Progresso em inovação europeia é modelo que precisa ser trazido para o Brasil

Por Alexandre Pierro

No último mês de abril estive em uma viagem à Europa em nome de minha empresa, a PALAS – consultoria em gestão da qualidade e inovação. Meu intuito inicial era participar do processo de lançamento da certificação ISO 56.002, a norma certificável de inovação. Porém, o que vi nos países que visitei foi muito mais do que eu esperava. Vi que nosso país está muito atrás em comparação com o mundo, e não é a toa que estamos sofrendo para encontrar novos caminhos para o desenvolvimento.

O lado bom é que podemos imitar o que esta dando certo, e correr atrás do prejuízo, mas é preciso abrir a mente. Além de ter estado em Genebra, e me inteirado sobre a publicação, que deve ocorrer até o fim de maio desse ano, meu maior ganho foi justamente o contato com a inovação crescente nos países da União Europeia. São modelos que precisam ser estudados, entendidos e aplicados, pois somente vendo de perto a inovação sendo vivida, pude perceber o quanto o Brasil está atrasado, estagnado.

Em um congresso na ONU (Organização das Nações Unidas) havia uma discussão sobre a implementação de novos modelos de e-commerce na América Latina. Enquanto as marcas se atualizavam para oferecer mais a seus clientes, empresas galgável novos patamares de tecnologia, produção e serviços, em países como o Brasil falta ainda a infraestrutura básica para se quer trazer essas novidades para o mercado.

A maior parte do que foi proposto como melhoras para o e-commerce, por exemplo, demandavam uma velocidade de conexão de internet 5G, algo que não temos em solo brasileiro. Há problemas básicos que precisam ser resolvidos. É uma questão da base tecnológica necessária para que seja possível trazer novas ferramentas, e ai sim tornar as empresas brasileiras competitivas. Tanto indústria, serviços e comércio, quanto os consumidores, precisam estar conectados, partilhar a mesma base onde haja a possibilidade do consumo.

Muitas soluções que estão ligadas ao que se chama de Indústria 4.0, ou a Internet das Coisas, são impossíveis por causa de detalhes básicos como uma conexão de internet boa. Enquanto isso se torna realidade na Europa, aqui não temos meios de começar a pensar nessas ferramentas, que já abandonam o status de diferencial e passam a ser o básico competitivo de qualquer empresa.

Como uma empresa nacional, ou mesmo uma filial brasileira, pode lidar com esse cenário? Os prejuízos são imensos, pois impede expansão, não atende aos novos comportamentos de consumo, bloqueia o crescimento do turismo, dentre inúmeros outros freios econômicos e sociais. Aos poucos a inabilidade de lidar com o novo fecha as portas que já estavam abertas.

Para se ter uma ideia estamos atrás de países com Trindade e Tobago, que são ilhas minúsculas se comparadas ao Brasil, e tiveram sua independência há algo em torno de 60 anos. Não que um país não possa se desenvolver rápido, a vergonha aqui está no Brasil que com seus mais de 500 anos tem modelos de produção medievais, e pensamentos tão cheios de preconceito quanto.

Na própria sede da ISO, as discussões sobre impacto ambiental estão muito adiantadas, já que é preciso lidar com os poluentes, sem desacelerar o crescimento da indústria. Aqui no Brasil ainda brigamos por leis que sejam aplicadas para cumprir o básico. Há empresas que tentam mudar e são barradas por uma aplicação eficiente da legislação que poupa crimes ambientais de gigantes enquanto sufoca mudanças positivas.

Aqui nosso governo se preocupa com trivialidades, varre para debaixo do tapete o que é incômodo, reprime o futuro como se o progresso fosse ouvir seu esbravejar e recuar, ao invés de esmaga-lo com o peso da realidade. O povo acredita em delírios que não condizem com a realidade sob a proteção de notícias falsas, fanatismo político e delírios conspiracionistas.

Já passamos do tempo de tapar o Sol com a peneira, e enquanto outros países se alimentam da energia solar, nós nos escondemos sob guarda-sóis furados. É preciso seguir o exemplo de fora. Se preocupar com os problemas e trabalhar para resolvê-los.

A economia depende disso, assim como todo o sistema de produção nacional. É preciso uma aplicação severa de leis, mudanças drásticas de pensamento, e apoio do braço empresarial nacional. Não podemos mais viver em uma época onde desastres ambientais são deixados de lado após algumas semanas. Não podemos viver em um local onde a tecnologia é limitada por pura falta de visão, de infraestrutura. Temos consumidores para abraçar isso. É preciso mais boa vontade de mudar o modo retrógrado de se pensar.

Em Portugal, nação que basicamente deu vida ao Brasil, a inovação é algo palpável. A maior parte dos trabalhos mais ordinários é automatizado. Um país que produz apenas 25% do nosso PIB, e está na nossa frente disparado. Os portugueses aprenderam a pensar de maneira a trabalhar em uma realidade diferente.

Portugal estava em uma crise imensa há poucos anos, e eles resolveram realmente mudar seu modo de pensar. As oportunidades de mercado estavam expostas, como estão para nós. Mas enquanto ficarmos olhando para trás, buscando respostas onde já falhamos, com posturas de negação e ilusão, jamais sairemos do lugar.

Se há uma coisa que essa viagem me mostrou, foi que o Brasil está propositalmente se cegando para as oportunidades. É preciso se mexer. Inovar não é mais algo misterioso. Já está sendo feito, já está mudando o modo como se cresce, ganha dinheiro e vive. A verdade é que nosso país só não cresce por pura e simples arrogância de não olhar para frente.

 

Por Alexandre Pierro
Fundador da Palas, consultoria em gestão da qualidade e inovação, engenheiro mecânico pelo Instituto Mauá de Tecnologia e bacharel em física nuclear aplicada pela USP. É certificado na metodologia Six Sigma/ Black Belt, especialista e auditor líder em sistemas de gestão de normas ISO. É membro de grupos de estudos da ABNT, incluindo riscos, qualidade, ambiental e inovação. Atualmente, cursa MBA em inovação.

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