O último livro de Mário Soares – I

Li, final e completamente, as mais de quinhentas páginas da última obra de Mário Soares. Sem recuar no que referi por altura das primeiras cinquenta e oito páginas, a verdade é que este livro se constitui, para os mais velhos, num verdadeiro auxiliar de memória de quanto se passou desde a infância do antigo Presidente da República até aos nossos dias.
O livro, tal como disse, tem um interesse reduzido, mas do ponto de vista das revelações ainda desconhecidas. Em contrapartida, ele constitui-se numa singular súmula, mas muito completa, do que se passou em Portugal desde tempos muito longínquos. Por tudo isto, o livro tem uma dificuldade forte para ser abordado por jovens hoje na casa dos trinta anos, porque a dificuldade em situar o que ali é narrado, e de um modo crítico, é total. Mesmo um quarentão, terá dificuldade em poder criticar tudo o que se contém na obra, porque teria apenas treze anos ao tempo da Revolução de 25 de Abril.
Mas o livro mostra um facto inquestionável: Mário Soares, de muito longe, é a principal personalidade política da III República, nascida na sequência da revolução antes referida. Ao ler este livro, percebe-se que nem um milionário, se acaso o desejasse, poderia ter criado o leque de laços, de contactos, de amizades, e de todo o tipo, que Mário Soares conseguiu ao longo dos seus oitenta e sete anos de vida publicamente interventiva.
Embora não seja lá referido, e se acaso não erro, Mário Soares terá recebido, ao longo da sua vida, cerca de vinte e tal doutoramentos honoris causa, e por universidades as mais diversas e de todo o Mundo, ligadas a ambientes históricos os mais variados. Exerceu funções as mais distintas e ligadas a ambientes políticos, religiosos, sociais, culturais, por aí fora.
Não tenho hoje um ínfimo de dúvida de que, de parceria com José Saramago, e por razões distintas, Mário Soares é um dos dois portugueses mais conhecidos em todo o Mundo. Por via desta realidade, facilmente percetível, os dois acabaram por se tornar nas principais referências internacionais de Portugal. Dificilmente poderão ser igualados, para lá dos casos ligados ao futebol.
Mas a obra comporta, naturalmente, pontos de vista que podem merecer o desacordo de quem a ler. Desses pontos de vista, e até onde me parecer justificável, voltarei a escrever novos textos, de molde a salientar esses mesmos desacordos. Termino, em todo o caso, salientando a minha mais cabal concordância com a análise que faz sobre o estado do País, da Europa e do Mundo. Vivemos um patético tempo de perigo, que vai passando ao lado da atenção de uma enormíssima parte dos nossos concidadãos. Veremos aonde tudo isto nos vai levar, e se, desagradavelmente, virei a ter razão nas previsões que venho fazendo…

Hélio Bernardo Lopes
De Portugal
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