Integração Pelo Trabalho

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Para um projeto de inclusão, com êxito, existem, entre outros, pelo menos, dois instrumentos facilitadores, pelos quais a esmagadora maioria dos cidadãos se esforça por alcançar: o trabalho ou emprego, se possível estável, digno, material e socialmente compensador, porque a precariedade no emprego constitui uma chaga social que urge erradicar da sociedade; e “Prudência nas Relações Pessoais” que permite desenvolver relacionamentos assertivos, que conduzem ao respeito, à clarificação e honestidade intelectual, entre as partes dialogantes.

A própria demografia nacional, é prejudicada com a situação de desemprego, na medida em que os jovens receiam constituir família porque, em bom rigor, não podem esperar qualquer espécie de segurança. Ter filhos, torna-se, ainda mais complicado, e poderá ser um risco que, mais tarde, possivelmente, afetará uma ou mais crianças.

Preparar as novas gerações para uma atividade profissional, proporcionar novas oportunidades para todos os que, por qualquer motivo, perderam o emprego, ou ainda para aqueles que, não obstante terem atingido uma situação de reforma, querem continuar a trabalhar, deve ser uma preocupação, não só dos interessados, como também das instâncias oficiais competentes, no sentido de facultarem aos cidadãos a formação profissional integral, que lhes permita encarar o futuro com segurança, entusiasmo e desempenharem, produtivamente, uma determinada profissão na sociedade.

Ao inserir-se no mundo do trabalho, o ser humano foge a outras situações, nomeadamente, as da ociosidade, do vício que, mais tarde ou mais cedo, pode conduzir à marginalização e resultante exclusão, para além de outras consequências de ordem econômico-financeira.

O ser humano é muito mais do que um outro animal qualquer, na medida em que, não se conformando com a natureza animal que, fisicamente, o integra e também o envolve, procura, através de uma praxis, concertando teorias e práticas, numa dialética sempre em tensão, mas progressiva, vencer as dificuldades, autoproduzindo-se e relacionando-se, certamente, com a prudência necessária.

Pelo trabalho o indivíduo humano se distingue, se eleva e se dignifica, atingindo vários estatutos, que ele próprio também inventa e aplica, ao ponto de se tornar elemento fundamental na organização parcial da natureza e do mundo que o rodeia.

Na verdade: «(…) pelo trabalho o homem aprende a conhecer as próprias forças e limitações, desenvolve a inteligência, as habilidades, impõe-se uma disciplina, relaciona-se com os companheiros e vive os afectos de toda a relação. Nesse sentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois ele se modifica e se constrói a partir da sua ação. E nesse movimento tece a sua liberdade.» (ARANHA, 1996:17).

A sensibilização para hábitos de trabalho, deve constar dos programas educativos e de formação profissional, designadamente, na componente sócio-cultural: Cidadania e Empregabilidade, Cidadania e Profissionalidade, Mundo Actual, Integração, Desenvolvimento Pessoal e Social, Ética e Deontologia, Religião, Psicologia, Sociologia, História, Relações Interpessoais, Língua materna, Direito, e outras disciplinas de sustentação de princípios, valores, sentimentos e conhecimentos necessários, também, à formação da personalidade, e do cidadão responsável.

O trabalho é um valor, tomado aqui o conceito de valor como sendo: «Tendência natural do homem. Valor é interesse, e tudo quanto satisfaça uma necessidade profunda, quer se trate de objecto ou de ideia, de pessoa ou de realização. É o sistema de valores, isto é, os princípios e os ideais que governam no jovem de carácter, seu estilo de vida, bem como a sua vida emocional.» (SCHMIDT, 1967:202).

Incutir na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e, se necessário, no idoso, o conceito de trabalho como um valor ideal, que dignifica o ser humano, elevando-o à condição da cidadania plena, com solidariedade, amizade, lealdade, liberdade, verdade, reciprocidade, competência, responsabilidade, entre outros valores, constitui, indubitavelmente, um instrumento que, rapidamente, retira a pessoa da exclusão, e/ou a mantém firme e respeitada na sociedade inclusiva.

Bibliografia

ARANHA, Maria Lúcia Arruda, (1996). Filosofia da Educação. 2a Ed. São Paulo: Moderna.

SCHMIDT, Maria Junqueira, (1967). Educar para a Responsabilidade, 4ª edição, Rio de Janeiro RJ: Livraria Agir Editora.

 

 

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

NALAP.ORG

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