São Sebastião: soluções conciliatórias

Em quase 45 anos de trabalho na área de comércio exterior, este articulista sempre ouviu que o Porto de São Sebastião, no Litoral Norte, haveria de se expandir a ponto de se rivalizar com o de Santos em pouco tempo. Decididamente, não foi assim ao longo deste quase meio século de atividades. Hoje, o porto público de São Sebastião continua com um berço de atracação, com capacidade apenas para um navio. Pouco cresceu.

Com muitos anos de atraso, finalmente, o governo do Estado decidiu, no início deste ano, que obras de ampliação deverão começar no segundo semestre de 2012, a fim de que o São Sebastião venha a oferecer alternativas para o translado de contêineres. Essas obras incluem construção de um novo píer para atracação de navios e a pavimentação de uma área de 200 mil metros quadrados para a movimentação de contêineres. 

O projeto prevê a ampliação para 12 berços, com profundidade variando entre 12 e 25 metros, além de berços para atracação de embarcações de apoio. Dessa maneira, segundo a avaliação de especialistas, o porto poderia expandir a recepção de navios, hoje em torno de 10 a 15 embarcações por mês, recebendo, inclusive, navios de 150 metros de comprimento e 150 mil toneladas de carga.

Mais: as obras podem triplicar a capacidade operativa do Porto de São Sebastião, que fechou 2010 com 664 mil toneladas de carga movimentada por 47 embarcações, aumento de 26% em comparação com 2009, segundo dados da Companhia Docas de São Sebastião. No entanto, essa movimentação ficou bem abaixo de sua capacidade, de 2 milhões de toneladas/ano.

Com a ampliação, essa movimentação poderá chegar a 27 milhões de toneladas/ano. Já o porto organizado movimentou 48 milhões de toneladas em 2010 e pode chegar a 100 milhões de toneladas/ano em dez anos. Por esse porto organizado, passam granéis sólidos, barrilha, sulfato, malte, cevada, veículos, cargas vivas, contêineres e carga geral.

O governo do Estado pretende investir mais de R$ 5 bilhões em obras que incluem ainda o processo de drenagem do fundo do porto, em fase de conclusão, o que deixará o local de atracação de navios com 12 metros de profundidade.

Contra essa ampliação estão várias organizações ambientalistas, que temem a degradação não só do meio ambiente como da zona urbana. É claro que o poder público deve ter preocupações ambientais – até porque São Sebastião não tem para onde crescer, a não ser em direção aos morros, que fazem parte da Mata Atlântica. Isso significa que é necessário encontrar saídas.

Uma delas é a construção de uma ferrovia que ligue o município ao Planalto, o que provocaria a retirada de carretas da rodovia Rio-Santos e da zona urbana. Sem essa ferrovia, a previsão é que mais de mil carretas venham a circular por hora nas imediações do cais, quando as obras de ampliação estiverem concluídas.

Como o Brasil não vive sob um regime político centralizado, que privilegia o crescimento econômico a qualquer custo, sem se importar com os danos ao meio ambiente e à saúde da população, é preciso discutir e encontrar soluções conciliatórias. Ainda bem que é assim.

Milton Lourenço
Presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).

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