Meditar a Sabedoria

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Sendo o objetivo deste trabalho refletir um pouco sobre o que é, afinal, a Filosofia, certamente, qual a sua situação neste início de século, não cabe no seu âmbito académico e histórico, recuar no tempo, para inventariar as inúmeras e possíveis definições.

Em todo o caso, não resistimos a transcrever algumas passagens da idade moderna aos nossos dias e, com esta metodologia, é importante destacar o que pensavam alguns responsáveis da época, começando primeiro por evidenciar Pinharanda Gomes, na apresentação que faz, por exemplo, à obra de Silvestre Pinheiro Ferreira, (1769-1846) quando afirma: «De verdade, uma nação só é autónoma e livre quando se garante a liberdade, a propriedade de pensamento e de movimento. Nenhuma ficção política ocultará a verdade da subserviência filosófica, se esta for tão real como tem sido, desde o século XVIII (no caso português). Ainda que possamos dispor de poder económico mundial, não seremos dignos, se não garantirmos, antes disso, a autonomia de uma própria e inalterável felicidade filosófica.» (FERREIRA, 1994:23).

Possivelmente, aceitaremos, sem grande contestação, que a Filosofia, desde há mais de vinte e cinco séculos, constitui uma dimensão fundamental e exclusiva do ser humano. Também é sabido que, principalmente, a partir dos primeiros filósofos naturalistas, críticos, pré-socráticos, socráticos, platónicos, aristotélicos, até aos dias de hoje, todos se têm preocupado com aspetos que a ciência não abordara, e outros fenómenos que ainda não consegue explicar.

Quem poderá garantir, se alguma vez conseguirá, de forma objetiva, rigorosa e provada, esclarecer-nos acerca das questões radicais que desde sempre têm atormentado o homem? A Filosofia poderá não nos informar, globalmente, sobre tais questões especiais, mas, pelo menos, assume, incessantemente, a busca para uma explicação, recuando sempre e em primeira abordagem às causas mais remotas e transcendentais, mesmo continuando a ser acusada de nada resolver.

Se analisarmos o Manual de Filosofia do “Curso Elementar de Philosophia”, elaborado por António Ribeiro da Costa, segundo o programa oficial para o ensino nos Lyceus do Reino, em 1866, poder-se-iam formular algumas interrogações, de cujas respostas afirmativas, resultava, à época, uma definição de Filosofia.

Então convide-se o autor para se pronunciar: «Quem sou eu? Qual é a minha origem, e o porquê da minha existência? Onde está o meu fim, ou o para quê da minha existência? A Filosofia é a ciência que se ocupa de resolver estes três problemas; solução que é o ideal a que o homem aspira e do qual se aproxima incessantemente, sem poder jamais chegar à solução completa. Deste modo a Filosofia pode definir-se a ciência que procura expor a natureza, atributos e faculdades das substâncias espirituais, consideradas em si mesmas, e nas suas relações gerais com as outras substâncias.» (COSTA, 1866:7).

 

Bibliografia

COSTA, A. R. da, (1866). Curso Elementar de Philosophia. 2a Ed. Porto: Typographia de António J. S. Teixeira.

­FERREIRA, Silvestre Pinheiro (1994) Categorias de Aristóteles. Tradução Silvestre Pinheiro Ferreira, apresentação e notas de Pinharanda Gomes, 3ª Ed., Lisboa: Guimarães Editores.

 

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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