Um olhar sobre os dias de hoje

Nos primeiros dias de janeiro de 2012, estávamos assistindo ao noticiário da RTPi (Rádio e Televisão Portuguesa Internacional), quando nos deparamos  com um quadro que nos deixou perplexos.

O Sr. Presidente da Republica, Prof. Doutor Cavaco e Silva, numa cerimônia de recepção ao corpo diplomático credenciado em Portugal, trajava um elegante fraque junto com o Sr. Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, trajando  também um fraque assim como outras autoridades portuguesas igualmente trasvestidos de personalidades do século passado.

Mais pareciam um grupo de pinguins do Polo Sul, recepcionando seres alienígenas visitantes, estes vestidos de acordo com o século em que vivemos.

Pensamos: quem arcou com o custo dessas vestimentas caríssimas e desatualizadas? Naturalmente são fruto dos impostos pagos pelos cidadãos portugueses.

Percebemos que nossos governantes ainda não se libertaram dos trajes utilizados pelos que governaram Portugal por época do fascismo salazarista. E, pelo que parece, nem das ideias.

Ora vejamos. Quando veio a São Paulo uma comitiva de secretários de Estado do atual governo PSD/CDS, nós lhes indagamos na reunião que se realizou na Portuguesa de Esportes sobre quais as medidas que o governo tem tomado com referência aos trabalhadores jovens que não conseguem emprego em Portugal.

A resposta dos senhores do poder ali reunidos veio de imediato “… se não conseguirem  emprego em Portugal, esses jovens que emigrem…”.

Ficamos perplexos, mas pensamos que se tratava talvez de uma opinião oriunda de cansaço de viagem dos senhores palestrantes.

No entanto, ao saber das declarações do Sr. Primeiro Ministro Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, líder do PSD, caímos na realidade quando ele propôs: “Os jovens portugueses desempregados procurem emprego no Brasil, em Angola etc…..”.

Caímos na realidade, ao descobrirmos concretamente que se trata de uma politica de Estado dos atuais governantes.

É fácil, para aqueles que possuem confortáveis empregos aconselhar os  jovens portugueses desempregados a procurarem emprego em outras plagas.

Pelo que se conclui, prevalece nos atuais governantes do PSD/CDS um espírito imperial do fascismo da época salazarista, como se Portugal ainda fosse o tutor de suas antigas colônias.

Aliás, a Emigração é um grande negócio para os governos incompetentes, pois não precisam criar meios que desenvolvam o país para o pleno emprego.

A saída do maior número possível de emigrantes é melhor para esses senhores, uma vez que representa menos custos para o Estado. Sobra mais dinheiro para negociatas e maus gastos públicos.

Os emigrantes, ao saírem de Portugal, constituem menos cidadãos para serem atendidos pela rede pública de ensino, pela rede pública hospitalar, menos portugueses trafegando nos transportes públicos, menos portugueses procurando apoio social, menos portugueses

comendo, menos pensões, menos e menos.

Esquecem-se os senhores do poder de que também são menos portugueses a produzir bens de consumo para a sociedade.

É bom lembrar que o atual Presidente da Republica, Prof. Cavaco e Silva, na período  que governou Portugal como Primeiro Ministro, representando o PSD, um milhão e duzentos mil cidadãos portugueses  abandonaram sua pátria.

Estranhamente fica cinicamente hoje declarando que sofre muito com as dificuldades dos portugueses.

Infelizmente temos uma certeza: aqueles que pagam a maior conta são sempre os emigrantes, que largam sua terra, sua família, seus amigos e suas lembranças.

Portugal possui uma população emigrada espalhada pelo mundo de quase cinco milhões de cidadãos, esse número representa aproximadamente metade da população continental. É sem dúvida a maior diáspora do mundo proporcional à população do país.

Não é motivo de orgulho mas sim de vergonha ter que procurar trabalho na terra dos outros em tão grande número.

Infelizmente mais uma vez os portugueses ingênuos colocam no poder um grupo de governantes incompetentes e submissos para gerir os negócios do Estado português. O atual governo, não tem por objetivo procurar melhorar as condições de remuneração, de trabalho, de produção industrial e agrícola, de desenvolvimento tecnológico e cientifico para o povo português. Querem reduzir os salários e as conquistas sociais e econômicas conseguidas principalmente através da Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974.

Pelo que se observa, Portugal só interessa para os estados lideres da União Europeia (Alemanha, Inglaterra e França) para fornecer mão de obra bem barata e em troca compramos seus produtos alimentícios e manufaturas. Não podemos esquecer no passado o tal financiamento dado pela U.E., a fundo perdido. Em troca, os governos portugueses abriram mão de algumas atividades produtivas, entre as quais podemos indicar a da frota pesqueira, que foi reduzida assim como a produção agropecuária.

Além desse quadro, ocorreram investimentos de capital português em outros países com a saída de milhares de milhões de euros com o consentimento dos governos.

De forma simplista, podemos afirmar que esse desequilíbrio nas relações de capital, produção e consumo levou à atual situação de crise pelo qual Portugal está passando pois esvaziou as suas reservas monetárias.

Nossos governantes estão levando nossa pátria a transformar-se numa pequena província europeia, vergando-se aos desatinos das ex- potências imperiais (Alemanha e França principalmente). É lamentável.

O que aumentou mais a nossa indignação foi o que ocorreu há poucos dias na “calada da noite”, ou seja, durante as festas de fim de ano. O governo aumentou astronomicamente o custo dos serviços consulares, alterando o valor dos emolumentos. Hoje, todo o serviço consular custa muito mais caro. É levar mais sacrifícios aos emigrantes, ao terem de desembolsar mais euros no pagamento dos serviços consulares.

Nosso querido poeta Luís Vaz de Camões certamente teria vergonha de viver nos dias de hoje.

 

Por Ildefonso Garcia
Presidente da diretoria do Centro Cultural 25 de Abril – São Paulo Brasil

 

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