Real Gabinete Português de Leitura: uma joia lusitana para o Brasil

Por Fernando Morgado

O que define uma nação não é seu território, mas sua cultura. Portugal é, portanto, muito maior do que a representação presente nos mapas. Seu idioma é falado por quase 300 milhões de pessoas em todos os quadrantes da Terra. Nesse sentido, os livros cumprem uma função primordial. Em suas páginas, eternizam-se as crenças, histórias, informações e tradições dos lusófonos.
Foi a transcendência dos livros que inspirou 43 portugueses residentes no Rio de Janeiro a criarem, em 1837, o Gabinete Português de Leitura, que, em 1906, recebeu de D. Carlos I o título de Real. A principal intenção desses pioneiros, comerciantes, em maioria, era elevar o nível cultural dos seus patrícios que, não raro, chegavam ao Brasil com pouca ou nenhuma instrução. Ao mesmo tempo, a instituição se transformaria em repositório daquilo que se escreve e publica em Portugal, preservando pelo menos parte do conhecimento acumulado pelo país, que, naquele tempo, vivia crises das mais diversas ordens e tinha seu futuro ameaçado.
A contribuição do Real Gabinete Português de Leitura para a cultura vai além dos livros, que podem ser consultados por qualquer pessoa. A sede da entidade encanta pela imponência e suntuosidade. É belíssima a visão que se tem do portão principal. Chamam atenção as grandes colunas de madeira trabalhadas à mão, as estantes repletas de raridades e a luz suave vinda da belíssima claraboia e do imenso lustre de metal. Cada detalhe evoca não apenas o universo literário, mas também as glórias de Portugal, algo próprio do estilo neomanuelino que define o projeto arquitetônico. Trata-se de uma das bibliotecas mais bonitas do mundo e de um dos pontos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro.
Mas o trabalho do Real Gabinete Português de Leitura não se resume a preservar e emprestar publicações. O centro de estudos da entidade promove congressos, conferências, cursos e palestras, além de construir parcerias com instituições culturais e educativas no Brasil e no exterior. Também edita a revista científica Convergência Lusíada, dedicada à divulgação da literatura e da cultura portuguesas no Brasil. No Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras, professores e pesquisadores dedicam-se a pensar a relação entre os dois países de forma crítica e interdisciplinar.
Durante a vigência das medidas de isolamento social provocadas pela pandemia do novo coronavírus, o Real Gabinete Português de Leitura encontra-se fechado para visitação. Tão logo este período passe, quem ama cultura deve conhecer pessoalmente essa biblioteca, joia lusitana que reluz no coração do Rio de Janeiro e representa a união de Brasil e Portugal através das palavras.

 

Por Fernando Morgado 
Consultor e palestrante. Professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso. Coordenador-adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Membro da Academy of Television Arts & Sciences, entidade realizadora dos prêmios Emmy. Possui livros lançados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito (5ª edição em 2017). Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. http://fernandomorgado.com

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