De Washington, presidente português vai à Lajes antes de regressar a Lisboa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (E), durante o seu encontro com o Presidente dos Estado Unidos da América, Donald Trump, que decorreu na Casa Branca, Washington, Estados Unidos, 27 de junho de 2018. ANTÓNIO COTRIM / LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, passa na Base das Lajes, nos Açores, desde Washington, antes de regressar a Lisboa.

Marcelo Rebelo de Sousa terminou o programa oficial da visita aos Estados Unidos na quarta-feira à noite, já de madrugada em Lisboa, com uma cerimônia na residência da Embaixada de Portugal em Washington, e a maior parte da comitiva regressou em seguida a Portugal.

A Base Aérea das Lajes, na ilha Terceira, é onde os Estados Unidos mantêm uma presença militar que tem sido progressivamente reduzida.

A aliança na NATO, a cooperação bilateral na defesa, os Açores e a importância geoestratégica do Atlântico foram temas abordados no encontro com o Presidente Donald Trump, na Casa Branca. Estiveram “no centro das conversas”, disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.

No último ponto do programa, o Presidente da República brindou com vinho da Madeira aos Estados Unidos e a Portugal, perante cerca de 400 convidados, maioritariamente norte-americanos dos setores econômico e político, mas também empresários da comunidade portuguesa e lusodescendente.

Nesta ocasião, fez votos de “longa vida a Portugal”, que apresentou como um país aberto aos outros, que “adora unir as pessoas, não dividir”, e de “longa vida aos Estados Unidos”.

Marcelo Rebelo de Sousa evocou com este “Toast to America” [brinde à América] um dos momentos marcantes da Declaração da Independência em 1776, em que os “pais fundadores” dos Estados Unidos ergueram uma taça de vinho da Madeira para festejar.

Foi um momento “ousado, marcante e elegante, como o vinho da Madeira”, em que se afirmaram “ideias muito avançadas para esse tempo”, que permanecem atuais, como o conceito de que “todos os homens nascem iguais” e possuem “direitos inalienáveis”, entre os quais “a liberdade e a busca da liberdade”, referiu.

Esses foram “valores conquistados nos dois lados do Atlântico, por vezes tendo que pagar um preço muito alto”, prosseguiu, num discurso em inglês, deixando um alerta: “São valores que damos como garantidos hoje, mas têm de ser constantemente cultivados e defendidos, porque nada pode ser dado como adquirido”.

Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que a aliança transatlântica “é vantajosa e sempre será vantajosa por si mesma” e enalteceu a “amizade duradoura” entre Portugal e os Estados Unidos.

“Nós somos um país europeu, mas sempre a olhar para o nosso vizinho do Atlântico. Nós somos vizinhos, e sempre prontos para construir e reconstruir várias vezes esta ponte”, afirmou.

Objetivos atingidos, com divergências expressas

Marcelo Rebelo de Sousa deixou Washington, onde se reuniu com o presidente norte-americano, numa visita oficial que, disse, “atingiu os objetivos”, com divergências expressas e uma conversa sobre Cristiano Ronaldo.

Na quarta-feira, pelas 14:07 locais (19:07 em Lisboa), Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelo Presidente dos Estados Unidos no exterior da Casa Branca, em Washington, e os dois prestaram declarações aos jornalistas na Sala Oval durante 15 minutos, antes de uma conversa a sós de cerca de 25 minutos, seguida de uma reunião bilateral alargada.

Segundo o chefe de Estado português, foi “um encontro que atingiu os objetivos pretendidos”, que significou um “reconhecimento positivo e mesmo caloroso de uma relação de 242 anos” e de “uma comunidade poderosa” luso-americana de 1,4 milhões de pessoas, bem como “de relações bilaterais importantes no domínio da defesa e no domínio da energia”.

Por sua vez, o Presidente norte-americano, Donald Trump, divulgou ao fim do dia em sua rede social Twitter, a “grande honra de receber o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa de Portugal na Casa Branca”.

Durante as declarações conjuntas na Sala Oval, Trump intercalou o seu discurso sobre as relações com Portugal com comentários sobre questões internas, em particular a notícia da jubilação de um juiz do Supremo Tribunal, e a certa altura elogiou a forma como tem decorrido o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018, na Rússia: “O evento tem sido fantástico”.

Isso serviu de pretexto para Marcelo Rebelo de Sousa falar de Cristiano Ronaldo, “o melhor jogador do mundo”, e Donald Trump acabou a perguntar-lhe se pensa que o “Christian” irá concorrer a Presidente da República de Portugal como seu adversário.

“Tenho de lhe dizer que Portugal não é bem os Estados Unidos, é um pouco diferente”, retorquiu o Presidente português.

Marcelo Rebelo de Sousa, por outro lado, mencionou a Trump a “visita de cortesia” que fez ao Presidente da Rússia, em Moscou, na semana passada: “Ele pediu-me que lhe enviasse cumprimentos”.

Logo nesta parte aberta da conversa, foram percetíveis divergências no que respeita à política comercial e à política de imigração, pelos gestos e expressões do chefe de Estado português, que assumiu ter tido algum cuidado com a sua linguagem corporal: “Até talvez tenha sido um pouco excessivo”.

O chefe de Estado português abanou ligeiramente a cabeça, por exemplo, ao ouvir o seu homólogo considerar que as tarifas aduaneiras dos Estados Unidos sobre importações de aço e alumínio do México, do Canadá e da União Europeia “têm sido incríveis” para a economia norte-americana.

Com a comunicação social prestes a sair da sala, Marcelo Rebelo de Sousa virou-se para Trump e disse-lhe: “Vai encontrar-se com o presidente [da Comissão Europeia] Juncker, isso são boas notícias. São boas notícias”.

O Presidente da República destacaria aos jornalistas portugueses essa chamada de atenção da sua parte como uma demonstração de que Portugal está “solidário com a União Europeia em que se integra e cujas posições partilha – que não são, em muitos pontos, é público e notório, as posições defendidas pelos Estados Unidos da América”.

Marcelo Rebelo de Sousa também pareceu manifestar discordância quando o Presidente norte-americano defendeu a necessidade de “fronteiras fortes”, e mais tarde confirmou que essa foi uma de muitas “posições divergentes” expressas no encontro.

Segundo o Presidente português, houve das duas partes “disponibilidade não apenas para falar, mas para ouvir”, e as convergências e divergências foram exprimidas com “o mesmo calor”.

“Não houve nada, mas verdadeiramente nada de relevante naquilo que era convergente ou divergente que não tivesse sido tratado”, realçou.

Sobre a imigração, adiantou: “Sempre que eu tenho oportunidade de explicar por que é que Portugal acolhe imigrantes, explico. E aproveito para fazer pedagogia, para explicar como é a realidade portuguesa”.

A história das relações bilaterais foi lembrada por Marcelo Rebelo de Sousa na sua intervenção inicial, em que salientou que Portugal foi “o primeiro país neutral a reconhecer a independência dos Estados Unidos da América, apesar de ter a Inglaterra como o mais antigo aliado”.

O presente que ofereceu “simbolicamente” a Trump foi precisamente “um fac-simile do decreto real de D. Maria I a reconhecer a independência dos Estados Unidos da América”, contou o chefe de Estado, no fim desta visita oficial, que começou na terça-feira, com um encontro com a comunidade portuguesa.

Donald Trump disse que as relações bilaterais nunca foram tão boas, referiu-se a Marcelo Rebelo de Sousa como “o altamente respeitado Presidente de Portugal” e no final da reunião bilateral alargada – em que participou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos – acompanhou-o até à porta.

No próximo dia 16 de julho, Donald Trump se encontra agora com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na primeira cimeira bilateral entre os dois, abordando “o estado atual e as perspetivas de desenvolvimento das relações russo-norte-americanas” e as principais questões internacionais.

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