquerda), garantindo que o ambiente que ali se vive é de “grande confiança”, de “não baixar os braços” e com “um apelo já chamado à mobilização popular para que não se verifiquem retrocessos no Brasil”.

“O ambiente é de não baixar os braços, de afirmar a grande importância deste resultado [do candidato Fernando Haddad], como uma forma também de dizer que estarão presentes e que seguirão num processo de resistência”, afirmou o eurodeputado comunista.

Uma resistência que pode ser feita, disse, “através das organizações de trabalhadores, de movimentos sociais ou institucionalmente, na diversidade e na polaridade de posições institucionais que foram ainda assim conquistadas”.

O eurodeputado defendeu ainda que “há que registrar aquilo que foi uma grande recuperação e um resultado muito expressivo na candidatura de Fernando Haddad”. “Uma votação muito expressiva, de mais de 45 milhões de votos”, disse.

A candidatura de Haddad foi “alimentada por uma dinâmica muito importante de unidade entre o movimento progressista e democrático no Brasil e diversos partidos que se associaram a esta candidatura e que cria as condições para já amanhã [hoje] criar a afirmação de uma resistência áquilo que venham a ser medidas que procurem impor um Estado mais repressivo e de ataque aos direitos sociais”, afirmou.

Para João Pimenta, o caminho que foi feito e que permitiu chegar ao resultado eleitoral deste domingo começa com “uma tremenda ofensiva do imperialismo por toda a América do Sul e, em particular no Brasil, que se materializou no golpe de 2016 [afastamento de Dilma Roussef] e numa total ofensiva contra direitos dos trabalhadores e direitos sociais nos últimos dois anos”.

João Pimenta aproveitou para manifestar a “solidariedade do Partido Comunista Português, com os comunistas, democratas e progressistas brasileiros que enfrentaram esta dura batalha e que estão disponíveis para, já amanhã, continuarem a defender a democracia, a liberdade e os direitos dos trabalhadores, num cenário que se afigura bastante difícil”.

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