União Europeia: Ninguém se entende

Pois é verdade, meu caro leitor, ninguém se entende nesta União Europeia construída com pés de barro, e completamente nas costas do poder soberano dos diversos povos europeus. Aliás, não se entendem nem nunca entenderam, os nossos políticos europeus. Nem os de hoje, nem mesmo os anteriores. Uma verdadeira balbúrdia.
Determinei-me a escrever este texto por via das recentes declarações de Jean-Claude Juncker, por onde rejeitou quaisquer saídas do Eurogrupo. Trata-se, obviamente, de um desejo, e de um um ponto de vista estritamente pessoal, mas que nos surge, através da grande comunicação social, como se de uma norma com valor jurídico se trate. É, pois, conveniente recordar alguns momentos importantes da nossa presença no seio da União Europeia, desde que para a mesma, lamentavelmente, entrámos.
Nunca duvidei, por um só momento, dos mil e um riscos, fortemente inesperados, mesmo imprevisíveis, que para todos nós adviriam de nos irmos meter em algo que nos era arredio ao longo de quase nove séculos de História. Se há espaço com que nunca tivemos grande contacto, esse espaço foi o interior do nosso continente.
Pude já referir um trecho de certa obra literária de um conhecido meu, onde uma das personagens, o Tio Alberto, diz, a dado passo, para o sobrinho: a nossa atitude face à Europa é fria e distante, ao passo que em relação às nossas antigas províncias ultramarinas é fortemente afetiva e muito permanente, ao nível do nosso imaginário enquanto povo. Uma objetiva realidade.
Acontece que, há uns bons anos atrás, com Aníbal Cavaco Silva à frente do Governo e com Mário Soares na Presidência da República, deu o primeiro uma longa entrevista a três nossos jornalistas: Artur Albarran, António Perez Metelo e um outro que não recordo agora. A dado passo, foi colocada ao Primeiro-Ministro esta pergunta: mas se Portugal quiser, um dia, sair da Europa, pode fazê-lo? Bom, a resposta foi rápida e muito clara: Portugal poderá sair quando o desejar. Como é evidente, acreditei.
Simplesmente, o tempo nunca parou de correr, até que surgiu Romano Proddi como Presidente da Comissão Europeia. E, um dia, num lugar público e aberto, foi-lhe colocada esta questão: um Estado da União Europeia, se o desejar, pode sair desta? Bom, também aqui a resposta foi rápida: não, quem entrou já não pode sair. Ou seja: passei a estar entre dois fogos, ou duas opiniões, a de Aníbal Cavaco Silva e a de Romano Proddi. Devo dizer que logo atribuí muito maior credibilidade à deste último.
Mas o tempo lá continuou a passar, até que nos chegou o inútil Tratado de Lisboa. Presente no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, pude aí assistir a uma tríplice conferência em certo dia, com Adriano Moreira, Guilherme d’Oliveira Martins e Jorge Miranda, tendo podido tomar conhecimento de que o novo tratado, afinal, passaria a permitir a saída de um qualquer Estado, que era uma possibilidade que não estava contemplada. Ou seja: Aníbal Cavaco Silva não teria tido razão, e tê-la-ia tido Romano Proddi…
E lá continuou o tempo a fluir, sempre sem parar, nem mesmo voltar para trás, até com as últimas (supostas) descobertas com neutrinos. Bom, há uns dias atrás, foi salientado que não seria possível deixar a União Europeia, porque tal implicaria uma saída do euro e isso poria, de facto, um fim nesta mesma inenarrável e balburdienta estrutura, a União Europeia. Bom, meu caro leitor, é caso para dizer: venha o Diabo e escolha…
Também perdido, e mesmo vítima, como a generalidade dos portugueses, por via de tristes ideias e modas dos nossos mais diversos políticos, eu continuo a defender, como princípio fundamental, que saiamos desta miséria balburdienta do euro e da União Europeia. Quase nada sabendo de Economia nem de Finanças, escudo-me na proposta sensata que, desde há muito, João Ferreira do Amaral vem defendendo.
Professor catedrático da principal escola universitária de Economia e de Finanças do País, João Ferreira do Amaral, cada dia menos isolado, transmite, pelas suas posições, um grau de ponderação que, lamentevelmente, não está presente na nossa classe política nem na dos nossos técnicos mais reputados daqueles dois domínios. Iríamos passar dificuldades? Claro! Mas não as estamos a passar na mesma? Obviamente! Não se percebe já hoje que tudo irá de mal a pior? Evidentemente que sim! E temos um horizonte de comando e controlo mínimo sobre a nossa comunidade pelo caminho dos nossos dias? Naturalmente que não! Do que precisamos, isso sim, é de coragem, de bom senso e de um mínimo de sentimento pátrio. Simplesmente, estes três ingredientes rareiam hoje no seio da sociedade portuguesa. Resta-nos, pois, uma esperança limite: a proteção e a iluminação divinas.

Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

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