O que esperar de 2011

O Brasil começa a segunda década do século XXI com um desafio: não pode desperdiçar o momento histórico especial que vive e, a exemplo da China, precisa investir tudo o que puder no incremento de sua infraestrutura. Só assim poderá continuar a crescer nas próximas décadas e alcançar níveis semelhantes aos dos países desenvolvidos. 

Dessa maneira, até 2022, terá de investir pelo menos R$ 2 trilhões em obras de Norte a Sul, incluindo aportes públicos e privados, o que significará aplicar 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura, dobrando o volume que investe hoje. É o que mostra estudo preparado pela consultoria LCA, a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com o objetivo de mapear oportunidades e gargalos em todas as áreas da infraestrutura. 

Em outras palavras: o Brasil de 2020 e 2030 vai depender muito das escolhas que serão feitas pelo novo governo nestes próximos quatro anos. O que equivale a dizer que o novo governo começa com um dilema: será o Brasil dentro de duas décadas uma economia industrial avançada ou uma economia primária exportadora?  

É verdade que, num país tão imenso, não há nada que impeça que venha a ser as duas coisas ao mesmo tempo. Assim, o Brasil poderá se tornar um grande exportador de petróleo, minério de ferro e soja, sem deixar de apresentar um parque industrial e exportador moderno e dinâmico. Tudo vai depender da capacidade e inventividade de seus administradores públicos e de sua classe empresarial. 

Portanto, o que se espera desde já é que o novo governo continue a investir, sobretudo, nos acessos rodoviários e ferroviários, além de estimular a criação de terminais para aumentar a capacidade de movimentação e armazenagem. Sem se esquecer de expandir a capacidade dos maiores corredores de carga aérea: Guarulhos, Viracopos e Manaus. Ao mesmo tempo, será necessário reduzir não só a burocracia aduaneira com a ajuda da tecnologia da informação como aumentar a produtividade e cortar custos das operações portuárias. 

Quem trabalha no dia a dia do comércio exterior sabe muito bem que, apesar do ufanismo que marcou os pronunciamentos das autoridades do último governo, o País, na última década, deixou de arrecadar um grande volume de tributos e de movimentar ainda mais a sua economia por problemas de infraestrutura.  

Segundo dados do Centro Nacional de Navegação (Centronave), entidade que reúne armadores responsáveis por 70% do comércio exterior marítimo, houve um número excessivo de cancelamento de escalas de navios em portos brasileiros em 2010. Foram mais de três mil dias à espera de atracação e embarque e desembarque, levando-se em conta o número de navios que escalaram e o tempo que gastaram para realizar a operação. 

Isso provocou filas de caminhões em rodovias e nos acessos portuários e prejuízos que foram estendidos indistintamente a todas as empresas que necessitam de serviços portuários mais ágeis e a custos menores. Essa redução de custos nos portos, obviamente, passa não só por vias de acesso menos obstruídas como também por maior oferta de serviços e competição entre os terminais. 

Para tanto, o novo governo não poderá fugir à responsabilidade de estabelecer um ambiente mais favorável aos empreendedores, o que significa reduzir uma carga tributária que já consome 37% de todas as riquezas do País e diminuir uma burocracia que alcança níveis quatro vezes superiores à média internacional. 

Só dessa maneira será possível atrair mais capital do exterior e depender menos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que, ao que parece, está perto de atingir seu limite de financiamento. Por seu lado, há muitos empresários que precisam aprender a viver menos à sombra frondosa do Estado. 

Milton LourençoPresidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).

 

 

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