Parolismo Nacional

Tendo visitado casal amigo, que vive para as bandas da Maia, encontrei menina, sobrinha da dona da casa, que fora convidada a passar férias em Portugal.

A jovem nascera em França e ainda que seja filha de portugueses, considera-se parisiense, o que é natural, já que nasceu na Cidade da Luz.
Mas, o que é extraordinário é não conhecer a nossa língua e exprimir-se apenas em francês.
Interrogada porque não lhe ensinaram a língua dos progenitores, declarou que os pais não queriam que se soubesse que era portuguesa, para não sofrer zombetices na escola.
Que somos um país pobre e pequeno, todos sabemos, mas que os nossos compatriotas se envergonhem da nossa terra, quando estão fora da comunidade lusa, pelo menos em França, foi para mim novidade e triste novidade.
Também não admira que seja assim. Não há político que se preze, empresário, intelectual, jogador de futebol, de nacionalidade portuguesa, que não fale a língua onde temporariamente vive.
No final de 1987, António José Saraiva foi entrevistado por três estudantes universitários. Nessa curiosa entrevista, publicada no “ Público ”, a 02/Abril/90, declarou, a propósito dos portugueses que moram na Comunidade Europeia:
“ Os portugueses são acomodatícios. Perdem facilmente o sentimento. Por exemplo, os filhos dos portugueses em Paris quase todos decidem ser franceses. Uma coisa que a mim entristece. Um português acha sempre que o estrangeiro é melhor. Tem razão para achar quando olha para uns pais desenvolvido. Mas a gente vê um país como o país basco a lutar pela sua personalidade e percebe o que é o nacionalismo, o que é patriotismo. “
E referindo-se a Espanha afirma: “Um castelhano só fala castelhano em qualquer parte do mundo. A gente ouve, mesmo em Paris, um castelhano falar francês duma maneira que se percebe logo que é castelhano. O português, coitadinho, adapta-se, fala português pretendendo falar francês e quando chega vem cheio de “pierres”, “ à gouche”…
Já Eça criticava o nosso parolismo. A seu parecer devia-se falar mal o idioma estranho.
Mais de cem anos passaram sobre as palavras queirozianas e continuamos a ser os mesmos “coitadinhos”. Agora virados para a Inglaterra e América do Norte, mas com o mesmo servilismo, sempre a reconhecer o eterno complexo de inferioridade.
Sempre a imitar o que se faz e se diz lá fora. Sempre a bajular tudo e todo que não se exprima na nossa língua. Até os brasileiros, que sofrem o mesmo complexo, e não são capazes de visitar a Argentina sem falarem castelhano apalhaçado, ao visitarem Portugal, não deixam de empregar palavras – ao contrario dos portugueses, – que apenas se usam no seu país…e muitos têm dupla nacionalidade!…  Até eles se riem do nosso parolismo

Humberto Pinho da Silva

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