Onde se fala de Crítica, Prêmios e Júris

Dizia o nosso Cruz Malpique, homem de vasta cultura e ótimo observador dos comportamentos sociais, que não há, em Portugal, críticos honestos. Em crônica publicada no “Notícias de Guimarães”, de 04/10/91, o conhecido ensaísta asseverava: “ A crítica, entre nós, é a impressão escrita sobre os joelhos, com a pressa de quem vai salvar o pai da forca; escrita por amizade, ou por antipatia; a nem sim nem sopa; a de ajuste de contas (agora é que ele vai saber de que força é o filho de meu pai!); a de ciúmes recalcados…”

É do conhecimento geral que não basta capacidade de trabalho para fazer carreira na empresa, principalmente na pública. Todo o ambicioso recorre à política, que é generosa para os que curvam o espinhaço e bajulam deputados e ministros.Na literatura, como na vida, para ter sucesso é mister ser subserviente. Não há êxito sem talento, mas há talento sem êxito.

Sabe-se que ao atribuírem os prêmios, os júris raras vezes são imparciais.

A 29 de Maio de 1990 “ O Primeiro de Janeiro”, pela pena de Maria da Gloria Padrão, dizia que David Mourão-Ferreira ganhou o Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores de 1986, não pela qualidade do livro ( que certamente era excelente), mas pelo cargo público do escritor Pela mão de David Mourão-Ferreira passava os dinheiros da Gulbenklan ( David era o primeiro a não saber) – esclarece a articulista.

Também a 06/10/99, o matutino “ O Comércio do Porto” trazia a seguinte notícia baseada no diário sueco “Dagens Nyheter”: “ Uma firma de relações públicas fez, a pedido de autoridades portuguesas, uma “intensa” promoção do escritor português para que ele ganhasse o prêmio”.

“A firma de Estocolmo “ Jerry Bergstroem AB” foi encarregada em 1997, pelo Instituto de Comércio Externo Português (ICEP), de realizar uma “ Campanha promocional” a favor de José Saramago, que recebeu efetivamente, no ano seguinte, o 95º Nobel de Literatura, precisou a publicação.”

“ (…) Segundo o “DN”, a firma sueca também organizou em Setembro do mesmo ano um seminário numa grande livraria em Estocolmo, no qual José Saramago participou. Na mesma altura arranjou para os seus clientes “numerosas” entrevistas para jornais, rádios e televisões suecas. “ Portugal nunca teria ganho um Prêmio Nobel e uma parte da nossa missão consistiu em mudar este estado de coisas” disse ao jornal o responsável da empresa “ Jerry Bergstroem”.

“ Enquanto isso, o antigo secretário perpétuo da Real Academia Sueca, Sture Allen, refutou vivamente estes argumentos. “ Seria absurdo acreditar que estes “ lobbistas” pudessem influenciar a escolha da Academia, disse ao jornal.”

E agora, se me permitem, o parecer da escritora Augustina Bessa Luis, sobre a atribuição de um prêmio literário em Itália:Segundo o “CP” de 23/11/95, Augustina Bessa Luis “ que integrou o júri do importante Prémio Internacional de Literatura da União Latina, criticou ontem os critérios da atribuição do galardão.”

Em declarações em Roma, a escritora lamentou que o júri não tenha tempo suficiente para conhecer os autores propostos para o prêmio “como posso fazedor um juízo de valor sem conhecer o autor?” – questionou a escritora, defendendo que “ deviam dar tempo suficiente, de um ano para o outro, para o júri ler, pelo menos, um livro de cada autor, o que não foi o caso.”

Acrescentou ainda que os elementos do júri receberam alguns livros “ só um mês antes da reunião do júri.”

Esclareceu também que a portuguesa Lídia Jorge, um dos nomes analisados para atribuição do prêmio, parecia ser desconhecida para os italianos que faziam parte do júri.

Como se vê prêmios e sucesso não depende apenas do talento – sem ele é difícil ser conhecido, – mas da máquina publicitária.

Mas há quem ingenuamente pense que não, e corre à livraria para adquirir a obra premiada; e despreza, quantas vezes, o escritor de valor, que vive na mesma cidade e frequenta o mesmo bar, onde vai saborear o cafezinho.

 

Humberto Pinho da Silva

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